Reformas e ajustes devem seguir para elevar PIB, diz presidente do BC
Ilan Golfajn fará discurso, neste sábado, no Fundo Monetário Internacional (FMI)
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, deve manifestar no discurso que fará em nome do governo brasileiro na sessão plenária do IMFC no sábado, 13, durante a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) que, em meio ao processo eleitoral para a escolha do próximo presidente da República, há “um aparente consenso em ascensão de que as reformas e ajustes” das contas públicas “devem continuar para elevar o crescimento sustentável” do País. O IMFC é o Comitê Monetário e Financeiro Internacional do FMI.
“Apesar do progresso da agenda de reformas adotada no Brasil nos últimos dois anos, o passo decisivo da mudança estrutural da Previdência Social ainda está para ser adotado”, comentará Goldfajn.
Nas suas palavras oficiais, o representante do Brasil destacará que a recuperação da economia está em curso, embora num ritmo menor do que o esperado. “A resiliência do País a choques externos é bem testada. Uma robusta posição do balanço de pagamentos, a taxa de câmbio flutuante, adequado nível de reservas, baixo nível de inflação e expectativas bem ancoradas de inflação sustentam a capacidade do Brasil de resistir a choques.” Segundo ele, a combinação das contas correntes equilibradas com investimentos estrangeiros diretos vigorosos é uma vantagem nacional.
Crescimento desigual
Para Ilan Goldfajn, desde abril o crescimento global tornou-se mais desigual. Ele deve apontar que, enquanto a perspectiva para a economia mundial no geral continua robusta, as condições financeiras de mercados emergentes ficaram mais apertadas. Na sua avaliação, a expansão dos Estados Unidos, apoiada por impulsos fiscais da reforma tributária, continuará forte e é projetada a permanecer desta forma em 2019. No caso da China, o país asiático tem administrado o equilíbrio da demanda do nível de atividade com uma redução calculada do seu PIB.
“Países emergentes importantes recuperam-se de recessões e desacelerações, embora geralmente em taxas mais modestas do que o esperado”, destacará Goldfajn, ressaltando que, mesmo com um cenário favorável, riscos requerem uma visão mais cautelosa da perspectiva para estas nações. Ele deverá enfatizar que as condições financeiras globais podem mudar. O mundo está em transição de um período de excepcionais políticas monetárias que estimulam a demanda agregada nas principais economias avançadas para políticas em condições normalizadas.
Na avaliação de Ilan Goldfajn, o gradual ciclo de alta de juros e redução do balanço de ativos pelo Federal Reserve são guiados por dados econômicos e boa comunicação, a ponto de ser altamente antecipada por agentes nos mercados. Porém, com a normalização da política monetária em plena evolução, “as condições financeiras tendem a mudar na mesma direção.” Em meio a este processo, o sentimento de mercado provavelmente terá um comportamento mais sensível, levando a menor apetite por risco. “Assim sendo, condições financeiras mais apertadas e episódios de volatilidade devem ser aguardados durante este movimento para um novo equilíbrio.”
Ilan Goldfajn também deverá destacar que a longa duração de políticas expansionistas e a situação favorável das condições financeiras pelo mundo gerou inconsistências e criou espaço para altos níveis de dívidas que requerem ajustes. “Enquanto este foi um desdobramento amplo pelo mundo, vulnerabilidades foram acentuadas em países com elevados descasamentos de moedas e necessidades financeiras.”
Tensões comerciais. Outro ponto importante do discurso de Goldfajn apontará que em muitos países a globalização e multilateralismo não têm apoio político, pois os benefícios da grande integração mundial não atingiu toda a população, com segmentos que não foram atendidos ou com políticas sociais que tiveram bases insustentáveis, o que gerou desequilíbrios que requerem “forte e urgente” correção.
Ele ainda deve falar, de acordo com seu discurso antecipado pelo Banco Central em seu site, que as tensões comerciais em curso, alimentadas pela descrença no multilateralismo, pioram as dificuldades, adicionando incertezas e podem levar a menor equilíbrio econômico, com a perda de eficiência global. “Os recentes episódios de volatilidade em mercados emergentes são parte deste ambiente em mudança”, deve frisar Goldfajn. Segundo ele, esta conjuntura é marcada por fatores idiossincráticos relevantes, mas as causas principais são internacionais, enquanto a liquidez e as condições financeiras mundiais estão em transição para padrões normais.
Na visão do representante do Brasil na plenária do IMFC, “dada a mesma natureza de choque, mercados emergentes podem ser afetados enquanto classe de ativos, mesmo que as economias individuais continuam a ser diferenciadas. “A materialização de riscos, como uma surpresa inflacionária nos EUA ou uma escalada de disputas comerciais prolongadas pode levar a deterioração das condições financeiras globais.”
Para Goldfajn, apesar deste cenário ser mais preocupante para mercados emergentes, com o processo de normalização da taxa de juros em economias avançadas, outros países podem ser afetados, inclusive em ativos de governos. Se tal situação for confirmada, o FMI precisará ter boas condições de funding para “assegurar a confiança na sustentabilidade fiscal e engendrar maior crescimento.”
De acordo com o representante do Brasil na plenária do IMFC, este quadro demanda atitudes resolutas em níveis nacional e multilateral. “A defesa de países começa no front doméstico, com a calibragem de políticas dentro de arcabouço consistente e, onde aplicável, taxa de câmbio flutuante para absorver choques. Adicionalmente, proteções, especialmente na forma de reservas internacionais ajudam a suavizar o caminho do ajuste.”