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‘Filme ajuda a aceitar diferenças’, diz tetraplégico que inspirou ‘Intocáveis’

Milionário Philippe Pozzo di Borgo conta detalhes de sua história no livro 'O Segundo Suspiro', lançado neste mês no Brasil

Por Carol Nogueira
4 set 2012, 12h19

Um dos filmes mais falados do ano, o francês Intocáveis estreou na última sexta-feira no Brasil com um enredo nada convencional e um sucesso estrondoso: o longa se tornou um fenômeno de bilheteria mundial, arrecadando 360 milhões de dólares e passando a ser o segundo título mais visto da história do cinema francês, além de receber nove indicações ao César, o Oscar francês.

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Comédia sobre o valor da amizade, Intocáveis é baseado na história real de amizade entre um milionário francês tetraplégico, Philippe Pozzo di Borgo, e um imigrante algeriano que ele contrata como seu enfermeiro, Abdel Selou (que no longa virou o personagem Driss), e que acaba fazendo com que ele volte a ver graça na vida, mesmo com todas as dificuldades de ser deficiente físico e após a morte de sua mulher, Beatrice. Hoje em dia, Borgo continua morando na França, mas com sua nova mulher. Já Selou se casou, teve filhos e se mudou para o Marrocos.

Cena do filme 'Intocáveis', de Eric Toledano e Olivier Nakache
Cena do filme ‘Intocáveis’, de Eric Toledano e Olivier Nakache (VEJA)
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Antes de virar filme, a história já havia sido um bem-sucedido documentário de 2004 (À La Vie, À la Mort) e se transformado em dois livros que se tornaram best-sellers na França, um escrito por Borgo e outro por Selou — o primeiro saiu no Brasil neste mês pela editora Intrínseca com o título O Segundo Suspiro. Em entrevista ao site de VEJA, Borgo falou sobre sua vida após o acidente que o deixou tetraplégico e sobre as lições de vida que tirou de sua relação com Selou.

Por que o senhor acha que o filme fez tanto sucesso? Vivemos em uma época de ansiedade muito grande, por causa da situação econômica e política mundial. Então, acho que as pessoas ficaram felizes de ver que dois caras em péssimas condições ainda podiam aproveitar muito bem a vida e ajudar um ao outro. Há uma grande necessidade de reconciliação, de aceitação das diferenças e das fraquezas, de aproveitar o momento. Isso, somado ao grande talento dos diretores, atores e produtores envolvidos, foi o responsável pelo sucesso do filme.

Por que decidiu contar sua história em um livro? Depois da morte da minha mulher, eu passei por uma depressão terrível, que eu não tinha vivido apos o acidente que me deixou paraplégico, ocorrido três anos antes. Quando Beatrice morreu, suas ultimas palavras foram: ‘Você tem que seguir em frente, e expressar sua dor em palavras vai te ajudar’. Dois anos depois, eu estava deitado há meses, com dor, e comecei a gravar frases em um gravador portátil. Pouco a pouco, pelos próximos dois anos, eu revivi minhas memórias, a maioria delas no silêncio da noite, e comecei a me reconstruir. Então comecei a gostar das palavras, e passei a trabalhar no livro.

Qual foi a parte mais difícil de se tornar deficiente físico? Não conseguir pegar minha mulher e meus filhos no colo.

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O que mudou na forma como o senhor vê a vida? Muitas coisas. Primeiro de tudo, ver o mundo de uma cama ou de uma cadeira de rodas não é o mesmo que vê-lo em pé. Eu descobri que eu era frágil, não era eterno, e que o tempo contava. Mas, especialmente, que a dor me deixa desconfortável e que, portanto, cada momento que eu me sinto bem tem que ser completamente aproveitado. Eu não gasto meu tempo em coisas desnecessárias. Ser totalmente dependente dos outros requer que você seja agradável com eles, do contrário, eles me esquecerão. Antes do acidente, eu costumava usar muito a minha influência para conseguir o que eu queria. Não é a melhor maneira e a sociedade seria muito mais agradável se nós pedíssemos as coisas gentilmente. Eu aprendi a ser paciente, especialmente durante as noites longas de insônia, e a conviver com o silêncio.

Qual foi a primeira coisa que passou pela sua cabeça quando conheceu Abdel? E por que decidiu contratá-lo? Pensei: ‘Esse é exatamente o cara que eu preciso, ele é inteligente, relaxado, rápido, forte, vai conseguir me ajudar a cuidar da minha mulher e da minha condição física’.

Como está Abdel? Qual é a relação de vocês hoje? Ele está casado há 8 anos, tem 3 filhos dos quais ele se orgulha muito. Ele está um pouco fora de forma e por isso prefere ser gentil a entrar em uma briga. Esses dias ele me disse: ‘Se eu cruzasse com o antigo Abdel, perderia.’ Nós nos vemos constantemente, ou na França ou no Marrocos, e às vezes nos encontramos em eventos para a imprensa. Os filhos dele me chamam de “tio” e minhas filhas o tratam da mesma maneira.

Muitos diretores procuraram o senhor e Abdel antes de Olivier e Eric. Por que deixaram que eles fizessem o filme? Eu gostei muito da generosidade e da inteligência com que eles levaram o filme. Eu já fui procurado por grandes nomes, mas nunca tinha consentido porque faltava senso de humor. Embora eles tenham adaptado a história, minha mulher e eu ficamos com a impressão de que os detalhes ainda estão lá. Ao mesmo tempo, nossos amigos estavam rindo e chorando ao mesmo tempo, então sentimos que alguma coisa havia acontecido. Na première em Paris, as pessoas bateram palmas por vários minutos em pé. Os diretores merecem esse sucesso, pois acertaram o tom. Uma semana depois, eles mostraram o filme no hospital para deficientes físicos no qual eu passei algum tempo nos últimos 20 anos, e somente as pessoas mais debilitadas podiam entrar. Você devia ver as risadas deles.

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