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Trégua nos mercados: até onde há espaço para recuperação dos ativos brasileiros

Ativos locais ensaiam recuperação de olho em evolução da política fiscal e credibilidade da política monetária

Por Da Redação Atualizado em 12 dez 2024, 09h06 - Publicado em 12 dez 2024, 08h22

A expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) traria uma mensagem dura na sua decisão de juros serviu de alívio para o mercado nos últimos dias, em um momento crítico de troca no comando do Banco Central. Embalados pela expectativa de que a autoridade traria uma mensagem incisiva sobre a trajetória da inflação e sobre o pacote fiscal do governo, os ativos locais ensaiaram um ritmo de recuperação, com o Ibovespa fechando ontem em alta com alta de 1,06%, aos 129.593 pontos — o terceiro avanço consecutivo. O dólar, na mesma linha da melhora na percepção de risco, cedeu 1,53%, cotado a R$ 5,95 – pela primeira vez abaixo dos R$ 6 em dezembro — e abre o dia novamente em queda. No fim, o Copom trouxe a mensagem que se esperava. Agora, a grande dúvida é até onde a trégua pode ir.

Ontem, a moeda americana já havia iniciado o dia em viés de baixa, refletindo a melhora no clima entre governo e Congresso em um momento de crescentes expectativas para a tramitação do pacote fiscal. Havia receio de mais desgastes entre o Legislativo e o Executivo depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu o pagamento de emendas parlamentares, sob alegação de falta de transparência na destinação das verbas. Em um aceno político, o governo divulgou uma portaria que viabiliza o pagamento de emendas ainda este ano, atendendo às regras impostas pelo STF, mas com margem de reinterpretação em pontos que deixaram o Congresso insatisfeito.

Circulou também entre operadores de mercado a notícia de que o presidente Lula iria se submeter a uma nova cirurgia para evitar sangramentos no cérebro. Roberto Kalil, médico responsável pelo caso, disse em coletiva de imprensa que “o procedimento é relativamente simples, de baixo risco” e visa “minimizar risco de sangramento no futuro”. Segundo interlocutores de mercado, ventilou-se nas mesas de operação a leitura de que o estado de saúde do presidente poderia interferir em uma eventual disputa à reeleição em 2026.

Mas a verdade é que o ajuste fiscal continua cobrando seu preço. É como uma bola de neve: na proporção em que os investidores passam a embutir maior prêmio de risco nos mercados de câmbio, bolsa e juros, além dos títulos públicos, o movimento se retroalimenta, com mais pessoas procurando fuga do risco e elevando ainda mais o prêmio exigido. A descompressão, nesse caso, só virá de duas frentes: da evolução na rota da política fiscal ou da segurança de continuidade técnica na política monetária. “Ficou para o Banco Central o papel de ser a autoridade que busca manter a credibilidade e trazer algum controle para os mercados”, afirma Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. 

O Copom foi claro: os impactos do pacote fiscal do governo sobre a taxa de câmbio e as expectativas de inflação “contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa”. Se esse cenário persistir, o Copom afirma que haverá nova alta da taxa Selic na mesma proporção, de 1 ponto percentual, nas próximas duas reuniões — uma indicação dura para a economia, mas positiva para a atuação do BC, uma vez que tais decisões serão tomadas já sob comando de Gabriel Galípolo. “Ao sinalizar que agirá de forma firme para buscar o cumprimento da meta de inflação, o Copom contribuirá para reduzir o prêmio de risco de inflação na curva de juros”, afirma Luis Cezario, economista chefe da Asset 1. 

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