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Zezé Di Camargo e Luciano, os ‘comendadores’ do sertanejo

Com 40 milhões de discos vendidos em 24 anos de carreira, a dupla sertaneja construiu um império, com negócios no meio da construção civil e agropecuária, e continua firme no saturado gênero musical

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jun 2024, 10h40 - Publicado em 28 fev 2015, 08h35

“O mais importante pra mim, é olhar para trás e ter a certeza que quem mudou a vida da minha família, da minha ex-mulher e da família da minha ex-mulher fui eu. Podemos dividir nossa história familiar em antes e depois de mim.” (Zezé)

Em 2005, entrava em cartaz nos cinemas brasileiros o filme 2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira, que acompanhava o périplo de Zezé Di Camargo & Luciano, irmãos de família pobre no interior de Goiás, até se tornarem estrelas da música sertaneja. A trama de tom edificante levou 5 milhões de espectadores às salas e revigorou a imagem dos dois, que já haviam completado treze anos de carreira e começavam a perder o apelo da década de 1990, quando as duplas românticas viveram seu auge no Brasil.

Exatos dez anos depois, Zezé e Luciano, agora com 52 e 41 anos, respectivamente, ainda colhem os frutos da renovação de público que o longa trouxe e se mostram sólidos no abarrotado cenário sertanejo. Para além de serem uma das duplas mais longevas do meio, os irmãos também poderiam ensinar algumas lições para José Alfredo, o comendador da novela Império. Com um passado marcado por dificuldades financeiras, hoje os cantores se estabeleceram como dois importantes empresários, donos de investimentos nos mercados imobiliário e agropecuário.

“A gente apanhou no início, perdeu muito dinheiro. Não estávamos acostumados, éramos de família pobre, passamos fome. Ter um carro zero era uma utopia. Hoje faria muita coisa diferente”, diz Zezé em entrevista ao site de VEJA. Entre as lições que a vida lhe deu, está a superação dos desejos de menino deslumbrado com o que o dinheiro pode comprar. “Antes eu trocava de carro a cada seis meses, fazia coleção de relógios e de camisas de grife. Uma vez fui à Versace, em Paris, e comprei todos os modelos de camisa da loja. Hoje acho isso uma tremenda bobagem”, diz o cantor, que dirige uma Mercedes, ano 2008, e diz comprar roupas em lojas de departamento.

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Braço direito – A administração dos investimentos é responsabilidade de um terceiro irmão, que se destaca nos bastidores. “A gente canta, e o Emanoel conta”, diz Zezé sobre Emanoel Camargo, 43, empresário da dupla e cabeça dos negócios da família.

Entre as empresas administradas por ele estão uma de logística e uma incorporadora que atuam no setor imobiliário e de construção civil. Elas representam cerca de 65% da renda familiar. Os sertanejos também participam ativamente dos investimentos, mas Zezé tem uma paixão extra e também lucrativa. Aspirante a pecuarista, o cantor cria em uma generosa propriedade em Araguapaz, Goiás, gado nelore puro, que chega a valer até 1,5 milhão de reais por cabeça. Apesar de parecer um negócio e tanto aos olhos comuns, a participação da agropecuária na receita do grupo representa pouco menos de 5%. “É um hobby”, diz Emanoel. Já a música, contribui com os 30% restantes.

“Estes negócios são nosso futuro, a aposentadoria. Mas nosso principal produto é a música. Tudo que nós temos foi ela que nos deu”, diz Zezé. A aposentadoria, contudo, se mantém em um futuro distante, já que ambos não têm planos de encerrar tão cedo a carreira que chega aos 24 anos, com um histórico de 40 milhões de discos vendidos. “A música tem que ser eterna enquanto eu durar”, diz Luciano. “Eu fiz uma grande besteira no passado ao falar que ia me separar do meu irmão e parar de cantar. Foram cinco segundos de loucura. Você nunca mais vai ouvir isso de mim.”

