Diretor do BC admite: cortes de juros ficarão mais difíceis
Após relatório em que autoridade monetária eleva projeção de inflação e corta a do PIB, Hamilton Araújo reconhece que cenário dificulta alterações na Selic
No dia em que o Banco Central reduziu sua projeção para crescimento da economia brasileira e informou uma previsão de aumento da inflação maior que o esperado, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, reconheceu: está mais difícil pensar em novos cortes na taxa básica de juros, a Selic.
Em entrevista nesta quinta-feira, Hamilton afirmou que trazer a inflação para o centro da meta neste final de ano representaria um custo muito alto ao país. “O combate ao surto inflacionário envolve custo em termos de atividade. Não se pode combater a inflação sem custos. E, considerando que estamos entrando no último trimestre do ano, não tentaria trazer a inflação para o centro da meta agora”, disse.
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Segundo o relatório do BC, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE e considerado a “inflação oficial” do país, ficará em 5,2% neste ano, ante previsão anterior de 4,7%. A previsão para este ano se afastou ainda mais do centro da meta de inflação do governo, de 4,5% – o número apresenta tolerância de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.
O diretor do BC ainda admitiu que o espaço para dar continuidade ao movimento de queda dos juros se estreitou. Hamilton, contudo, descartou aumentar a Selic. “No relatório passado, entendíamos que a inflação ia convergir para 4,5% neste ano. Ocorreu esse choque que desviou a inflação temporariamente dessa tendência. Se não fosse esse choque, a inflação iria convergir para a meta neste ano”, afirmou, ao se referir ao choque nos preços das commodities agrícolas no Brasil e no exterior. “E a boa prática recomenda que esse tipo de impacto não seja combatido com choque de juros. Que se combata os efeitos de segunda ordem. Esse choque tende a ser revertido”, disse.
Em recente visita a Londres, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que ainda há espaço no Brasil para uma redução das taxas de juros. Falando a investidores durante a Cúpula de Mercados de Alto Crescimento, promovida pela revista The Economist, o ministro insistiu em que o governo continuará se utilizando de políticas monetárias para promover o crescimento. “Podemos ter uma política monetária ativa. Isso faz sentido no Brasil, onde o crédito ainda é relativamente restrito”, disse.
(Com agências Estado e Reuters)