Pesquisa mostra que acesso à internet é ruim e desigual nas escolas
Embora quase 90% das instituições de ensino tenham conexão, menos de 30% têm equipamentos para uso coletivo, limitando o acesso
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) têm se tornado essenciais no ensino e na aprendizagem, graças ao seu potencial para introduzir novas práticas educacionais e democratizar o acesso à informação. Reconhecendo a importância das TIC no contexto escolar, foi recentemente lançada a Estratégia Nacional de Educação Conectada (ENEC), que estabelece parâmetros de qualidade para as instituições escolares, como a velocidade ideal de conexão por aluno e a priorização do número de alunos no maior turno da escola. Esses parâmetros têm o objetivo de permitir que os estudantes realizem atividades que demandam maior banda e menor latência, como o streaming de vídeo.
No entanto, o levantamento “Panorama nas Escolas”, realizado pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), divulgado nesta quinta-feira (23) durante o 14º Fórum da Internet no Brasil (FIB) mostra que a quantidade e a qualidade dos acessos à internet nas escolas públicas brasileiras ainda está muito aquém do desejável. O documento oferece uma visão sobre o estado da conectividade à internet nas escolas, destacando a importância das Tecnologias de Informação e Comunicação no cenário educacional e as disparidades regionais e rurais que ainda persistem.
Estatísticas Reveladoras
Os dados apresentados pelo “Panorama nas Escolas” revelam que das 32 mil escolas com mais de 50 estudantes no maior turno monitoradas pelo Medidor Educação Conectada, apenas 3.640 têm velocidade de conexão adequada.
Embora a qualidade da Internet nas escolas públicas brasileiras tenha avançado nos últimos anos, o uso pedagógico em sala de aula ainda é uma realidade distante para a grande maioria delas. Das 137.208 escolas estaduais e municipais espalhadas pelo país, 89% estão conectadas à rede, sendo que 62% declaram ter Internet para o processo de ensino e aprendizagem e somente 29% contam com computadores, notebooks ou tablets para acesso às redes pelos alunos. Aquelas que possuem algum equipamento têm, em média, 1 dispositivo para cada 10 estudantes no maior turno escolar. Estes números expõem a lacuna significativa entre a disponibilidade de internet e seu uso efetivo para fins educacionais.
Desigualdades Regionais e Rurais
Há uma evidente desigualdade na cobertura e qualidade da conexão entre as diferentes regiões do Brasil. As regiões Norte e Nordeste, especialmente fora dos grandes centros urbanos, apresentam menor cobertura e qualidade de conexão. Em contraste, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste mostram uma quase universalização da internet nas escolas.
As disparidades são ainda mais acentuadas entre áreas rurais e urbanas. Escolas localizadas em áreas rurais, comunidades indígenas e assentamentos enfrentam maiores desafios para obter uma internet de qualidade em comparação com suas contrapartes urbanas.
Velocidade de Conexão
Em relação à velocidade de download por aluno no maior turno, a média nacional está abaixo do 1 Mbps recomendado. Mesmo assim, houve evolução de 2022 para 2023, passando de 0,19 Mbps para 0,26 Mbps. Estados como o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Goiás são os mais bem colocados nesse quesito, com velocidade em torno de 0,5 Mbps por aluno. Na outra ponta estão Amazonas, Acre e Amapá, com cerca de 0,1 Mbps por estudante. “Embora esses estados do Norte tenham uma qualidade de Internet muito baixa para uso em atividades de ensino, vale ressaltar que eles foram os que apresentaram os maiores avanços em relação a 2022″, afirma Cristiane Honora Millan, uma das autoras do estudo.
Recomendações para o Futuro
O documento enfatiza que políticas futuras devem focar nas variações da qualidade da internet entre diferentes regiões e tipos de escolas. É crucial aumentar a disponibilidade de conexão para fins de aprendizagem e garantir a quantidade adequada de equipamentos para os alunos. A publicação destaca a necessidade de uma conectividade adequada para acompanhar a evolução das TIC e assegurar que todos os alunos tenham acesso a essas ferramentas essenciais no ambiente escolar.
A análise apresentada pelo “Panorama nas Escolas” sublinha a urgência de ações coordenadas para superar os desafios de conectividade e garantir que as TIC possam realmente transformar o panorama educacional brasileiro, promovendo uma educação mais inclusiva e de qualidade.