Sertanejo – Deixar o sertanejo neste momento certamente não seria uma opção inteligente. O gênero ganhou novo fôlego nos últimos anos e voltou a dominar as rádios, televisões e rankings de mais vendidos. Em 2014, segundo lista divulgada pela agência Crowley, que mede quantas vezes as canções são executadas pelas emissoras do país, os sertanejos estiveram presentes em nove das dez primeiras posições. Zezé Di Camargo & Luciano aparecem na sétima posição, com a canção Flores em Vida, do 19º álbum de estúdio da dupla, Teorias de Raul. A aceitação da música pelo público foi tanta que ela acabou promovida ao título do novo DVD, gravado em janeiro, no Citibank Hall (SP), e que chega às lojas em abril. A agenda de apresentações dos goianos segue a alta do estilo e continua cheia, com uma média de 150 shows por ano, e cachê entre 200 000 e 250 000 reais.

Os artistas ansiosos por abocanhar uma fatia do próspero meio musical não provocam pesadelos nos irmãos, que se sentem isolados no mercado. “Nós somos a dupla mais romântica do Brasil. A sonoridade mudou, mas continuamos a gravar o mesmo estilo de sempre. Com tanta gente fazendo tudo igual, nós acabamos diferentes”, diz Luciano. “Hoje tem sertanejos que, na verdade, não têm nada a ver com estilo. Eles se autointitulam sertanejos para facilitar a difusão em rádio. Eles são tudo, axé, funk, mas não são sertanejos”, diz Zezé.

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A competição, aliás, nunca foi o forte da dupla, já que o bom relacionamento com outros artistas também faz parte da estratégia de sobrevivência (e lucro), especialmente para Zezé, que nos bastidores é um nome importante como compositor. A função de letrista foi uma das primeiras assumidas por ele, quando, no fim dos anos 1980, outros artistas passaram a entoar seus versos. Hoje, quem consome a maior parte do que ele escreve é a própria dupla, que tem uma gaveta com mais de 45 composições guardadas. “Se eu vivesse só com o que ganho como compositor eu teria um salário de um bom executivo de uma multinacional. Viveria bem”, diz. “Os maiores artistas que perpetuaram sua carreira eram compositores. Como Chico Buarque, os Beatles, Roberto Carlos. Esse é um dos segredos da nossa longevidade.”

‘Pra Você’, Paula Fernandes

“Eu quero ser ao teu lado/ Encontro inesperado/ O arrepio de um beijo bom/ Eu quero ser sua paz a melodia capaz/ De fazer você dançar”

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‘Mineirinha Ferveu’, Paula Fernandes

“Sou feito brigadeiro de colher/ Tão bonita e cheirosa como a flor/ Sou morena faceira, menina brejeira/ Do interior”

‘Solidão’, Leandro e Leonardo

“Na cabeça a sua imagem/ No meu peito uma vontade/ De ser o homem dela/ Eu de volta do trabalho/ Vou de novo pro meu quarto/ Vou te amar da minha janela”

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‘Aconchego’, Leandro e Leonardo

“Faça de mim/ A luz que ilumina a sua estrada/ Faça de mim/ Pedaços do seu céu na madrugada/ Faça de mim/ Água pra matar a sua sede/ O vento que balança sua rede/ Na quietude de uma noite/ Que te faz sonhar”

‘Gostoso Pecado’, Chrystian e Ralf

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“Nem que eu seja o último homem da sua vida/ Nem que eu seja seu último caso de amor/ Nem que eu seja a última razão de um sorriso seu/ Nem que eu seja história marcada pelo seu adeus/ Sou alguém que te levou ao céu sem cobrar a volta/ Sou aquele que impera no sonho da sua revolta”

