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A queda de venda de batons define os tempos de crise

Com o uso obrigatório de máscaras e o distanciamento social, o mais popular item de maquiagem perdeu a força (mas só por enquanto)

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 jun 2020, 12h38 - Publicado em 19 jun 2020, 06h00

“Há certos tons de destaque que podem prejudicar a aparência de uma garota”, disse Holly Golightly, personagem vivida por Audrey Hep­burn no adorável Bonequinha de Luxo (1961). Na cena, Holly contorna os lábios com um batom vermelho-alaranjado, sem errar, delicadamente, ainda que estivesse no banco de trás de um táxi em fuga. Com tudo caminhando para o caos, Holly manteve seus rituais de beleza. Conseguiu, portanto, algum tipo de normalidade no conflito, sentindo-se bela. A relação da personagem com o cosmético não tem nada de cosmético: historicamente, a barrinha de tinta sempre foi muito mais do que enfeite para o rosto. O batom já foi símbolo para marcar mulheres que se prostituíam na Grécia antiga. Foi usado em discursos feministas por meio de campanhas que pediam às jovens que não tirassem o vermelho dos lábios diante de súplicas de namorados machistas.

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E há o batom como medidor econômico. Por ser item de preço relativamente baixo e resultado imediato, ele se tornou aliado feminino em tempos de crise, dose extra e barata de autoestima. O primeiro a entender essa lógica foi Leonard Lauder, herdeiro do grupo de estética Estée Lauder. Em 2001, depois do pandemônio deflagrado pelos ataques terroristas de 11 de setembro, ele percebeu inusitado crescimento de vendas. O fenômeno sugeriu a ele a ideia do “efeito batom” — a busca feminina pela beleza contra a dureza do cotidiano, e um olhar para o crash da bolsa de 1929 entregou reação parecida. Enquanto setores industriais patinavam, os produtos de maquiagem vendiam como pão quente.

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E, no entanto, agora tem sido diferente. “O isolamento social restringiu quase todas as ocasiões nas quais seria possível utilizar o produto de beleza”, diz Elton Morimitsu, analista da provedora de pesquisas de mercado Euromonitor International. A orientação de uso constante das máscaras faciais para barrar o contágio da Covid-19 também colaborou para o consumo modesto (veja ao lado). Com os lábios cobertos por tecidos, é basicamente inútil ocupar-se desse ritual secular. No Brasil, por exemplo, a busca no Google pelo termo “batom” atingiu o pior patamar dos últimos seis anos, desde o início da quarentena. Mas não será assim para sempre, evidentemente. A gradual retomada da normalidade possível permitirá despontar, em casa, na rua, em todo o mundo, mulheres lindas e empoderadas que farão do batom, mais uma vez, uma arma pacífica.

Publicado em VEJA de 24 de junho de 2020, edição nº 2692

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