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Desafinados

Aos 88 anos, João Gilberto está no centro de uma briga de filho contra filha que chegou à Justiça e o levou da reclusão total para a exposição nas redes

Por Fernanda Thedim
Atualizado em 26 jun 2019, 15h42 - Publicado em 14 jun 2019, 07h00

É irônico: João Gilberto, o gênio da bossa nova, que fez da reclusão um estilo de vida, aproxima-se dos 90 anos (acabou de fazer 88) no centro de uma briga barulhenta e pública. Desde novembro de 2017, quando a Justiça determinou sua interdição por falta de condições de se cuidar, a música deu lugar a baixarias sem fim na família Gilberto. No mais recente round de desavenças, enfrentam-se de um lado Bebel, 53 anos, filha dele com a cantora Miúcha (1937-2018) e detentora da curatela do pai, e de outro o meio-irmão João Marcelo, 59, produtor musical, filho de João com a primeira mulher, Astrud. Dois processos abertos por Bebel em maio, no Rio, denunciam João Marcelo por injúria e difamação contra ela e a mãe, em postagens na conta dele no Facebook. Ele contra-­ataca afirmando que foi alijado do pedido de curatela. “Bebel tem sérios problemas de saúde. É alcoólatra e viciada em drogas. Não tem condições de cuidar de si, muito menos do nosso pai. Ela entra na casa dele berrando, ameaçando todo mundo”, acusa em entrevista a VEJA.

Entre as postagens que Bebel quer tirar do ar está o trecho divulgado por João Marcelo de um vídeo de quase oito minutos gravado na sala do apartamento de João Gilberto, no Leblon, Zona Sul do Rio, e encaminhado na íntegra a VEJA. Nele, o centro do palco é ocupado por um terceiro elemento na trama: Maria do Céu, figura que há décadas entra e sai da vida de João Gilberto, às vezes namorada, às vezes amiga, às vezes protegida. No vídeo, Maria, que há dois anos mora com João, fala sem parar, despejando insultos contra Bebel — “drogada, dissimulada, interesseira, mau-caráter” —, também presente na cena. Irritado com a gritaria, o compositor repete algumas das ofensas e pede que a filha se retire. Ela tenta argumentar, mas no fim desiste e vai embora.

João Marcelo, que mora nos Estados Unidos mas afirma ter contato frequente com o pai via chamadas de vídeo pela internet, gravou tudo — havia sido alertado com antecedência por Maria de que o tempo ia fechar no apartamento do Leblon. “Meu pai está nos seus últimos dias de vida e não merece passar pelo que está passando”, diz ele. A seu ver, João Gilberto tem condições de tocar a própria vida e Bebel só atrapalha. Como exemplo, relata que o médico do músico, José Luiz Spicacci, receitou recentemente um medicamento para o coração e quem teve de providenciar foi sua mulher, Adriana Oliveira — que mora parte do ano no Rio e é outra visita de quase todo dia, junto com a filhinha dos dois, Sofia, de 3 anos, no movimentado apartamento. “Só depois que publiquei o que tinha acontecido que Bebel decidiu comprar o remédio. Se dependesse dela, João Gilberto estaria em um asilo”, dispara. A pequena Sofia tem perfil em rede social e nele são postadas fotos dela com o avô magro e envelhecido, sempre sentado em uma poltrona.

DESAVENÇAS – João Marcelo (à dir.): “A verdade é que Bebel (à esq.) é uma sociopata” (Leonardo Aversa/Agência O Globo/.)

Por morar fora, João Marcelo demorou a ter contato tanto com Bebel quanto com a mãe dela, Miúcha, de quem não tem boa lembrança. “Quando ela ficava brava comigo, tirava minha roupa, me colocava na banheira e jogava água fria. Sofri abusos físicos”, recorda. Segundo ele, a relação de mãe e filha também era conturbada. “Viviam se agredindo, mal se falavam”, conta. E fulmina: “A verdade é que a Bebel é uma sociopata”. O produtor musical diz ainda que está preparando um pedido judicial para dividir a curatela do pai com a irmã. “Fiquei surpreso em ser preterido no processo. Bebel sempre se referia a João como ‘monstro’ e nunca dava nenhuma indicação de que estaria interessada em cuidar dele.”

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A advogada de Bebel, Simone Kamenetz, refuta todas as acusações de João Marcelo, a começar pela de que não foi incluído no pedido de curatela. “Tudo o que a Bebel mais quer é alguém dividindo essa responsabilidade. Quem está fora não imagina o peso que é ser curador do pai e ainda ter um irmão fazendo ataques gratuitamente.” Por que João Marcelo teria decidido vir a público agora com tantas críticas? Simone não crava resposta, mas insinua: “A série de ofensas começou quando saiu a notícia de que o João ganhou o processo contra a gravadora EMI e vai receber uma indenização polpuda”. O que João Marcelo rebate: “Não estou fazendo nada por causa do dinheiro do meu pai. O homem merece paz”.

Endividado até os ralos e longos cabelos por aluguéis atrasados e apresentações canceladas, João Gilberto provavelmente terá a vida financeira estabilizada quando enfim receber uma bolada calculada em perto de 100 milhões de reais da EMI, hoje incorporada pela Universal, ao fim de um longuíssimo processo que move contra a gravadora. Em março, a 9ª Câmara do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro lhe deu ganho de causa; a decisão foi confirmada em segunda instância, mas ainda cabe recurso. Pensaram que a história acaba aí? Não. Em paralelo à briga de João Marcelo e Bebel, outro processo envolvendo João Gilberto corre na 14ª Delegacia de Polícia, no Leblon, desta vez uma queixa registrada por Bebel contra Maria do Céu. “Maria vem criando barreiras para a Bebel exercer a curatela. Tudo é discutido aos berros, gerando um ambiente hostil”, diz Simone. A primeira audiência está marcada para a segunda-feira 17 e tanto Maria quanto João Gilberto estão intimados. Saudade dos tempos de bim bom bim bim bom bom bom…

 

Publicado em VEJA de 19 de junho de 2019, edição nº 2639

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