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A queda do craque: Neymar fecha 2023 de modo melancólico

Tomara que ele volte, e volte bem — e tudo o que aqui vai escrito seja jogado fora

Por Fábio Altman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 dez 2023, 08h06 - Publicado em 24 dez 2023, 08h00

Existe um jeito de medir o tamanho histórico de grandes jogadores brasileiros — e ele bebe do que há de mais agradável na paixão pelo futebol, a memória que não tem vergonha em distorcer um tantinho da realidade. Vamos lá, é assim a brincadeira: lembre um, dois momentos dos craques com a camisa amarela da seleção. De Pelé, o Rei, nem mesmo é preciso puxar pelos gols impossíveis — há quem fique com a cabeçada contra Gordon Banks, que não entrou, ou aquele balé diante do goleiro uruguaio Mazurkiewicz, que também terminou com a bola pela linha de fundo. Zico? Boa parte vai ficar com o pênalti desperdiçado contra a França, em 1986 — mas que tal o golaço de voleio contra a Nova Zelândia, em 1982? Romário tem uma Copa inteira, a de 1994, para chamar de sua. Ronaldo Fenômeno tem a dobradinha de gols na final contra a Alemanha, em 2002. Ronaldinho Gaúcho tem aquela bola voadora a encobrir David Seaman, da Inglaterra.

E Neymar? Neymar, Neymar… Com boa vontade dá para chegar no segundo gol, de canhota, na final da Copa das Confederações, em 2013. Quem sabe o inútil tento contra a Croácia, no Catar. É muito pouco. Com a amarelinha — a régua aqui escolhida —, o craque que nasceu para ser Pelé e nunca chegou lá, teve desempenho muito abaixo do que sempre se esperou. Ele não passa pelo teste. Neymar talvez tenha desperdiçado uma carreira que poderia ser inigualável. Preferiu a ribalta das redes sociais, a lealdade com os parças e as confusões em série a todo o resto. Fez escolhas erradas, e agora anda no ostracismo da Arábia Saudita. É um tremendo jogador, não há dúvida. Mas ele precisa ser reinventado. Em 2023, infelizmente, fechou o ano de modo amargo. Rompeu o ligamento cruzado anterior e o menisco do joelho esquerdo na derrota diante do Uruguai — lesões que devem tirá-lo dos gramados por mais de seis meses. É o melancólico retrato de uma carreira já mais para o fim do que para o começo, aos 31 anos de idade, e nessa altura a recuperação é sempre mais difícil. Ronaldo, quando estourou a patela, tinha 23 anos. Retornou, brilhou, venceu a Copa em 2002. Tomara que Neymar volte, e volte bem — e tudo o que aqui vai escrito seja jogado fora.

Publicado em VEJA de 22 de dezembro de 2023, edição nº 2873

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