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Brincar é preciso

Bibliotecas de brinquedo, quem diria, estão transformando o dia a dia de crianças na África do Sul

Por Monica Weinberg, de Joanesburgo
Atualizado em 6 mar 2018, 21h53 - Publicado em 6 mar 2018, 21h30

Um novo tipo de biblioteca está aparecendo na África do Sul: no lugar de livros, ela oferece brinquedos à vontade. Não é assim uma Disneylândia. Esqueça itens motorizados, vistosos e caros. Ali tudo é simples e por isso mesmo chama a atenção pelo alto impacto. Como em uma biblioteca tradicional, a criança leva o brinquedo para casa – uma iniciativa despretensiosa que resulta em efeitos concretos e positivos.

O sistema para dar certo também não tem nada de complicado. “O brinquedo precisa ser usado na idade correta, estar adequado ao estágio de desenvolvimento da criança e ter alguma conexão com a sua cultura”, explica Monica Stach, estudiosa dos benefícios da brincadeira para o aprendizado e CEO da ONG Cotlands, baseada em Joanesburgo. O ponto número dois é decisivo para fazer da experiência um marco no desenvolvimento infantil. “Os pais recebem uma boa orientação sobre como brincar com a criança”, diz Monica.

O projeto ainda não tem tanta escala — alcança 12 000 crianças em seis províncias sul-africanas –, mas 300 000 estão no radar. Veem-se essas bibliotecas em toda a parte: hospitais, igrejas, escolas. Em torno delas, há também encontros que reúnem pais e filhos, para brincarem em parceria com outros. Tudo ocorre fora da grade escolar, embora já sirva para sedimentar noções que serão valiosas para absorver o conhecimento que virá depois.

O relatório Pedagogia do Brincar, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, enfileira os benefícios desta atividade há até bem pouco tempo dissociada do aprendizado: “A brincadeira ajuda a criança a tirar sentido do mundo em que vive, muda a maneira de buscar e firmar amizades e o modo como seu intelecto é moldado e estimulado.” Por todas essas evidências, os pesquisadores defendem que brincar deve ser uma arma pedagógica, uma tática para ensinar de modo atraente e afeito ao universo infantil.

Algumas rodas na educação ainda torcem o nariz para a ideia de fazer da brincadeira um ato de aprendizado: como se ela perdesse a espontaneidade que lhe é inerente. Mas não precisa ser desse jeito. “Basta que o currículo seja bem pensado, de modo a tirar o melhor da brincadeira sem desfigurá-la”, alerta Andre Viviers, especialista em desenvolvimento da primeira infância na Unicef. Ele completa: “O que se pratica hoje na sala de aula está fora de moda, é ultrapassado, maçante. O caminho é brincar seguindo um fio da meada.”

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A ciência tem investigado a fundo o que funciona neste campo que agora se abre na educação. Um deles: aprender manuseando brinquedos contribui para fixar o conhecimento. A ONG Care for Education levou adiante um projeto com a Fundação Lego que volta à ideia de que a brincadeira não precisa ser sofisticada para chegar a algum lugar. Um piloto que alcança hoje 300 escolas da África do Sul se resume a seis blocos – isso mesmo, só seis – de tamanhos iguais e cores diferentes. A partir daí, uma equipe liderada pelo professor Brent Hutcheson, o inventor da ideia, produziu um caderno com 300 atividades sugeridas para a sala de aula. “As tão celebradas capacidades do século XXI são assim estimuladas desde os primeiros passos: criatividade, resolução de problemas, flexibilidade de raciocínio”, diz Brent.

O Brasil, que finalizou não faz muito tempo o primeiro currículo para a pré-escola, não está alheio ao debate. Tanto que incluiu no texto a ideia de que brincar, com algum norte, é preciso. A partir de agora é treinar os professores – e torcer – para que teoria se converta em boas práticas. A especialista Monica Stach deixa o aviso: “Há uma inclinação natural para brincar. Que se extraia o melhor disso.”

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