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Renato Aragão conta como a rotina nas redes o mantém “adolescente”

Aos 85 anos, o humorista virou tiktoker: "O segredo é não ter medo do ridículo, e eu não tenho"

Por Renato Aragão
Atualizado em 5 jun 2020, 13h28 - Publicado em 5 jun 2020, 06h00

“Quando me questionam como é ser idoso em uma pandemia, rebato de bate-pronto com outra pergunta: é comigo mesmo? Eu não sou um idoso, tenho é juventude acumulada. Alguns dias acordo com 30 anos, em outros com 16. Nunca com a minha idade cronológica. Estou sem sair de casa há quase três meses e sigo à risca todas as orientações para proteger a mim e a minha família. Sou do grupo de risco, embora não me sinta assim. E tenho medo desse vírus. Enquanto isso tudo não passa, tento ir levando a situação com energia e humor. Outro dia mesmo postei no Instagram uma cena em que eu dizia ao telefone que ia sair, e minha mulher (Lilian Aragão) me interrompia falando que não iria a lugar nenhum. É ela quem manda. Faço esse papel de incentivar as pessoas a ficar em casa, com leveza. E aí, em pleno isolamento social e em busca de novas distrações, eis que acabei, por estímulo de minha filha, Lívian, e amigos, aderindo ao TikTok (aplicativo com vídeos curtos usado por milhões de crianças e adolescentes no mundo todo).

Eu me encontrei como tiktoker. Tenho mais de 700 000 seguidores lá e quase 2 milhões de pessoas já curtiram meus vídeos. É uma linguagem rápida, despretensiosa e, mesmo sendo um novato na área, ela não é tão nova assim para mim. Sempre gostei de fazer minhas coreografias na televisão, com Os Trapalhões. Agora, em casa, faço ainda mais: já postei de tudo um pouco — dancei sucessos como Despacito, o funk Lacraia, Don’t Start Now, Pump It e Braba, de Luísa Sonza. Esse é o repertório, variado. O segredo é não ter medo do ridículo, e eu não tenho. Queria ser como o Didi Mocó (seu personagem), que pensa zero no dia seguinte. Eu não sou exatamente desse jeito, mas não tenho problema nenhum em me expor. Aliás, gosto disso. Corro pelo quintal, subo em pedra, rego o jardim, faço flexão, uso bambolê, planto bananeira — e depois posto.

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Duas coisas ajudam a me manter atualizado, com o espírito jovem. Uma delas é o fato de eu nunca ter deixado de me exercitar, isso desde os tempos em que servi no Exército, ainda no Ceará. Meu manequim continua exatamente o que sempre foi ao longo da vida — 1,64 metro e 61 quilos. A outra vantagem, fonte de meu ânimo permanente, é justamente minha relação com a tecnologia, com a internet e com as redes sociais. Eu mesmo faço questão de responder aos amigos no Instagram. Passo tanto tempo conectado que a Lilian (que também faz suas aparições no TikTok) vive dizendo que pareço um adolescente.

Às vezes me bate uma tristeza. Sou emotivo demais. Choro todos os dias assistindo ao noticiário. Tenho até evitado ver direto. Como tanta gente, experimentei a dor de perder uma pessoa muito querida nesta pandemia. Também não pude me despedir do meu irmão, que não resistiu a uma cirurgia para colocar um marca-passo, em Fortaleza. Para diminuir o peso, eu me exercito pela casa, faço meditação, escrevo meus esquetes de humor. Por ora, extravaso no Instagram, no TikTok, e por aí vai. Volta e meia imito um aluno tendo aulas on-line e cheio de desculpas por estar atrasado, mesmo confinado. Já estou com um estoque de piadas prontinho e repleto de projetos. Não vejo a hora de voltar a trabalhar, poder sair para jantar com meus grandes amigos, como o Dedé Santana, com quem falo quase todos os dias, e abraçar meus filhos. O Ricardo, que mora em Portugal, e a Livinha, que estava nos Estados Unidos, chegaram há pouco mais de uma semana e vieram para casa. Só não posso me aproximar deles, o que é bastante angustiante. Estão tendo de cumprir quarentena nos quartos, isolados por precaução, mesmo depois de o teste para o novo coronavírus de ambos ter dado negativo. Em um momento assim, quando está tudo tão mudado, você também precisa se reinventar e se reconectar ao mundo da maneira que dá.”

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Depoimento dado a Sofia Cerqueira

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