Diretores de ‘Intocáveis’ voltam à comédia em ‘Assim É a Vida’
Olivier Nakache e Éric Toledano contam que ideia do divertido longa surgiu da vontade de aplacar os ataques terroristas recentes em seu país
Os franceses Olivier Nakache e Éric Toledano costumam fazer dramas com momentos de comédia – ou comédias com passagens dramáticas. Conquistaram o mundo com Intocáveis (2011), sobre um milionário em cadeira de rodas (Frrançois Cluzet) que faz amizade com seu cuidador, um homem negro e pobre (Omar Sy). O filme foi campeão de bilheteria na França e acabou de ganhar refilmagem em Hollywood com Bryan Cranston e Kevin Hart. Depois, eles vieram com Samba (2014), sobre dois imigrantes, Samba (Omar Sy novamente) e o brasileiro Wilson (Tahar Rahim). Assim É a Vida, que estreia nos cinemas brasileiros, pega mais firme na comédia, desta vez explorando um grupo de personagens, liderado por Max Angély (Jean-Pierre Bacri), dono de um bufê para festas.
“Queríamos criar um filme coletivo, tendo um elenco grande e trabalhando de maneira fraternal”, disse Olivier Nakache em entrevista a VEJA, durante o Festival de Toronto. “Passamos por momentos difíceis na França recentemente. Eric e eu pensamos: Por que não fazer uma comédia? E como o Sr. Billy Wilder disse: Faço comédias quando estou triste ou deprimido.” Ele também citou o ilustrador Georges Wolinski, morto no ataque terrorista ao jornal Charlie Hebdo, um dos momentos difíceis atravessados pelo país: “O humor é o caminho mais rápido entre uma pessoa e outra”.
Assim É a Vida se passa num único dia, desde a chegada de Max ao castelo onde vai ser realizado um casamento. Tudo o que pode dar errado, claro, dá. O DJ do casamento não aparece e é substituído por Etienne (Gilles Lellouche), que não sabe a letra das músicas em italiano e português cantadas por ele e vive brigando com Adele (Eye Haidara), braço direito de Max. O fotógrafo Guy (Jean-Paul Rouve) só pensa em comer. O garçom mais experiente, Julien (Vincent Macaigne), tem uma surpresa ao reencontrar um antigo amor no casamento. E Max, cujo lema é “a gente se adapta”, vai rebolando para que tudo dê certo, enquanto lida com sua amante, Josiane (Suzanne Clément), que trabalha na equipe. Nakache e Toledano passaram um tempo seguindo um bufê para coletar histórias, mas também recorreram a suas memórias pessoais. “Vinte anos atrás, eu e Eric queríamos fazer filmes. Precisávamos de dinheiro para fazer um curta-metragem, então trabalhamos em festas. Fomos garçons, DJs, por quase dez anos. Coletamos muitas histórias reais.”
O filme também reflete a sociedade, mostrando as diferenças de classes e destacando o papel dos imigrantes. “Para Eric e eu, é importante que as pessoas acreditem naquilo por reconhecerem a realidade. Depois vem a comédia”, disse Nakache. “É bom conseguir fazer as pessoas rirem. Melhor ainda é fazê-las pensar. No filme os personagens são diferentes, mas encontram pontos em comum ao conversar entre si.”
Já entre os dois diretores discussões não são comuns. “Para nós é tudo natural, não ficamos analisando muito”, disse Nakache. “Começamos juntos quando éramos crianças, nos conhecemos no acampamento de férias. Queríamos fazer filmes e começamos muito cedo. Tivemos anos de luta. Eu acho bom dividir as coisas, o sucesso e o fracasso. No set é muito orgânico. E combinamos de tentar tudo o que o outro tiver vontade.” A atriz Suzanne Clément ficou impressionada com a dinâmica da dupla. “Olivier faz imitações, e quem mais ri é Éric. Imagine, ele deve ter ouvido milhões de vezes! E ainda ri das piadas.”