Como 90% do PIB global conseguiu reduzir emissões sem frear o crescimento
Análise mostra avanço estrutural: emissões crescem menos que a economia e, em muitos casos, começam a cair
Dez anos após o Acordo de Paris, uma nova análise revela que o desacoplamento entre emissões de CO₂ e atividade econômica já é a norma na maior parte do mundo. Economias responsáveis por 92 por cento do PIB global conseguiram reduzir emissões ou, ao menos, crescer em ritmo maior do que o avanço da poluição desde 2015.
O levantamento, produzido pela Energy and Climate Intelligence Unit (ECIU), mostra que uma fatia crescente da economia mundial cortou emissões enquanto manteve a expansão econômica nos últimos dez anos. O estudo utiliza dados de consumo do orçamento global de carbono e analisa 113 países, que juntos representam mais de 97 por cento do PIB global e 93 por cento das emissões.
O relatório distingue dois movimentos. O desacoplamento absoluto ocorre quando as emissões caem mesmo com a economia crescendo. Já o relativo significa que as emissões continuam subindo, mas em ritmo menor que o avanço do PIB. Segundo a ECIU, 92 por cento da economia mundial e 89 por cento das emissões estão hoje em países que já experimentam um desses dois processos.
O resultado representa avanço importante em relação à década anterior ao Acordo de Paris, quando apenas 77 por cento do PIB global registrava algum tipo de desacoplamento. O ganho é ainda mais expressivo no caso do desacoplamento absoluto: entre 2015 e 2023, países que somam 46 por cento do PIB global reduziram emissões enquanto cresceram, contra pouco mais de 38 por cento no período anterior.
No total, o número de países que alcançaram desacoplamento absoluto subiu de 32 para 43 após o acordo climático. Já aqueles que registraram desacoplamento relativo passaram de 35 para 40.
A publicação chega num momento em que cresce a expectativa de que as emissões globais possam atingir o pico ainda este ano. Estudos recentes indicam que a China, maior emissor do planeta, está próxima desse ponto, e que a trajetória mundial pode mudar antes do fim da década. Mesmo assim, ainda há enorme distância entre a realidade atual e as metas do Acordo de Paris. Relatórios divulgados antes da COP30, realizada em Belém, mostraram que o mundo está fora do rumo necessário para limitar o aquecimento bem abaixo de 2°C e, idealmente, a 1,5°C.
O relatório anual “Emissions Gap”, do Programa da ONU para o Meio Ambiente, alertou que a incapacidade persistente de cortar emissões torna praticamente inevitável o arredondamento acima de 1,5°C neste século. As metas atualizadas dos países indicam aquecimento estimado entre 2,3°C e 2,5°C. Ainda assim, há avanços reais. As emissões globais seguem subindo, mas muito mais devagar do que há dez anos. A mudança estrutural está em andamento. Mais países estão curvando suas trajetórias, e as emissões chinesas estão estáveis há 18 meses, podendo já ter atingido o pico.
O desenho regional reforça essa tendência. Há desacoplamento generalizado na Europa e na América do Norte, bem como em grandes economias da América do Sul e do sul da África. EUA e União Europeia já desacoplaram de forma absoluta. Índia e China registram desacoplamento relativo, com o crescimento econômico avançando bem mais rápido que as emissões desde 2015.
A Europa Ocidental registra algumas das reduções proporcionais mais expressivas, impulsionadas pela eliminação do carvão e pela expansão das renováveis, casos de Noruega, Suíça e Reino Unido. Mais de 20 economias já mantêm desacoplamento absoluto há mais de duas décadas. No Reino Unido, os gases de efeito estufa caíram pela metade desde 1990, enquanto o PIB cresceu quase 80 por cento. O país e a União Europeia já apresentaram metas que preveem redução de cerca de 90 por cento das emissões até 2040.
Economias emergentes também se destacam. Brasil, Colômbia, Egito, Jordânia e Moçambique migraram, na última década, de cenários em que as emissões cresciam mais rápido que o PIB para um quadro de desacoplamento absoluto.
O impulso gerado pelo Acordo de Paris é irreversível. O avanço da energia solar, por exemplo, supera as previsões pré-Paris. Além disso, o investimento global em energia limpa já é praticamente o dobro do destinado a combustíveis fósseis. Indústrias ligadas ao net-zero crescem três vezes mais rápido que a economia global.
O relatório é divulgado semanas após a COP30, que aprovou um acordo amplo para acelerar a ação climática e ampliar o financiamento para adaptação, mas frustrou países e organizações que queriam um roteiro explícito para a transição global dos combustíveis fósseis e metas financeiras mais robustas. O impasse reacendeu questionamentos sobre a efetividade do Acordo de Paris, amplificados durante a gestão Trump, que retirou os Estados Unidos do tratado e classificou a mudança climática como “farsa”.
Apesar disso, a ECIU argumenta que os últimos dez anos transformaram a economia global, impulsionando tecnologias limpas e alterando trajetórias de emissões. O pico global ainda não foi alcançado, mas está mais próximo do que nunca, reflexo direto do papel do Acordo de Paris em acelerar investimentos verdes, políticas climáticas e a adoção de tecnologias de baixo carbono.
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