
O filósofo britânico Roger Scruton dizia que se tornara um conservador em maio de 1968, na Paris incendiada por estudantes que saíam às ruas para gritar contra o sistema político, o capitalismo e a burguesia. “De repente percebi que estava do outro lado”, afirmou ao jornal inglês The Guardian. “O que vi foi uma máfia de fanáticos egoístas da classe média. Foi então que me tornei um conservador, soube que queria conservar as coisas, em vez de destruí-las.” A partir daquela percepção, ao longo de quarenta anos de carreira acadêmica e mais de cinquenta livros, ele virou ícone de um lado do pensamento ocidental. Corajoso, durante muito tempo foi cavaleiro solitário contra as ideias marxistas que grassavam pelo mundo nos anos 1980 e 1990. Apresentava-se, ironicamente, como “defensor do indefensável”. Em entrevista a VEJA, em 2011, ele resumiu um pouco de seu ideário. “A tradição da esquerda é julgar o sucesso humano pelo fracasso de alguns. Isso sempre lhe fornece uma vítima a ser resgatada. No século XIX, eram os proletários. Nos anos 1960, a juventude. Depois, as mulheres e os animais. Agora, o planeta.” No Brasil, um dos mais fervorosos divulgadores de Scruton foi o astrólogo e guia intelectual dos Bolsonaro, Olavo de Carvalho. Tinha 75 anos. Morreu de câncer, em 12 de janeiro.
Publicado em VEJA de 22 de janeiro de 2020, edição nº 2670