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Danilo revela sonho de fazer faculdade e diz que Flamengo é ‘presente da vida’

Em entrevista, atleta do clube rubro-negro conta de seus projetos além do esporte, do cenário do futebol brasileiro e de como enxerga seu papel social

Por Lucas Mathias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 31 mar 2025, 17h38

Um dos líderes da Seleção Brasileira aos 33 anos, o lateral — ou, mais recentemente, zagueiro — Danilo Luiz foi contratado pelo Flamengo no fim de janeiro deste ano. A chegada ao clube rubro-negro representou uma virada em sua carreira: depois de 13 temporadas atuando na Europa, o jogador decidiu ouvir a voz do coração e realizar o “sonho de criança”. 

A decisão de retornar ao seu país, contudo, também passa por sua trajetória longe dos gramados. Estudioso, Danilo entende que suas passagens por Porto, Real Madrid, Manchester City e Juventus, depois de vencer a Copa Libertadores com o Santos, em 2011, lhe credenciam como uma voz importante também no campo social. 

Afeito à comunicação, o atleta contou a VEJA dos projetos que toca além do esporte, do que pensa em fazer quando se aposentar, do sonho em se formar na universidade e de como enxerga o estereótipo do jogador de futebol. 

Depois de 16 anos de carreira, com passagens por clubes gigantes, havia propostas de outros clubes na Europa, mas decidiu voltar para o Brasil. Por que? Precisava jogar no Flamengo e sentir todo esse carinho, viver o Flamengo, com tudo aquilo que o clube engloba. Claro que pesam a estrutura, a ideia de jogo e o nível do elenco, mas voltei para o Flamengo porque eu sou flamenguista. Era um sonho de criança, uma obsessão, e entendi que a chance que tive era um presente da vida. Mas também acredito que posso contribuir muito com minha experiência, inclusive fora de campo.

Sua volta segue um movimento que tem se repetido cada vez mais, de jogadores que estão na Europa e decidem vir ao Brasil. Por que isso acontece? É um reflexo da reestruturação dos clubes. Dificilmente jogadores de nível mundial viriam jogar no Brasil se não existisse uma estrutura física interessante, com profissionais de qualidade. Temos um produto muito forte na mão, que é o Campeonato Brasileiro. Mas acho que ainda falta seriedade no cumprimento das regras, como acontece na discussão entre o gramado natural e o sintético. Penso que isso não tem a ver com a questão financeira. Na Premier League, na Inglaterra, ou você tem o gramado em condições mínimas, ou não há jogo. O clube que não cumpre perde ponto ou aquele estádio não passa na vistoria. Temos que passar para um próximo estágio, nos reunirmos com a CBF para deixar claro que precisamos de bons gramados. Encontrar uma solução para isso. Esse é o caminho. 

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Na maior parte da carreira, jogou como lateral, mas no Flamengo foi contratado como zagueiro. Sempre se viu na posição? Foi um caminho natural. Primeiro, porque na Juventus eu já jogava há bastante tempo assim, as pessoas só não tem muito essa noção, né? Jogava assim também no Manchester City muitas vezes. E depois que eu tive a experiência com o Pep Guardiola, que me fez uma lavagem cerebral no quesito futebol, passei a entender o jogo de uma maneira muito diferente, e a conseguir ser muito influente no jogo, desde que a bola passasse pelos meus pés muitas vezes. E, como lateral, às vezes você fica um pouco dependente dos companheiros, né? E só depois entra no jogo. Como defensor central, a maioria das vezes é você quem inicia as ações. Tem que entender para onde tem que ir, de onde está vindo a pressão, onde há superioridade, quando tem que saltar linhas… Isso ajuda muito no resultado final, para fazer a bola chegar perto do gol com qualidade o mais rápido possível. Então, passei a gostar muito dessa função, foi um caminho meio natural, falando técnica e taticamente.

O jogador Danilo, contratado pelo Flamengo depois de 13 temporadas na Europa
O jogador Danilo, contratado pelo Flamengo depois de 13 temporadas na Europa (Divulgação/Flamengo/.)

Pretende seguir no esporte quando se aposentar? Neste momento, não penso em continuar no futebol. Se isso acontecer, precisaria ser treinador, estar no campo. Gosto do jogo, dos movimentos táticos e da estratégia. A parte extracampo não me apaixona muito… Mas se eu tivesse que dar uma resposta agora, diria que gosto muito da comunicação, de conversar com as pessoas, de entretenimento, de contar histórias. Talvez ter um programa na TV, sair Brasil afora entrevistando pessoas. E tenho o sonho de cursar Psicologia na universidade. Talvez não para atender em uma clínica, mas para usar junto à comunicação e ajudar as pessoas no meu entorno.

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Há algo que te incomoda no futebol? Uma coisa que me deixa, de certa forma, frustrado, é que existe um estereótipo na imagem do atleta de futebol, muitas vezes ajudado por nós mesmos, que não gosto. E entendo que é meu trabalho tentar mudar isso. Um trabalho de formiguinha, passo a passo. Demonstrar para as novas gerações que o jogador bem-sucedido não precisa ser aquele que está nos sites de fofoca, em fotos com carrões ou no centro das polêmicas, mas que existe o atleta com uma carreira de sucesso que vai para outras vertentes. Não acho que tem que ser super certinho, cada um vive da maneira que quiser. Despertei para isso com uns 23 anos. Me veio uma preocupação muito grande de que queria deixar algo para o meu filho, para o mundo, não só voltar para casa e jogar videogame. Comecei a ler mais e depois é um caminho sem volta. A gente perde muita oportunidade de adquirir conhecimento, porque o futebol uma hora acaba. É uma mensagem que gostaria de passar.

