Abuso sexual, drogas e crimes; o drama de ex-craque da Inglaterra
Meia, que foi tratado como grande promessa da Premier League, contou sobre as batalhas na infância
Em 2018, aos 22 anos, Dele Ali era o astro do Tottenham e estava na Copa da Rússia, apontado como um das das grandes revelações da seleção inglesa, quarta colocada na competição. Cinco anos depois, o meia acaba de voltar ao Everton, após mais uma temporada decepcionante, dessa vez, em um empréstimo ao Besiktas, da Turquia. A queda de rendimento nos últimos anos sempre gerou questionamentos sobre a real qualidade do atleta, ou até mesmo ao seu comportamento dentro e fora do campo.
Mas em uma entrevista com o ex-jogador e lenda do Manchester United, Gary Neville, no canal “The Overlap“, o jogador revelou sobre os dramas sofridos no início da vida que, provavelmente, trazem impactos em sua carreira através dos anos.
“Quando tinha seis anos fui abusado por um amigo da minha mãe que parava muito lá em casa, porque a minha mãe era alcoólatra”, revelou o jogador. “Não falo muito da minha infância, mas houve alguns acontecimentos que permitem entender algumas coisas.”
Em seguida ao trauma imenso vivido dentro da própria casa, Ali contou que, após uma viagem forçada para a África, teve seu primeiro contato com o vício e o crime. “Aos sete anos, comecei a fumar e aos 8 já vendia drogas. Uma pessoa mais velha me disse que a polícia não pararia uma criança em uma bicicleta, por isso andava com uma bola e com as drogas. Aos 11, um traficante me pendurou em uma ponte e me ameaçou.”
A vida só mudou aos 12 anos, quando foi adotado por outra família, onde encontrou afeto e apoio. “Eram fantásticos, me ajudaram muito. Era complicado me abrir, porque sentia que poderia querer se livrar de mim. Por isso, tentei ser o melhor filho possível. E então, aos 16, comecei a jogar futebol profissionalmente”, contou.
O sucesso apareceu dentro de campo. Em 2015, aos 19 anos, saiu do modesto Milton Keynes, time da sua cidade, para o poderoso Tottenham. No mesmo ano, foi lembrado em convocação para o “English Team”. No time londrino, sob o comando do argentino Mauricio Pochettino, Dele Ali foi eleito a revelação da Premier League. Com gols e assistências, tornou-se referência da equipe no setor ofensivo. Em 2018, a glória, ao ser convocado por Gary Southgate, para o Mundial da Rússia. Mas pouco depois da Copa, os problemas voltaram. Ao ser flagrado em um casino, em 2019, as portas da seleção se fecharam. O rendimento em campo também caiu bruscamente e o jogador passou a frequentar o banco do Tottenham, já sob o comando de José Mourinho, com quem não se deu bem. O desânimo tomou conta do atleta.
“Uma manhã acordei e tinha que ir treinar. Lembro de olhar para o espelho e de me perguntar se podia me aposentar. Aos 24 anos. Deixar de fazer o que gostava. Aquilo partiu o meu coração”, afirmou o atleta, que no ano passado foi contratado pelo Everton, mas pouco produziu.
Na Turquia, na última temporada, lesões trouxeram ainda mais desafios. Abalado por não poder jogar, Ali se tornou viciado em remédios para dormir. Com o fim do contrato, voltou à Inglaterra ainda contundido. A previsão de uma cirurgia no quadril acarretou abuso nos remédios em conjunto com álcool. Foi a gota d’água para o jogador. Na entrevista, ele revelou que se internou em uma clínica de reabilitação para tratar a adicção e cuidar dos traumas do passado.
Aos 27 anos, Dele Ali disse viver bom momento, pronto para buscar novo espaço nos gramados. Após as revelações, o jogador foi apoiado por jogadores, ex-jogadores e clubes da Premier League.