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Aos 99 anos, Orlando Drummond é homenageado no Carnaval do Rio

Eterno seu Peru é tema de bloco dos dubladores da cidade, neste sábado

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 1 mar 2019, 19h15 - Publicado em 1 mar 2019, 18h20

O prefeito do Rio de Janeiro pode não ter dado o “maior apoio” para o Carnaval carioca, mas os fãs da maior festa popular do país prometem agitar as ruas do mesmo jeito, com os mais variados temas. Entre os 295 blocos que desfilam pela cidade durante os seis dias de folia, um deles presta homenagem ao dublador Orlando Drummond, o eterno Seu Peru, da Escolinha do Professor Raimundo. O centenário do ator, que se completa em outubro deste ano, será o tema do desfile do Diversão Brasileira, bloco que há 9 anos reúne dubladores e fãs de dublagem na Praça Xavier de Brito, na Tijuca, Zona Norte do Rio. Neste Carnaval, o bloco sai no sábado 2, às 14 horas.

No último Carnaval, Drummond chamou a atenção do público ao exibir sua boa saúde no bloco, que celebrou as novelas mexicanas. Este ano, com a homenagem, promete marcar presença novamente. Às vésperas de completar 99 anos, o ator recebeu a reportagem de VEJA em sua casa, quando falou sobre sua carreira, suas memórias mais marcantes e o segredo de sua vitalidade – que, segundo a esposa Glória, com quem é casado há 68 anos, não é segredo nenhum. “Ele come de tudo um pouco, mas nunca foi um glutão nem tinha o hábito de beliscar entre as refeições. Passou a evitar doces durante a semana há alguns anos, mas não se priva nas festas. A geriatra que cuida dele esteve aqui recentemente e nos deu parabéns”, contou.

Não é para menos: o ator ainda faz pontas em filmes e séries. Atuou na série Desencantos, da Netflix, e aparecerá no longa nacional De Perto Ela Não É Normal, ainda sem data para estreia. “A habilidade de dublar está intacta. É um reflexo surreal, quase como andar de bicicleta. Ele perde um pouco o timing às vezes, mas nada que altere a qualidade final”, conta o neto Alexandre Drummond, também dublador. Orlando, que tem três filhos, cinco netos e dois bisnetos, vive na mesma casa para onde se mudou com Glória em 1951, em Vila Isabel – daí a inspiração para outro bordão famoso do personagem da Escolinha, “Peru com mel de Vila Isabel”.

Apesar da variedade de áreas em que atuou, desde o rádio até a televisão, o carioca quase centenário consagrou-se emprestando sua voz a personagens estrangeiros. “Dublar é a coisa que mais gostei de fazer na vida”, contou a VEJA no ano passado. Sua estreia no ramo foi em 1952, quando deu vida à Lebre de Março no longa-metragem animado Alice no País das Maravilhas. Dali para frente, não parou mais. Nos últimos 50 anos, emprestou sua voz a personagens marcantes como o Vingador, em A Caverna do Dragão, Gato Guerreiro em He-Man, Alfie, o ETeimoso, o Doutor Urso Marrom em Peppa Pig e o famoso marinheiro Popeye. O xodó de Drummond, entretanto, responsável por colocá-lo no Guinness Book como o mais longevo casamento entre um dublador e seu personagem, é Scooby Doo. Foram 35 anos dublando o dogue alemão falante que viaja o mundo ao lado de quatro amigos humanos resolvendo mistérios.

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Orlando Drummond, o dublador de Alf e Scooby Doo (Gustavo Azeredo/Extra/Agência O Globo)

Glória lembra que a voz do cão medroso foi inspirada em um episódio pessoal. “Certa vez, quando éramos recém-casados, ouvimos barulhos estranhos vindo do lado de fora da casa. Ele olhou pela janela e viu um homem tentando pular o muro. Começou a imitar os latidos de um cachorro para espantá-lo e, anos depois, foi a mesma voz que usou para fazer o Scooby Doo”, conta. Para o ator Nizo Neto, filho de Chico Anysio, com quem Drummond trabalhou durante anos, o Scooby de Drummond é melhor do que o original. “A versão brasileira tem uma malemolência, tem mais personalidade. A voz em inglês parece um latido, a dele é muito mais simpática”, diz o amigo.

Apesar da fama no rádio e na dublagem, o rosto de Drummond só se tornou conhecido do público a partir de 1990, quando a Escolinha do Professor Raimundo migrou para a TV Globo, sob a batuta de Anysio. O Seu Peru, originalmente concebido para outro ator que, segundo conhecidos, teria ficado com receio da repercussão negativa e desistido de última hora, ficou conhecido pelas roupas extravagantes e vários bordões como “use-me e abuse-me”, “te dou o maior apoio” e “Peru é cultura, cheio de ternura”. Drummond não se amedrontou. “Todo mundo gostou bastante porque eu fazia uma bicha muito gente boa, não era debochado, maldoso. Mas me perguntaram muito se eu era gay, mesmo depois de casado”. Marcos Caruso, que dá vida à “nova versão” do personagem desde 2016, fez questão de pedir a benção ao veterano antes de encarar o desafio. Funcionou: para o Peru original, Caruso fez “um ótimo trabalho”.

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Orlando Drummond, Zezé Macedo, Claudia Jimenez, Berta Loran, Grande Otelo e Chico Anysio como Professor Raimundo integram o elenco de ‘A Escolinha do Professor Raimundo’ – 29/07/1993 (Fernando Quevedo/Agência O Globo)

A personalidade afável e brincalhona é unanimidade entre os que convivem com Drummond. “Drummond tem alma de criança, meu pai era apaixonado por ele. Nunca o vi de mau humor. Só ficava muito bravo quando fumavam no estúdio, na época em que as dublagens eram feitas com todos os atores juntos”, conta Nizo, que já foi vítima das brincadeiras do amigo. “Quando alguém chegava com guarda-chuva, ele enchia de papel picado. Fez comigo algumas vezes”. Outro fã de carteirinha, a quem Orlando considera quase como um filho, é o dublador Guilherme Briggs – que imita a voz do ídolo à perfeição. Os dois se conheceram no começo dos anos 1990 e trabalharam juntos na finada Herbert Richers. “Ele imita o Scooby Doo o tempo todo e tem o hábito de entregar um cartão pessoal escrito “meu cartão”. Gosta de recitar poesias que ele inventa e de cantar”, aponta Briggs.

Apesar da disposição, a homenagem do bloco Diversão Brasileira é um ponto fora da curva na rotina de Drummond, descrito como tranquilo e caseiro pela esposa, por quem se declara profundamente apaixonado. “Ela me aguenta e eu estou aguentando para fazer o tipo. Para mim, ela ainda é uma garota maravilhosa”, derrete-se. Na companhia de Glória, sai para passear pelo bairro ao menos duas vezes na semana. A rotina inclui a leitura diária do jornal O Globo, com atenção especial às notícias envolvendo o Fluminense, seu time de coração. Quando a repórter se declarou simpática ao “tricolor de São Paulo”, afirmou que “já é um feito”. Não anda satisfeito com o time, mas não sofre pelo desempenho. “O Fluminense já me deu tanta felicidade, está na hora de trazer alegria aos outros”, brinca.

Ainda no ano passado, quando recebeu VEJA em sua casa, antes das eleições, mostrou-se preocupado com os rumos do país. “Sinto perigo no ar novamente em tudo o que vejo no horário eleitoral. Mas já sou antigo para fazer esse comentário, né? Não é de hoje que vemos esses problemas. Parece que não mudou muito.”

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