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As perspectivas para a B3 em 2021

Com um novo perfil de investidores e de empresas dispostas a abrir o capital, a bolsa ganha impulso para seguir o bom desempenho registrado em 2020

Por Felipe Mendes, Larissa Quintino, Luisa Purchio Atualizado em 11 jan 2021, 10h40 - Publicado em 8 jan 2021, 12h02

Toda tendência traz consigo algumas margens para análise. No caso do mercado financeiro, o crescimento exponencial dos investidores individuais na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, tem algumas causas aparentes: o senso de oportunidade por entrar no mundo da renda variável após seguidas quedas da Bolsa — altamente afetada no início da pandemia, com direito a recordes de seis circuit breakers a facilidade para se começar a investir, trazida por corretoras que utilizam plataformas on-line e, claro, a percepção de que dinheiro não cai do céu. Após anos e anos com a taxa de juros altíssima, que impulsionava o investimento em renda fixa, a Selic em 2% ao ano tirou o investidor da zona de conforto. Agora, é preciso assumir o risco para se ter algum retorno.

O fato é que não foram poucos os que embarcaram no mercado de renda variável. Mais de 1,3 milhão de pessoas entraram no mercado de ações desde março. Com uma gama de novos entrantes na bolsa, muitas corretoras reduziram suas taxas para atrair esse novo perfil de investidor. “Como boa parte das pessoas físicas investem pouco, uma taxa de corretagem muito alta inviabiliza a atuação no mercado de ações”, diz Rodrigo Wainberg, analista da Suno Research.

O fenômeno dos investidores no mercado financeiro pode ser novo no Brasil, mas é realidade em outros países há muito tempo. Nos Estados Unidos, país acostumado com uma política monetária de juro baixo e crescimento econômico vigoroso, mais da metade da população, 55%, investe no mercado de renda variável.

Com a leva de recém-chegados à bolsa as empresas brasileiras passaram a olhar com mais atenção para o mercado de ações e recolher as recompensas da boa performance de seus negócios. Estrela da B3, tendo mais do que dobrado seu valor de mercado desde 2019, a indústria catarinense WEG é um exemplo desse ciclo positivo. “Atribuo esse reconhecimento ao investimento que fizemos em inovação e internacionalização, com fábricas em doze países, e uma visão de longo prazo”, diz o presidente da empresa, Harry Schmelzer Jr. Agora, diversas outras companhias buscam retornos semelhantes.

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De janeiro a dezembro, 28 empresas realizaram suas ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) e existe uma fila de mais de quarenta que planejam fazer o mesmo no início de 2021. A oportunidade de captar recursos por meio de abertura de capital atraiu companhias de vários segmentos da economia, como educação, construção civil, moda e varejo digital. Tamanha diversificação deve continuar e tornar o mercado de capitais mais atraente para o investidor. Em especial, o mais jovem.

São hoje mais de 430 na B3. Entre as que chegaram em 2020, estiveram a Ambipar, de gestão ambiental, passando pela varejista Petz, o Grupo Soma, dono das grifes Animale e Farm, e uma das maiores redes de hospitais do país: a Rede D’Or, que levantou 11,5 bilhões de reais em seu IPO, o segundo maior da história da bolsa. No ano passado ainda, ocorreram 23 ofertas subsequentes de ações (follow-on). Esse movimento, tanto dos CPFs investindo, como dos CNPJs captando traz um movimento importante e virtuoso.

Para manter a roda da economia girando de maneira sustentável, é preciso que ela se retroalimente. Com a perda dos ganhos da renda fixa, investidores pararam de achar que aplicações simples poderiam resolver seu futuro e tiveram de se mexer para ir atrás de mais ganhos. A geração que puxa os novos CPFs na Bolsa sabe que é ela quem precisa preparar seu próprio futuro, pois não há espaço para rentismo vitalício na realidade brasileira — algo ainda mais agravado pela pandemia. O mesmo vale para empresas que vêm percebendo que é necessário buscar investimento privado para prosperar ao invés de se escorar em pacotes de ajuda estatal ou linhas de crédito privilegiado de bancos públicos. É nesse ciclo que a economia brasileira precisa se guiar. Crescimento sustentável passa por investimento privado e é preciso que o arcabouço econômico realmente mude para sustentar o crescimento da bolsa, das empresas e do país.

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A própria B3 também deverá ter mais motivo para continuar ajudando na evolução do mercado e também como organização. A fusão da Cetip com a BM&FBovespa, que resultou na B3, aperfeiçoou os sistemas, mas isso não deve ser suficiente frente a uma nova competição que surge. “A renda fixa é muito limitada e parte disso acontece porque é de difícil acesso ao investidor do varejo. As empresas de infraestrutura de mercado e liquidação de bolsa tem um trabalho a fazer, como melhorar esse acesso e dar mais simplicidade para o investidor ganhar confiança”, diz Flávia Palacios, diretora da RB SEC, de securitização.

A Market 2 Market, por exemplo, primeira concorrente da B3 autorizada a operar como depositária de renda fixa, começará a operar este ano e pretende se expandir para CRIs, debêntures e ações. A empresa acredita que ocorrerá nesse mercado o mesmo movimento que se passou com os bancos e corretoras, que zeraram as suas taxas após maior transparência nas cobranças. “O modelo de negócio do século XXI é baseado em informação, e não cartório”, diz Rodrigo Amato, CEO da Market 2 Market. “Quanto mais informações, mais negócios, e isso é benéfico para o mercado”, diz ele. Segundo Rodrigo, foi muito difícil conseguir a sua aprovação junto à Comissão de Valores Mobiliários pelo ineditismo do pedido, mas o processo foi ainda mais complicado junto ao Banco Central e só foi aprovado porque “a atual diretoria do órgão tem uma cabeça muito pró-competição”.

No passado, tentativas de criar concorrentes à então BM&F foram frustradas. O cenário atual é diferente. Além de mais tecnologia disponível para novos sistemas, os juros baixos e o aumento da liquidez abriram o apetite do investidor brasileiro, que está maduro como nunca. Do outro lado, a B3 afirma que trabalha há tempos com a visão de que haverá competição crescente e cada vez mais acirrada em seus mercados de atuação. “O que vai garantir que sejamos a primeira escolha dos clientes em qualquer que seja o cenário de concorrência é a nossa capacidade de endereçar essas demandas, ser uma empresa ágil e capaz de oferecer uma infraestrutura segura e resiliente ao mercado brasileiro”, diz em nota. Concorrência e um mercado aberto a diversos participantes é um dos pilares do capitalismo, o que serve tanto para as empresas listadas em bolsa quanto entre as bolsas que vão disputar por abrigá-las. O novo e velho investidor, as empresas e a economia ganham ao mesmo tempo.

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