Como é sua relação com a leitura, tem algum livro ou filme favorito? Comecei lendo Augusto Cury, gostava muito. Era um livro bem interessante, que prendia a minha atenção, demorava bastante pra ler e tal, mas ia fazendo. Há momentos e momentos, em determinado momento da vida, você tem um livro predileto, um livro que te tocou mais, daqui a pouco já é outro, sabe? Tem um filme que gosto muito, “À procura da felicidade”, que tem um momento épico, que é quando ele consegue um emprego, sabe? O (personagem interpretado pelo ator) Will Smith, eu sou muito fã dele. Quando ele consegue um emprego, vai ali no meio da multidão e dá uma comemorada. Sou muito assim, sabe? Não sou efusivo para comemorar quando eu tenho minhas conquistas, mas, por dentro eu fico efusivo, assim, sabe? Super maneiro. E tem um outro, “A Volta do Todo Poderoso”. No filme, Deus queria que ele construísse uma arca, mas era muito simbólico. Não era a arca, mas, de certa forma, para ele, diariamente, construir a arca dele, né? Uma atitude real de carinho e amor que é muito, é muito forte. Tem também um livro que li há pouco tempo, que se chama “Noocídio”, que fala sobre reiniciar a mente e começar tudo de novo. Às vezes, a gente vai vivendo de uma maneira automática e você fala: ‘cara, é assim mesmo que eu queria viver? É isso mesmo que eu queria fazer?’ Esse livro fez muito sentido pra mim no momento em que eu li, é muito forte nas minhas decisões, nos caminhos que eu tomo.

Pensa em deixar algum legado? Passei por um momento de muito desânimo durante a pandemia, em 2020. Tentava manter minha rotina, e me sentia ainda pior com o tanto de notícias ruins que lia. Senti que precisava contar histórias legais, que me fizessem ver que o mundo tinha esperança. Foi quando nasceu uma das minhas iniciativas, a Voz Futura, uma plataforma que se divide entre o entretenimento e a educação, que tenho com o Pedro Pirim e o Felipe Cantieri. Gosto muito de escrever textos, reflexões. Uma das primeiras entrevistas que fiz foi com um senhor que tem ELA (esclerose lateral amiotrófica), um dos que têm a doença há mais tempo no Brasil. Ele me disse que o que mais amava era viver e aquilo me tocou, mostrou que eu estava no caminho certo. A gente sente que a gente está fazendo algo engrandecedor para o mundo, para as pessoas, e isso é maravilhoso. Também temos o projeto Futuro Redondo, com o Rodrigo Coimbra, que é um grande amigo. Esse projeto já atende quase 500 crianças em Minas Gerais. Com futebol, mas também com acompanhamento psicológico, dentário e exames médicos, para ajudar jovens e seus familiares.  

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O jogador Danilo, contratado pelo Flamengo depois de 13 temporadas na Europa
O jogador Danilo, contratado pelo Flamengo depois de 13 temporadas na Europa (Divulgação/.)

Gosta mais de tocar seus projetos ou de jogar bola, do futebol? Assiste aos jogos? Sou viciado em futebol, viciado. Meu pai é, eu costumo dizer, aquele ex-atleta amador profissional, sabe? Vai assistir qualquer jogo do sub 13 feminino, da série D, repetido… Qualquer coisa. E peguei muito essa paixão dele, cresci vendo ele jogar, indo pros campos com ele, e sou viciado também, assisto tudo. Sou viciado no jogo. Sendo sincero, hoje em dia, mantenho a minha preparação em casa, mas não faço mais com tanto prazer. Agora, o jogo, a leitura do jogo, o entendimento, o momento da adrenalina, a torcida, a incerteza, se vence, se perde, a pressão, aquilo ali eu sou viciado. Essa adrenalina eu sou realmente viciado, me faz muita falta. 

Há uma entrevista em italiano em que aborda o combate ao racismo. É uma bandeira que pretende levantar aqui? Foi um podcast bem bacana que participei na Itália, em parceria com a Juventus. Se a gente fala de preconceito racial no Brasil, na Europa, então, é uma coisa alarmante. A gente vê vários jogadores, como o Vinicius Jr., sofrendo. E na Itália, que é um país que tem muitos problemas com racismo, ver esse tema discutido dentro de um clube tão tradicionalmente italiano como a Juventus, pra mim foi uma vitória e uma grande oportunidade de representar os atletas negros, principalmente. E falar com alguma propriedade, porque muitas vezes a gente fala de forma superficial, e se abstém até um pouco de falar do tema, porque realmente é difícil, não é um tema fácil de tratar. A gente fica muito exposto à opinião de todo mundo, ao julgamento de todo mundo, e eu entendo que não é fácil. Entendo que a minha volta invariavelmente vai pra esse caminho de lidar com esse tipo de tema. Porque as pessoas que nos admiram, principalmente os jovens, precisam da gente para essa luta, esperam um posicionamento. Acho que essa minha volta tem muito disso também.

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