‘Foge de Mim’, Chitãozinho e Xororó

“Foge de mim/ Faz tudo errado/ Me nega carinho/ Me deixa sozinho/ Me deixa arrasado/ Foge de mim/ Você me apronta/ Estou no sufoco/ Estou quase louco/ De cabeça tonta”

https://youtube.com/watch?v=VGqNTJ0cXe0

‘Cheiro de Maçã’, Leandro e Leonardo

“Toda noite é a mesma coisa/ Eu procuro e você não quer/ Faz de conta que está dormindo/ Nem parece que é minha mulher/ Tão cansada vira pro lado/ E eu na cama sofrendo calado/ Quatro horas da manhã/ Sinto o cheiro da maçã/ E o perfume do seu corpo”

‘O Que É Que a Gente Não Faz por Amor’, Gian & Giovani

“O que a gente não faz por amor?/ Mas o que a gente não faz por paixão?/ Briga com o mundo/ Pisa no fundo do coração/ E o que é que a gente não faz por amor?/ Mas o que a gente não faz por paixão?/ Fica perdido/ Aborrecido/ Na solidão”

Fama – Em tempos de redes sociais, o interesse pela vida pessoal de personalidades ganhou novas dimensões. Apesar das mais de duas décadas em evidência, Zezé e Luciano não perdem o interesse para os bisbilhoteiros de plantão e ainda chamam a atenção por suas vidas pessoais – um complemento incômodo, mas incontornável, da fama. Enquanto Luciano conseguiu se encaixar no papel do pai de família responsável, que mesmo com a agenda lotada leva suas filhas gêmeas, Isabella e Helena, de 5 anos, ao colégio de manhã e participa de reuniões escolares, Zezé caiu no circuito das fofocas.

No ano passado, o cantor e sua ex-esposa, Zilú Godoi, oficializaram o divórcio do casamento de três décadas, depois de quatro anos vivendo separados. Em maio, ela concedeu uma entrevista a VEJA, na qual falou abertamente sobre o fim do romance e as traições de Zezé. A confissão de Zilú desencadeou uma série de outras notícias que atraiu os olhares alheios e dividiu fãs entre os dois lados do casal, ou melhor, entre Zilú e a nova namorada, Graciele Larcerda, 33 anos, com quem Zezé está, segundo ele, há cinco anos.

“Nossa relação começou de uma maneira… Como dizer? A gente não manda no coração. Muitos encaram como algo que começou errado, mas quando o coração manda não tem nada de errado”, diz Zezé. “A exposição da minha vida pessoal não me agrada, mesmo que isso renda audiência para a dupla. Nos últimos anos minha intimidade passou a interessar mais que a carreira profissional. Por isso me isolei do mundo virtual”, diz o cantor que em janeiro apagou sua conta no Instagram e deixou no escuro seus quase 500 000 seguidores.

Por enquanto, o casal leva um relacionamento considerado para muitos como incomum. Graciele se dedica à agenda do cantor; não exigiu dividir o mesmo teto (ele mora em São Paulo, ela em Vila Velha, no Espírito Santo); e se mostrou desinteressada em engravidar, tanto que partiu dela o pedido para ele fazer vasectomia. “Ela é uma mulher nova que abriu mão de muitas coisas para estar ao meu lado. Ela não impede meu relacionamento com minha família e cada dia mais prova ser alguém simples, cúmplice e que não se importa com luxo ou riqueza”, diz Zezé.

Luxo e riqueza que a família evita colocar em números totais – por causa do trauma vivido por um dos irmãos, o cantor gospel Wellington Camargo, sequestrado em 1998 -, mas também não esconde. “O mais importante pra mim, é olhar para trás e ter a certeza que quem mudou a vida da minha família, da minha ex-mulher e da família da minha ex-mulher fui eu. Podemos dividir nossa história familiar em antes e depois de mim”, diz Zezé. “Este é o privilégio que eu tenho. Se no final da vida eu morrer sem nada, o que Deus me deu para viver, eu vivi, e sou eternamente grato. Sou um vencedor, antes de chegar ao fim da batalha.”

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