
O destino da criança e do jovem é, inevitavelmente, crescer. Crescer significa superar a infância e a adolescência e, desse modo, atingir a maturidade. Temos, entretanto, com os estilos de vida adotados na atualidade e com alguns valores sociais fortes que seguimos, criado inúmeras dificuldades que vêm atrapalhando o desenvolvimento dos mais novos e, portanto, a entrada deles na vida adulta.
Isso gera consequências não apenas para eles próprios, como para toda a sociedade, que passa, assim, a ter uma legião de adultos na idade cronológica mas que se comportam de modo infantil ou juvenil. Eles acreditam que têm liberdade, porém não percebem que ela não existe sem a autonomia possível de ser alcançada; permanecem na dependência, principalmente emocional, porque não entendem a interdependência nas relações pessoais, por olharem principalmente para si; não mostram resiliência, tampouco perseverança, quando elas se fazem necessárias ante as inúmeras e cotidianas vicissitudes da vida.
O fato de o mundo adulto ter adotado o estilo juvenil de viver colabora muito para que os mais novos evitem crescer. É que crescer dói, e, entre a dor e o conforto, muitos têm escolhido, mesmo sem perceber, o conforto de permanecer jovem em vez de encarar a vida adulta com todos os compromissos e responsabilidades que ela nos impõe. E as famílias? Têm sua parcela de responsabilidade nessa questão? Sem dúvida. Há, principalmente na classe média — mas não apenas nesse segmento da sociedade —, muitos comportamentos que os pais têm com os filhos que também desfavorecem o desenvolvimento deles.
O primeiro mau comportamento é o que chamamos de superproteção, que nada mais é do que proteger o que não precisa mais de proteção, poupar os filhos da realidade da vida que, mais ou cedo ou mais tarde, deverão enfrentar por conta própria. O problema é que, quanto mais tarde eles desenvolvem mecanismos pessoais para fazer frente às demandas da vida real, menos recursos eles têm disponíveis para viver. Por que organizamos a vida de nossos filhos quando eles já têm condições de fazer isso? Por que acordamos mais cedo para chamá-los se eles já podem fazer isso sem nossa ajuda? Por que realizamos tarefas domésticas que dizem respeito ao pequeno universo deles — arrumar a cama, organizar o banheiro após o banho ou deixar em ordem as roupas de que vão precisar, por exemplo —, se eles podem assumir essas responsabilidades? Por que interferimos tanto nos problemas que eles enfrentam na vida escolar?
Esses são alguns exemplos que fazem parte de nosso cotidiano e que nos levam a pensar que, ao executarmos tais tarefas, estamos sendo boas mães e bons pais. Mas é exatamente o oposto: somos melhores mães e pais quando colaboramos para que o destino deles se realize, ou seja, quando oferecemos condições para que cresçam. Achamos ter, como pais, algumas vantagens quando, mesmo involuntariamente, agimos para que eles permaneçam com a criança — que não são mais — dentro deles: estarão sempre por perto porque precisarão de nós. Mas não seria melhor ter os filhos adultos por perto por admiração e reconhecimento de nosso árduo trabalho para torná-los adultos?
Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2018, edição nº 2608