Livrarias brasileiras sequer tinham divisão de livros para adolescentes, filão iniciado por Potter, que abriu espaço para ‘Crepúsculo’ e ‘Jogos Vorazes’
Especialistas em literatura são unânimes. Harry Potter não só aumentou o interesse de crianças e jovens pela leitura, como ainda abriu espaço para todo um filão de livros feitos para adolescentes, que vão da fantasia à distopia. No Brasil, as livrarias sequer possuíam uma divisão de livros teen, segmento que hoje conta com best-sellers como Crepúsculo, Jogos Vorazes, Divergente e Instrumentos Mortais – todos, sem exceção, escritos por mulheres que enterraram de vez aquele suposto preconceito dos meninos contra escritoras. A obra de JK Rowling abriu também caminho para o gênero Young Adult (YA), ou jovem adulto, caracterizado por obras infantojuvenis com temática mais séria, por vezes ligada a bullying, doença, e suicídio – gênero que, na prática, atrai leitores de todas as idades.

“Harry Potter foi um dos grandes responsáveis por expandir o mercado editorial. Seu enredo e linguagem conquistaram leitores em todo o mundo, mas, mais importante que isso, Harry Potter foi a porta de iniciação para muitos não-leitores. Muitos jovens começaram e ainda começam a ler a partir dessa saga. A obra de J.K. Rowling impactou toda a cadeia”, opina Luís Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).
“A produção brasileira de livros infantojuvenis tem apresentado crescimento nos últimos anos e as editoras têm apostado, cada vez mais, neste segmento”, diz Deric Guilhen, diretor comercial da rede Saraiva. A aposta se mantém porque há uma demanda que segue vigorosa e que já levou as principais listas de livros mais vendidos do mundo a dedicar um espaço exclusivo a ela – caso dos mais vendidos de VEJA, que agora conta com um ranking de literatura infantojuvenil.
Além de turbinar a produção e as vendas de obras para leitores jovens, Harry Potter levou os já crescidos a redescobrir ou revalorizar autores experientes como J. R. R. Tolkien (O Senhor dos Anéis) e George Martin (Crônicas de Gelo e Fogo, saga que inspirou a série de TV Game of Thrones), que, segundo Pedro Herz, presidente do Conselho de Administração da Livraria Cultura, pareceram a continuação natural para fãs de histórias de fantasia, depois de Harry Potter.

Para Mônica Figueiredo, editora responsável pela saga de JK Rowling na Rocco, casal editorial que detém os direitos da série desde A Pedra Filosofal, a escritora britânica tirou da latência leitores que estavam apenas à espera de um personagem capaz de projetar os seus desejos. “Eles foram atraídos por uma forma nova de fazer literatura, que aguça a curiosidade e o olhar para o mundo com habilidade e criatividade, tendo a magia como fio condutor. Além disso, JK Rowling criou personagens com os quais o leitor tem empatia e se identifica com facilidade, por passar por situações similares em uma realidade menos mágica”, avalia.

Pedro Hertz, da Cultura, recorda com carinho da emoção dos lançamentos dos livros importados nas lojas, quando as pessoas chegavam de manhã à livraria para um evento que, por razões de embargo, só começaria rigorosamente às 20h. “E tudo em ritmo de festa, sem tumultos, só alegria, fantasia e expectativa. Foi uma experiência mágica, maravilhosa”, resume o livreiro, que, no evento de lançamento do roteiro de A Criança Amaldiçoada, em 2016, teve o prazer de encontrar fãs de longa data do bruxinho acompanhados dos filhos, todos fantasiado a caráter.
A culpa é de Harry Potter
Graças a Harry Potter, hoje se têm obras juvenis de temáticas variadas. Ao lado das distopias como Jogos Vorazes e da fantasia com vampiros, caso de Crepúsculo, há livros que tratam de temas espinhosos — vale lembrar que a série de JK Rowling também conta com episódios difíceis; ela começa com a morte dos pais de Harry, que, órfão, é criado pelos tios até se mudar para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Dificuldade, aliás, é o cerne daquele que talvez seja o filão de maior qualidade da literatura feita para adolescentes e jovens adultos, o de sick-lit, termo derivado de “literatura doente ou de doença” (sick em inglês é enfermo). O segmento emergiu no rastro da série do bruxinho, que provou que ler não era brincadeira apenas de crianças e de adultos e levou as editoras a apostar em títulos para os que estão entre eles, a sick-lit conta com gente grande como o escritor americano John Green e sua obra-prima, A Culpa É das Estrelas. Confira abaixo alguns dos bons livros que surgiram depois de Harry Potter:









