Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

‘O Farol’ confirma a força de um diretor na contramão do senso comum

Em seu segundo longa-metragem, Robert Eggers, o jovem cineasta de 'A Bruxa', dá nova prova de ser um realizador de talento e propósitos singulares

Por Isabela Boscov Atualizado em 4 jun 2024, 15h14 - Publicado em 3 jan 2020, 06h00

Desde a primeira imagem, O Farol (The Lighthouse, Estados Unidos/Canadá, 2019), que estreou no país em 2 de janeiro, configura-se como um portal para um passado de múltiplas dimensões — não apenas para os anos 1890 em que a história transcorre, mas também para as primeiras décadas do próprio cinema, quando este representava ainda uma passagem inédita para que aquilo que é imaginado e sonhado por um possa ser simultaneamente compartilhado e sentido por muitos. Essa evocação está, é claro, na fotografia em branco e preto — ora de nitidez cortante, ora de nebulosidade aflitiva — e no uso do formato quase quadrado de projeção. Está sobretudo no dom do diretor americano Robert Eggers, de A Bruxa, de conjurar atmosferas estranhas e desestabilizadoras a partir de elementos quase impalpáveis.

+ Compre Biografia Robert Pattinson

Aqui, um faroleiro veterano (Willem Dafoe) e seu jovem aprendiz são depositados em uma diminuta ilha deserta ao largo da Nova Inglaterra para uma estada de um mês. Os dois homens não se conhecem, mas a disputa de poder e a animosidade se instalam entre eles de imediato. Thomas, o veterano, demarca território com ofensas aos sentidos: urina no penico entre as camas estreitas, contamina a casa pequena e fechada com sua flatulência, cozinha papas repelentes, obriga o subalterno a beber álcool (em todo caso, a água do poço é infecta) e fala, fala e fala. Ephraim (Robert Pattinson), que é reticente a respeito de tudo e principalmente de sua vida pregressa, tenta manter a neutralidade de suas reações, mas aos poucos é tragado para o enfrentamento. Na verdade, não haveria como escapar dele, já que os dois estão cercados por mar tempestuoso, mau tempo e rochas. Estão, em suma, tão isolados e entregues aos próprios demônios quanto é possível estar.

+ Compre Livro Água para Elefantes

Este é apenas o segundo longa-metragem de Eggers, mas confirma que ele é um cineasta como nenhum outro hoje — nos temas, no estilo, na tonalidade e na maneira como é movido pela necessidade de reconstituir, com um esmero obsessivo nos detalhes, frações de realidades passadas. Em A Bruxa, tudo o que se via em cena, das vestimentas aos objetos do dia a dia e às edificações da fazenda de uma família puritana da Nova Inglaterra, fora elaborado com ferramentas autênticas de fins do século XVII. Em O Farol, Eggers sustenta o mesmo nível insano de minúcia (o próprio farol, aliás, foi erguido desde o primeiro tijolo), para atingir em cheio o efeito no qual mira: a sensação de irrealidade. Até a arenga interminável em que Dafoe e Pattinson, ambos excelentes, se engajam — e que, sim, às vezes é cansativa — contribui para isso: é baseada em registros reais e na literatura de inspiração marítima do período, resultando em um linguajar tão excêntrico para os ouvidos contemporâneos que poderia, também, ter se materializado a partir da imaginação.

Publicado em VEJA de 8 de janeiro de 2020, edição nº 2668

CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

Continua após a publicidade
‘O Farol’ confirma a força de um diretor na contramão do senso comum‘O Farol’ confirma a força de um diretor na contramão do senso comum
Biografia Robert Pattinson
‘O Farol’ confirma a força de um diretor na contramão do senso comum‘O Farol’ confirma a força de um diretor na contramão do senso comum
Continua após a publicidade

Água para Elefantes

logo-veja-amazon-loja
Continua após a publicidade

*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.