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O monge pop no Brasil

Best-seller, o coreano Haemin Sunim marcou presença na Bienal do Rio, onde falou sobre redes sociais e educação; sobrou até um tempinho para meditar

Por Maria Clara Vieira
Atualizado em 3 set 2019, 17h29 - Publicado em 3 set 2019, 16h51

Aos 46 anos, o monge budista Haemin Sunim incorpora quase todos os estereótipos da vocação: pouco cabelo, roupas simples e fala mansa. Nada disso o impediu, entretanto, de ser um sucesso estrondoso no universo imagético das redes sociais e no mercado da literatura. Em 2012, Sunim lançou em seu país natal, a Coreia do Sul, o livro As Coisas Que Você Só Vê Quando Desacelera: menos de 200 páginas preenchidas com frases curtas divididas por temas como “descanso”, “atenção plena”, “paixão” e relacionamentos”. Em 2016, escreveu Amor Pelas Coisas Imperfeitas, na mesma toada da autoajuda. Resultado: o monge bombou. Suas obras, publicadas no Brasil pela editora Sextante, chegaram a mais de 30 países e venderam mais de 3 milhões de exemplares, tornando o coreano um fenômeno da internet, com mais de um milhão de seguidores no Twitter.

Apesar de ser usuário assíduo da tecnologia, Sunim faz questão de lembrar que as redes são “só uma ferramenta”, que deve ser usada com parcimônia. Em visita ao Brasil para a Bienal do Rio, onde passou pelo Fórum da Educação, relativizou o mundo das “curtidas” contando sobre uma viagem ao Canadá, onde caminhou por horas, enfrentou vários mosquitos e chegou ao destino morrendo de fome: percurso coroado com uma selfie sorridente. “Precisamos lembrar que quando vemos as fotos dos nossos amigos na internet nos deparamos apenas com um momento, não sabemos o todo”, disse. Durante a palestra, o monge falou também sobre a importância da leitura no aprendizado. De quebra, fez exercícios de respiração e meditação com a plateia. Abaixo, trechos da entrevista que Sunim concedeu a VEJA.

Como você decidiu se tornar um monge budista? Desde muito jovem, me interesso muito pelas perguntas de “por que nasci?” ou “quem sou eu?”. Sentia como se tivesse sido jogado neste mundo sem nenhum tipo de explicação. Meus pais nunca foram particularmente religiosos, sempre minha curiosidade o que me levou a ler muitos livros sobre espiritualidade desde cedo. Quando estava na faculdade, decidi estudar religião e cheguei a um ponto em que percebi que, para ampliar minha experiência espiritual, precisaria dar o grande salto e me tornar um monge.

Quais são os assuntos mais comentados em suas palestras e redes sociais? As perguntas mais comuns estão relacionadas ao trato de emoções difíceis como raiva ou frustração; como perdoar ou deixar alguém ir embora. Normalmente, aconselho as pessoas com um profundo sentimento de frustração a tentar se tornar um observador “externo” de suas emoções sem ser completamente absorvido por elas. Ser o observador de suas emoções é um exercício muito simples capaz de fazer maravilhas em muitas ocasiões.

Muitas pesquisas mostram que os ‘millennials’ são muito menos religiosos do que seus pais. As pessoas têm cada vez menos fé ou estão apenas fugindo de religiões “tradicionais”? Eu não acho que os millennials sejam particularmente religiosos mas, na minha opinião são, sim, muito espirituais. Em vez de se inscreverem em sistemas religiosos hierárquicos e rígidos tradicionais, eles são uma geração que deseja encontrar sua própria verdade, encontrar sua própria experiência pessoal, eles desejam sentir-se além do seu eu limitado e são menos propensos a acreditar em algo sem experimentar pessoalmente.

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Os jovens têm algo a perder ao descartar a espiritualidade? Acredito que viver a vida focada no materialismo e sem pensar em um sentido é uma escolha respeitável. No entanto, esse caminho levará a momentos em que a vida se torna incrivelmente chata ou incrivelmente dolorosa; quando temos que enfrentar situações que envolvem doenças ou a morte, fica muito mais difícil passar por elas e permanecer com esperança sem acreditar em qualquer coisa maior.

Você já foi mal interpretado por algo que publicou na internet? Como monge budista muito ativo nas mídias sociais, experimentei que, por mais útil que seja, também posso ser muito limitado e complicado ao tentar expressar uma mensagem espiritual. Já experimentei diversas ocasiões nas quais ao dar conselhos sobre um tema muito pessoal, algumas pessoas o interpretam mais em uma perspectiva global ou social, fazendo com que parecesse algo impraticável ou irreal.

Como você acha que um líder religioso deve se comportar na internet? Devem falar sobre suas vidas pessoais ou se envolver em discussões para propagar sua fé? Acredito que a única coisa que um líder espiritual precisa ser é honesto. É a única forma de se conectarem com as pessoas comuns. Além disso, um verdadeiro líder está ciente de suas próprias sombras, e este conhecimento deve levar a uma abordagem menos crítica e mais compreensiva do ensino espiritual. No final, somos todos seres humanos e todos estamos tentando o nosso melhor de acordo com o que acreditamos.

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