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O otimismo de Guadagnino em ‘Me Chame pelo Seu Nome’

Diretor fala sobre filme participante do Festival do Rio, e já favorito entre indicados ao Oscar, sobre romance entre um jovem estudante e um adolescente

Por Mariane Morisawa, de Zurique
5 out 2017, 20h44

Desde que estreou em Sundance, em janeiro, Me Chame pelo Seu Nome tem despertado reações apaixonadas, seja em Berlim, em Toronto ou, recentemente, no Festival de Zurique. O filme dirigido pelo italiano Luca Guadagnino, que tem entre seus produtores o brasileiro Rodrigo Teixeira, agora aporta no Festival do Rio, com sessões a partir desta sexta-feira (6). A repercussão tem sido tão sólida que o longa-metragem aparece em todas as listas de prováveis indicados ao Oscar.

Me Chame pelo Seu Nome, baseado no romance de Andre Aciman, mostra o relacionamento de verão entre um estudante americano, Oliver (Armie Hammer), e o adolescente italiano Elio (Timothée Chalamet), em 1983. Oliver vai passar uma temporada na Itália, na casa de seu professor americano (Michael Stuhlbarg), pai de Elio. Delicado e solar, o filme é uma raridade no cenário atual, inundado de produções sombrias e pessimistas. Luca Guadagnino conversou com VEJA:

Você diz que se preocupa com o público. Vivemos uma época conservadora. Isso afetou como você lidou com o romance no centro de Me Chame pelo Seu NomeNão que me compare com Proust, mas li sua biografia pela perspectiva de Céleste Albaret, sua empregada, e quando ele escrevia seu quarto livro, Sodoma e Gomorra, contou para Celeste sobre a cosmogonia desse submundo homossexual depravado, pervertido e obscuro da alta sociedade parisiense. E ela perguntou: Sr. Proust, como pode falar de coisas tão indizíveis? E ele respondeu: Não existe nada que não possa ser contado, é a forma de contar que importa. Eu acredito muito nisso. O conservadorismo do presente é verdadeiro, vivemos em uma época muito perigosa. Não é um sentimento, é a realidade. Se analisarmos os governos ao redor do mundo, há um fortalecimento da extrema direita, na Alemanha, em Israel, até em lugares onde não deveria existir, como o Japão. Mas o povo está bem à frente disso. Não acredito que o público seja conservador.

É muito raro ver um filme tão positivo hoje em dia, sem armas ou sem escândalos. Eu gosto muito da cena em que eles limpam o esperma com a camisa e, fora de cena, Mafalda, a empregada, lava e passa a camisa. Numa versão mais óbvia deste filme, Mafalda levaria a camisa para a mãe e diria que há um problema, a mãe faria um escândalo e expulsaria Oliver. Acho que a vida é mais assim como no meu filme.

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Teve alguma preocupação de que o público estaria esperando esse tipo de tensão? Engraçado porque muitos financiadores me perguntaram isso. Lendo o roteiro, diziam: “Você precisa criar um antagonismo”. Ou que não havia contraste com Oliver e Elio, que precisavam ser os heróis. Aliás, muitas vezes queriam transformar a mãe em vilã. E eu disse não. Eu sabia que o que tinha era o suficiente. Tem uma música da banda Prefab Sprout que diz: “All the world loves lovers, all the world loves people in love” (o mundo todo ama amantes, o mundo todo ama pessoas apaixonadas). É verdade. Não precisava de instrumentos narrativos para fazer a história funcionar. Queria acompanhar esses dois meninos.

Você parece ser otimista. Sempre fico surpreso com a inteligência das pessoas.

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Sempre? Adoro ter uma boa conversa. Isso me faz ser otimista.

Porque há tantos cineastas pessimistas. Estou mais interessado no terrível. Bergman é um cineasta do terrível. Tenho menos interesse na visão niilista e apocalíptica no cinema, porque ela é fácil demais.

Como escolheu Armie Hammer e Timothée Chalamet para os papéis? No livro, Oliver é descrito como “o astro de cinema”. Não acho que exista outro ator que seja a personificação disso na sua beleza. E Armie é um bom ator. Timothée tinha 17 anos quando o conheci. Ele era extraordinário. Violentamente ambicioso, mas talentoso e disciplinado. Essa mistura me convenceu de que era perfeito. E tinha o visual perfeito, magrinho, que via as coisas de longe.

Vocês ensaiaram? Não! Passamos tempo juntos. Ficamos amigos.

Qual foi seu pedido para eles? Que eles fossem como a espuma. Leves. Densos e leves ao mesmo tempo. Acho que foi a melhor direção que já dei.

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O que faz com que Tilda Swinton, que fez seus filmes anteriores (Um Sonho de Amor e A Bigger Splash), seja tão querida para você? É a mesma coisa que eu perguntar por que sua irmã é tão querida para você. Ela é minha irmã! A vida nos juntou e não nos separamos jamais. Eu gosto dos cineastas que formam famílias. É disso que gosto no cinema, que somos esse bando de ciganos. Todos os atores deste filme são parte da minha família agora e vou filmar novamente com eles. Vanda, que interpreta Mafalda, eu encontrei na rua, andando de bicicleta. E ela fez Suspiria, meu próximo filme, também.

Qual seu desejo para Me Chame pelo Seu NomeAcho que se o filme puder ser uma maneira de fazer as pessoas acreditarem na capacidade de acolher o outro por sua diversidade em cada pequeno gesto da vida seria o suficiente. Não seria lindo se o Sr. Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, assistisse ao filme e finalmente abandonasse a ideia de conversão de homossexuais? Não sei. Sua resistência teria de desmoronar. Mas o filme é longo, quem sabe?

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Os atores Armie Hammer e Timothée Chalamet em cena do filme ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ (//Divulgação)
Os atores Armie Hammer e Timothée Chalamet em cena do filme ‘Me Chame Pelo Seu Nome’
Os atores Armie Hammer e Timothée Chalamet em cena do filme ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ (//Divulgação)

 

O ator Timothée Chalamet em cena do filme ‘Me Chame Pelo Seu Nome’
O ator Timothée Chalamet em cena do filme ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ (//Divulgação)
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