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CBF: Para que tudo continue igual, é necessário que tudo mude

Troca de cadeiras no comando da entidade esconde uma estratégia política muito antiga

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 Maio 2025, 14h30

Em O Leopardo, clássico romance de Giuseppe Tommasi di Lampedusa, o rebelde Tancredi Falconeri, sobrinho favorito de Don Fabrizio Corbera, príncipe de Salina, diz uma frase que resume a ironia da situação enfrentada pela elite no Reino das Duas Sicílias, no fim do século XIX: “Se queremos que tudo permaneça igual, tudo deve mudar“. Transportada ao cenário do futebol brasileiro, o que acontece na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é quase a mesma coisa. Expurga-se alguém em que se colou o rótulo de mau gestor, gastador e corrupto para colocar no lugar outro personagem cujo passado familiar no esporte não inspira tanta confiança. O futebol, no meio disso tudo, é mero detalhe.

Portanto, trocar Ednaldo Rodrigues, que recentemente desistiu de pleitear a permanência como presidente da CBF, por Samir Xaud, futuro ex-vice-presidente da Federação Roraimense de Futebol, que surge como preferido de grande parte das outras federações estaduais, parece equivaler a mudar tudo para que tudo permaneça como está. Basta buscar informações sobre o longo e duradouro domínio dos Xaud na FRF. Por décadas, a entidade tem sido liderada por membros desta família, tornando-se um caso singular em um estado que, historicamente, enfrenta desafios para ganhar projeção nacional no esporte.

A figura central dessa história é José Gama Xaud, 80 anos, conhecido no meio esportivo como Zeca Xaud. Descrito como um dos presidentes de federações estaduais do futebol mais antigos e longevos do Brasil, ele assumiu o comando da FRF pela primeira vez em 1975.  Depois, a retomou nos anos 1980, e está no cargo de forma ininterrupta desde 1983. Foi sob sua liderança que o futebol de Roraima alcançou um marco importante: a profissionalização em 1995. No entanto, foi a mais tardia do país, um fato que reflete bastante a situação do futebol no estado. Ou seja, praticamente inexistente.

O Campeonato Roraimense, administrado pela FRF, é nacionalmente conhecido por sua qualidade técnica limitada e por contar sempre com poucos clubes, apenas dez no momento, tendo a primeira edição profissional contado com apenas três participantes. Ao longo das décadas, Zeca Xaud alternou a presidência da FRF com outras personalidades do esporte roraimense. Entre os nomes que presidiram a entidade, estão José Magalhães Duarte, Luis Hitler de Lucena, Nelson Orofino, Alci da Rocha, Rubens da Silva Bento e Clóvis Rates.

Zeca Xaud
Zeca Xaud (Ivonisio Lacerda Júnior/ge.globo//)
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Em 15 de janeiro, Samir Xaud, filho de Zeca Xaud, foi eleito o novo presidente da FRF também como candidato único. Com 40 anos na data da eleição, Samir, que é médico infectologista com especialização em medicina esportiva e empresário, deveria assumir a entidade para o quadriênio 2027-2031, sucedendo formalmente seu pai. No entanto isso não deve acontecer, em razão da eleição para a presidência da CBF.

Samir Xaud tem uma ligação anterior com o futebol, tendo sido goleiro profissional do Atlético Roraima no início dos anos 2000. Após parar de jogar para focar nos estudos, ele retornou ao cenário esportivo prestando serviços médicos a clubes locais nos últimos cinco anos, com destaque para o São Raimundo em competições nacionais.

Em publicação nas redes sociais na sexta-feira, 16, um dia antes do edital da eleição da CBF ser divulgado, a FRF – sem anunciá-lo como candidato ao pleito – enalteceu o dirigente por fazer “uma verdadeira revolução no futebol local, elevando Roraima a patamares jamais alcançados em termos de organização, visibilidade e paixão pelo esporte”.

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Eleição

As 27 federações e os 40 clubes das duas principais divisões do Brasileirão Masculino têm direito a voto na eleição. Os sufrágios das entidades estaduais valem mais (peso três). Os dos times da Série A têm peso dois. Os da Série B, peso um. Ter ao menos 23 das 27 federações ao lado já bastaria para um candidato vencer, mesmo que os demais votantes optassem por outro concorrente. O registro da chapa de Xaud foi subscrita por 25 federações, com exceção de SP e MT, eliminando chances de concorrência. Dez clubes (Amazonas, Botafogo, CRB, Criciúma, Grêmio, Palmeiras, Paysandu, Remo, Vasco e Volta Redonda) também apoiaram Xaud.

Entre os oito candidatos à vice-presidência da CBF, cinco mandatários são de federações:

Ednailson Leite Rozenha (Amazonas),
José Vanildo da Silva (Rio Grande do Norte),
Michelle Ramalho Cardoso (Paraíba),
Ricardo Augusto Lobo Cluck Paul (Pará)
Rubens Renato Angelotti (Santa Catarina).

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Os demais são Flávio Diz Zveiter, ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD); Gustavo Dias Henrique, ex-diretor de Relações Institucionais da entidade; e Fernando José Macieira Sarney, escolhido como interventor da confederação depois do afastamento do presidente Ednaldo Rodrigues, na quinta-feira 15.

A votação está marcada para o dia 25 de maio, em Assembleia Geral Eleitoral na sede da CBF no Rio de Janeiro. No dia seguinte, o novo técnico da seleção masculina de futebol, Carlo Ancelotti fará sua primeira convocação como treinador da canarinho.

(Com Agência Brasil)

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