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Exclusivo: Enem terá duas fases, provas por área e questões dissertativas

VEJA teve acesso ao texto aprovado pela Comissão especial do Conselho Nacional de Educação, formada para repensar o exame

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 7 dez 2021, 13h49 - Publicado em 7 dez 2021, 06h00

A comissão formada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE)  para definir como será o Novo Enem aprovou o relatório que traz diversas mudanças na principal prova de acesso às universidades brasileiras. O Exame terá de mudar para acompanhar o modelo de Ensino Médio que passa a ser obrigatório, a partir do ano que vem, nas escolas de todo país. As modificações na avaliação estão previstas para 2024.

Em vez de ter um currículo único, igual para todos os estudantes, os anos finais da educação básica serão compostos por uma base comum mais uma gama de disciplinas que apontam caminhos profissionais, os chamados Itinerários Formativos (IF’s). Assim, o aluno poderá escolher a área com a qual tem mais afinidade e interesse e, assim, se preparar para os desafios específicos do mercado de trabalho.

O novo Enem busca se adequar a essa estrutura. Em vez de uma prova única, composta por 90 questões múltipla escolha e uma redação, os conselheiros estão propondo um teste em duas etapas. A primeira seria obrigatória e comum a todos, avaliando principalmente as questões de linguagem, língua inglesa e leitura. A redação também ocorreria nessa fase. O objetivo dessa primeira parte é a “solução de problemas básicos que auxiliem a medir a capacidade de raciocínio e argumentação do estudante, saindo do foco conteudista que pauta o exame atualmente”, diz a ementa.

Já a segunda etapa seria dividida em quatro áreas associadas aos cursos superiores, obedecendo a seguinte divisão:

Ciências, tecnologia, engenharia e matemática, que classificaria alunos para cursos de engenharia, química, matemática, física e computação, entre outros.

Ciências sociais aplicadas, que selecionaria para cursos de economia, administração, contabilidade, ciências sociais, direito e etc…

Humanidades, Linguagens e Artes, para cursos de filosofia, história, geografia, artes, letras, pedagogia, por exemplo.

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Ciências biológicas e saúde que elegeriam os candidatos dos cursos de medicina, enfermagem, fisioterapia, biologia, meio ambiente e outros.

“A segunda etapa do ENEM deverá avaliar os itinerários formativos do ensino médio, observando os eixos estruturantes dos itinerários e o aprofundamento das competências e habilidades da BNCC pelos estudantes em suas áreas de interesse relacionados ao seu projeto de vida e sua opção de estudos em nível superior”, recomenda a relatora Maria Helena Castro, no parecer. Caberá às universidades definir como utilizarão os resultados dos exames para definir os critérios de aplicação do SISU, o sistema unificado que seleciona os aprovados mediante o desempenho do teste.

Outra novidade é a introdução de questões dissertativas – e não apenas de múltipla escolha, como atualmente. O modelo foi traçado após análise de exames classificatórios para universidades utilizados nos Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido e China. Um painel com cinco especialistas em avaliação também foi ouvido. “Observou-se um certo consenso acerca da necessidade de incluir questões dissertativas no exame para avaliar uma formação com ênfase no desenvolvimento de competências como propõe a Base Nacional Comum Curricular”, diz o documento.

Uma das preocupações do Conselho é a correção da prova, dado o grande número de estudantes que se inscrevem a cada ano no Enem. Para diminuir custos e permitir a divulgação dos resultados em um curto período de tempo, a comissão  propõe a utilização de Inteligência Artificial no processo de correção.

Os especialistas do Conselho também estão propondo que a Teoria de Resposta ao Item (TRI), metodologia que afere o desempenho do candidato segundo o grau de dificuldade de cada questão, seja aplicada de maneira dinâmica, enquanto a prova é realizada: “é apresentado um item a ele, a partir da resposta é feito o cálculo da proficiência, que elege o item seguinte. O estudante vai percorrendo os itens até que se chegue à proficiência”, propõe o texto.

A mudança poderia reduzir o número de questões do teste pela metade. No entanto, dependeria de dois fatores que hoje não ocorrem: a prova teria de ser digital para todos os inscritos e as perguntas não poderiam ser publicadas após serem aplicadas, o que depende de alteração da legislação atual. Atualmente, a escassez de itens é um dos principais problemas na formulação do Enem. A solução seria ampliar radicalmente o banco de questões, possibilitando a aplicação em mais de uma edição do exame.

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Outra das principais novidades sugeridas pelo Conselho é a aplicação da prova em três ocasiões diferentes a cada ano, a exemplo do que ocorre com o  SAT, um dos exames mais utilizados nos Estados Unidos. A medida faria a quantidade de candidatos por edição diminuísse e permitiria que os estudantes tivessem uma chance de ingressar na faculdade a cada quatro meses.

O modelo da prova, recomendam os especialistas, deve seguir o PISA, exame internacional aplicado nos países membros da OCDE, a organização que reúne as nações mais desenvolvidas do mundo, para medir a qualidade da educação.

O texto já foi aprovado na comissão especial e, agora, será encaminhado ao Ministério da Educação para homologação do ministro. A votação do plenário do CNE está prevista para janeiro. O órgão é apenas consultivo, ou seja, para o novo Enem se tornar realidade depende da anuência do ministro Milton Ribeiro.

A edição do Enem desse ano foi marcada por tentativas de ingerência política na prova, o que motivou a demissão coletiva de 52 servidores do Inep, órgão responsável pela avaliação, de seus cargos.

 

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