Videogame e TV roubam tempo de estudo durante pandemia
Pesquisa encomendada pela Fundação Lemann e Instituto Natura buscou identificar o que os alunos faziam durante o período em que deveriam estar na escola

A adaptação ao ensino remoto não foi a única dificuldade que os pais com filhos em idade escolar enfrentaram durante o período em que as escolas permaneceram fechadas. A concorrência com telas e dispositivos eletrônicos fez parte da rotina das famílias que penavam para convencer os filhos a manterem o hábito dos estudos, mesmo longe dos professores. Uma pesquisa, encomendada ao Datafolha pela Fundação Lemann e o Instituto Natura, com o objetivo de investigar a vida dos estudantes durante o período em que deveriam estar nas salas de aula, traduziu esse conflito comum nos lares brasileiros em números: 43% disseram assistir TV com mais frequência e 37% admitiram passar mais tempo que o normal em videogames e jogos no celular.
“Os jogos e a TV não são ruins por si só, eles podem ser importantes para ofertar conteúdo durante o fechamento, mas se tornam um problema quando servem apenas como passatempo. As crianças começam a consumir mais conteúdo digital e audiovisual por falta de escolha e correm o sério risco de perder o vínculo com a escola”, ressaltou a diretora de projetos da Fundação Lemann Daniela Caldeirinha.
A pesquisa também identificou que outras atividades, ligadas à rotina da casa, passaram a rivalizar com os estudos: 30% disseram ajudar os pais nas tarefas domésticas e 15% tiveram de auxiliar nos cuidados com irmãos mais novos. Todas essas mudanças impactaram negativamente a vida de de 94% das crianças e adolescentes entrevistados, que apresentaram alguma mudança de conduta durante a pandemia. A maioria, 56%, ganhou peso neste período de isolamento social. Cerca de 44% dos entrevistados ficaram mais tristes, 38% demonstraram estar com mais medo e 34% perderam o interesse pela aprendizagem.
“A ausência do ambiente escolar leva os alunos para uma rotina que não tinham anteriormente. Essa mudança faz com que elas estudem de outra forma e, muitas vezes, fiquem sozinhas”, destacou Daniela.
O afastamento das aulas presenciais desagradou aos jovens de 10 a 15 anos de idade: 75% deles afirmaram sentir falta de estudar e de aulas específicas, 33% sentem falta de um professor em si ou da presença de professores e 60% sentem falta do convívio social e dos amigos. “Estávamos intrigados para saber a opinião das crianças e, quando perguntamos o maior sonho delas, 17% responderam que era o fim da pandemia. Eles estão esgotados”, afirmou a diretora.
A pesquisa também levantou dados sobre o impacto-sócio econômico da pandemia que pode interferir diretamente no desempenho dos alunos. Entre os entrevistados, 34% afirmaram que a quantidade de comida para sua família foi menor que o suficiente e a alimentação das crianças e adolescentes avaliada como boa apresentou uma queda de 7% em relação ao período pré pandemia.
Ao todo, a pesquisa ouviu 1 315 pais e responsáveis que representam 2 151 crianças e adolescentes entre 4 e 18 anos, matriculados na rede pública ou fora da escola. Também foram questionados 218 jovens entre 10 e 15 anos.