Com mais de 30.000 mortes por ano causadas por armas de fogo; os EUA lideram o ranking de violência entre as nações desenvolvidas
por Diego Braga NorteAtualizado em 3 jul 2017, 15h21 - Publicado em
6 set 2016
15h54
“Temos um padrão de tiroteios em massa neste país que não tem paralelo em qualquer outro lugar do mundo”, disse Barack Obama após o ataque San Bernardino, em dezembro de 2015. Os 49 mortos do massacre de Orlando, acontecido no último dia 12, engrossam agora a estatística que infelizmente corrobora as palavras do presidente americano.
De acordo com o Arquivo de Violência Armada (Gun Violence Archive), uma entidade civil de Washington, “mass shooting” (“tiroteio em massa” ou “fuzilamento em massa”) é qualquer incidente em que quatro ou mais pessoas são feridas ou mortas por armas de fogo. Por essa definição, houve no território americano 136 incidentes nos primeiros 164 dias do ano (com 212 mortos e 558 feridos); entre 1º de janeiro e 12 de junho — data da tragédia em Orlando. Para o FBI (a polícia federal americana), a definição de “mass shooting” é um tiroteio que resultou em quatro ou mais mortes. Usando essa contagem, o número de incidentes cai para apenas três, com 73 mortes.
Independente da metodologia adotada, o fato é que os EUA têm anualmente mais de 30.000 mortes por armas de fogo; números que colocam o país na liderança do ranking de violência entre as nações desenvolvidas. As mortes anuais por arma de fogo, incluindo todas as origens (suicídio, assassinatos simples e “mass shooting”) nos EUA superam os óbitos por doenças cardiovasculares e perdem apenas para os falecimentos decorrentes de acidentes de trânsito. Parte dessa tragédia é atribuída por especialistas à facilidade em comprar armas no território americano; o país é líder mundial em número de armas per capita, com mais de 88 para cada 100 habitantes. Nos Estados Unidos, uma em cada três famílias possui uma ou mais armas de fogo em casa, e em 2015 chegou-se ao recorde de 23,1 milhões de armas vendidas, mais do que o dobro de 10 anos atrás.
A evolução dos números
Os pesquisadores de Harvard, Daniel Hemenway e Matthew Miller, examinaram 26 países desenvolvidos para verificar se a posse de armas está relacionada com as taxas de homicídio. Eles descobriram que há “uma correlação positiva altamente significativa entre as taxas de homicídios totais e a disponibilidade de armas”. Outro estudo, realizado por Franklin Zimring e Gordon Hawkins, da Universidade de Berkeley, concluiu que os EUA têm índices gerais de criminalidade comparáveis aos dos países desenvolvidos, mas taxas muito mais elevadas de violência letal — devido, em parte significativa, aos altos índices de posse de armas.
Já virou rotina nos Estados Unidos: logo após uma tragédia envolvendo armas de fogo cresce a discussão na sociedade e no Congresso para endurecer as leis de compra e venda de armamentos. Após o massacre de Orlando, não foi diferente. Nas semanas após o ataque, o Congresso americano barrou propostas que dificultavam a compra por meio de checagem de antecedentes criminais e psiquiátricos. Havia também um projeto de lei para limitar a venda de armas consideradas de alto poder de letalidade, como fuzis semi e automáticos. O terrorista de Orlando, Omar Mateen, americano de origens afegãs, já tinha sido investigado pelo FBI por suspeita de ligação com extremistas islâmicos. Para assassinar 49 pessoas e ferir outras 53, ele usou duas armas: um fuzil Sig Sauer MCX, originalmente criado para as Forças Especiais do Exército americano, e uma pistola Glock; ambas compradas legalmente.
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Os ataques mais violentos
A Constituição americana resguarda o direito dos cidadãos de comprarem armas, porém o texto de 1791 é ambíguo e abre margem para diferentes interpretações. “Sendo necessária uma milícia bem ordenada para a segurança de um Estado livre, o direito do povo a possuir e portar armas não poderá ser violado”, diz o texto da Segunda Emenda. Vale lembrar que a lei foi criada sob o impacto da Revolução Americana (1776), quando muitas milícias civis combateram as tropas do Império Britânico. Além disso, no final do século XVIII o país era outro e, com um número bem reduzido de forças regulares de segurança, os civis tinham de se defender de ataques de criminosos, animais selvagens e de índios.
Há uma correlação positiva altamente significativa entre as taxas de homicídios totais e a disponibilidade de armas
Daniel Hemenway e Matthew Miller, pesquisadores de Harvard
Entre aqueles que são contra o livre comércio e porte de armas, há a interpretação da necessidade de pertencimento a uma milícia de autodefesa da população. Já os que defendem o acesso às armas, entre eles a National Rifle Association (NRA), entendem que o segundo trecho da lei garante o direito de possuir armamentos a quaisquer cidadãos. A Suprema Corte americana defende a segunda interpretação, mas o debate está longe de ter um ponto final.
Edição: Diego Braga Norte Edição de fotos: Heitor Feitosa Design e desenvolvimento: Alexandre Hoshino e Sidclei Sobral
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