Brasil aparece forte no Festival de Cannes de 2019
'Bacurau', de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, está na competição, assim como a coprodução 'O Traidor', do italiano Marco Bellocchio
Num momento de incerteza em relação aos investimentos em audiovisual, o Brasil vai ter presença grande no Festival de Cinema de Cannes, o mais prestigioso do mundo, com um filme e uma coprodução na competição, um longa na mostra Um Certo Olhar e outro na Quinzena dos Realizadores. O evento começa nesta terça 14 e vai até 25 de maio na cidade da Riviera Francesa.
Kleber Mendonça Filho volta à disputa pela Palma de Ouro, três anos após Aquarius e o protesto contra o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Agora em parceria com Juliano Dornelles, ele dirige Bacurau, novamente com Sonia Braga no elenco, além de Karine Teles e Barbara Colen e do alemão Udo Kier, que trabalhou com diretores como Rainer Werner Fassbinder e Lars Von Trier. A produção, descrita como um western com aventura e ficção científica, se passa num povoado no sertão. Após a morte da querida Dona Carmelita (Lia de Itamaracá), de 94 anos, os habitantes percebem que o vilarejo sumiu do mapa.
Já O Traidor, dirigido por Marco Bellocchio, é uma coprodução do Brasil com a Itália, a Alemanha e a França, filmado parcialmente no Rio de Janeiro e estrelado por Maria Fernanda Cândido. Bellocchio, um dos principais cineastas italianos hoje, conta a história real de Tommaso Buscetta, um mafioso que morou anos no Brasil. Maria Fernanda interpreta sua terceira mulher, Maria Cristina. Em 1983, ele foi preso e, depois de extraditado para a Itália, resolveu delatar à Justiça as atividades da máfia siciliana Cosa Nostra, sendo o primeiro chefão da organização a fazer isso, levando à prisão de aproximadamente 500 pessoas. O longa também concorre à Palma de Ouro.
O cineasta cearense Karim Aïnouz também retorna a Cannes, onde esteve com Madame Satã e O Abismo Prateado, com A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, que será exibido na mostra Um Certo Olhar. Baseado no livro de Martha Batalha, o filme acompanha as irmãs Eurídice e Guida nos anos 1950. A primeira quer ser pianista, a segunda sonha com um grande romance. Depois de fugir com o namorado, Guida volta grávida e é expulsa de casa. Separadas, as duas passam a vida buscando o reencontro. O diretor entrevistou mulheres de 70 a 90 anos, que viveram a época, para fazer o filme.
A Vida Invisível de Eurídice Gusmão é uma das três produções do brasileiro Rodrigo Teixeira em Cannes. As outras duas são internacionais: The Lighthouse, de Robert Eggers, com Robert Pattinson e Willem Dafoe, e Port Authority, de Danielle Lessovitz, feito em parceria com a Sikelia Productions, de Martin Scorsese.
Em sua estreia em longas-metragens, Alice Furtado emplacou Sem Seu Sangue na principal mostra paralela de Cannes, a Quinzena dos Realizadores. Silvia (Luiza Kosovski), uma adolescente introspectiva e um tanto apática, entra num relacionamento intenso com Artur (Juan Paiva), até que um grave acidente acontece.
Competição
Bacurau vai enfrentar vinte filmes na disputa pela Palma de Ouro, selecionados pela equipe do delegado geral Thierry Frémaux. Entre os concorrentes estão figurinhas carimbadas do festival, como os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne (com The Young Ahmed), duas vezes vencedores da Palma de Ouro, e o inglês Ken Loach (com Sorry We Missed You), que também tem duas Palmas em casa.
Quentin Tarantino, que levou o prêmio em 1994 por Pulp Fiction – Tempo de Violência, apresenta Era uma Vez… em Hollywood, com Brad Pitt, Leonardo DiCaprio e Margot Robbie no papel de Sharon Tate, a atriz e mulher de Roman Polanski assassinada, grávida de oito meses, pelo grupo de Charles Manson. O longa recria a Hollywood em transformação no final dos anos 1960.
O espanhol Pedro Almodóvar está na competição pela sétima vez com Dor e Glória, estrelado por dois dos atores mais importantes em sua carreira, Antonio Banderas e Penélope Cruz. Banderas interpreta um cineasta em declínio, que relembra momentos de sua vida.
Estão de volta ainda o americano Terrence Malick (com A Hidden Life), o palestino Elia Suleiman (It Must Be Heaven), o francês Arnaud Desplechin (Oh Mercy!), o franco canadense Xavier Dolan (Matthias & Maxime) e o tunisiano radicado na França Abdellatif Kechiche (Intermezzo), que ganhou a Palma de Ouro com Azul É a Cor Mais Quente em 2013.
Mas a competição também abriu espaço para nomes mais novos, como as quatro mulheres que igualam o recorde de presença feminina na disputa pela Palma de Ouro. As francesas Justine Triet (com Sybil) e Céline Sciamma (Portrait of a Lady on Fire), a austríaca Jessica Hausner (Little Joe) e a franco-senegalesa Mati Diop (Atlantique) fazem sua estreia na seção.