Walt Disney World completa 50 anos com novidades e programação especial
O cinquentenário calhou de ocorrer no momento em que a civilização busca o sorriso aberto, a alegria que já não encontrava entre quatro paredes
Para Walt Disney (1901-1966), o genial criador do ratinho que viraria sinônimo de entretenimento para crianças e adultos, os sonhos não tinham limites. No fim dos anos 1960, quando ousou fazer de um terreno alagado na Flórida uma extensão do bem-sucedido parque temático na Califórnia, ele resumiu a empreitada com a concisão das grandes mentes: “A Disneylândia nunca será completada. Ela continuará a crescer enquanto houver imaginação no mundo”. E assim foi desde sempre, como nos melhores contos de fadas, apesar dos percalços. A infinita capacidade de inovação — e o uso do adjetivo não é uma hipérbole — é o mantra da temporada de festas inaugurada agora em outubro, em dezoito de meses de celebração pelos cinquenta anos de história da Disney World de Orlando. Haverá uma coleção de inaugurações e novidades, algumas delas adiadas em decorrência da pandemia que parou o mundo e freou a fantasia — mas não a ponto de destruí-las. E, numa feliz coincidência, o cinquentenário calhou de ocorrer no momento em que a civilização busca o sorriso aberto, a alegria que já não encontrava entre quatro paredes.
Os números traduzem o interesse renovado. O setor de parques da Disney, que tem outras sedes fora dos EUA (Paris, Tóquio, Hong Kong e Xangai), obteve lucro de 356 milhões de dólares no balanço do segundo trimestre de 2021. No mesmo período do ano passado, em quarentena, houve prejuízo de 1,9 bilhão de dólares e 28 000 postos de trabalho foram suprimidos. O pulo do gato (ou melhor, do rato Mickey) virá a partir de novembro, quando as fronteiras americanas serão reabertas a viajantes que estiverem completamente vacinados, inclusive brasileiros. “Muita gente arriscou e comprou pacotes para a Disney mesmo sem saber se poderia ir”, diz Bruna Milet, diretora de publicidade e assuntos institucionais da agência Decolar. A procura pela Disney World no site e no aplicativo da empresa subiu 47% nos últimos quatro meses. Nem mesmo o dólar a mais de 5,50 reais assusta. “O câmbio sempre afeta o setor, mas o sentimento de demanda reprimida é um impulso”, afirma Bruna.
REMY’S RATATOUILLE ADVENTURE
Parque: Epcot
Lançado em 1º de outubro
Inspirada no filme de 2007 da Pixar, a atração promove um passeio em 4D pelo famoso restaurante parisiense Gusteau’s. Assim como já ocorre na Euro Disney de Paris, os visitantes se sentem “encolhidos” no tamanho do adorável roedor cozinheiro
Há surpresas magnéticas para a farra das cinco décadas, como a chegada à Flórida da espetacular montanha-russa Tron Lightcycle Roller Coaster, a principal atração da Disney de Xangai, na qual os visitantes permanecem inclinados, como se estivessem efetivamente pilotando uma moto fluorescente a quase 100 quilômetros por hora. Os inigualáveis shows pirotécnicos no Castelo da Cinderela e no globo do Epcot ganharam tons ainda mais vivos. Os novos espetáculos andam de mãos dadas com uma ferramenta que era obsessão do próprio Walt Disney: a tecnologia. Os parques, antes mesmo do que a Nasa, serviram de palco de testes de invenções que depois tomariam o cotidiano — e eles sempre abrigaram as inovações com pioneirismo. Hoje, a empresa tem mais de 500 patentes de robôs e conta com mais de 1 500 imageneers (jogo de palavras entre imaginadores e engenheiros), profissionais responsáveis por conceber as ideias e viabilizar novos projetos, sempre sob máximo sigilo. Um deles, a MagicBand, pulseira de borracha que abre as portas dos quartos dos hóspedes e acelera os pagamentos em lojas e restaurantes, virou peça comum em grandes cidades americanas e europeias — e celebrada em tempos pandêmicos, de medo do toque.
Outro truque global da Disney— uma mágica, para usar expressão tão querida de seus profissionais e frequentadores, mas também de seus fascinantes personagens — foi a criação de uma modalidade de turismo que instalou a hospedagem dentro dos próprios parques, como se estar acordado e sonhar fosse a mesma coisa. O conceito de resorts é 100% Disney. Não por acaso, um dos passos fundamentais dos cinquenta anos é radicalizar ainda mais essa conexão. O mais espetacular dos 27 resorts na Disney World oferecerá, a partir de 2022, uma experiência imersiva dedicado à saga Star Wars (veja o quadro).
TRON LIGHTCYCLE ROLLER COASTER
Parque: Magic Kingdom
Lançamento: 2022
Montanha-russa com carros em forma de motocicletas, inspirada na franquia Tron, com filmes lançados em 1982 e 2010. Há uma versão da brincadeira na Disney Xangai desde 2016, com velocidade de até 95 quilômetros por hora
DISNEY KITE TAILS
Parque: Animal Kingdom
Lançado em 1º de outubro
É um show musical de dez minutos, realizado seis vezes por dia, no qual artistas empinam pipas dos mais variados tamanhos e formatos representando famosos bichanos da Disney, como os personagens de Rei Leão, Timão & Pumba e Procurando Nemo
Como nem tudo são flores, e há sempre um vilão a incomodar os heróis, os executivos dos parques trataram de se debruçar sobre um dos mais sérios problemas da brincadeira, um desmancha prazeres arrasa-quarteirão: a espera em filas que podem durar até duas horas nas altas temporadas. Acaba de ser lançado, como troféu de aniversário, o Disney Genie, um sistema no qual o Gênio da Lâmpada do filme Aladdin auxilia os visitantes a planejar seu dia, com um itinerário personalizado. O app gratuito informa o tempo de espera em cada brinquedo. A versão paga (15 dólares por dia) permite fazer reservas e passar à frente de outros visitantes em determinados brinquedos.
STARS WARS GALACTIC STARCRUISER
Parque: Epcot
Lançamento: 2022
É um resort temático inspirado em Guerra nas Estrelas, no qual os hóspedes se sentem a bordo da nave intergaláctica Halcyon. Fantasias, atividades exclusivas e até mesmo o cardápio propiciam uma experiência “100% imersiva” durante duas noites
Fazer a fila andar, embora pareça banal, não é — trata-se de postura decisiva para quem lida com pessoas de carne e osso, ainda que envoltas em ambiente onírico. Em Onde os Sonhos Acontecem — Meus 15 Anos como CEO da Walt Disney Company, lançado em 2020, Bob Iger foi direto ao ponto, meses antes de deixar o cargo, em uma transição esperada: “A busca incansável pela perfeição não significa uma busca pela perfeição a todo custo, mas uma recusa em aceitar a mediocridade ou arranjar desculpas por algo ser ‘bom o suficiente’. Se acreditar que algo pode ser melhorado, faça um esforço para isso. Se você trabalha criando coisas, torne suas criações as melhores possíveis”. Como na Disney a fila anda, o raciocínio de Iger ecoa a sacada inaugural do pai de todos — enquanto houver imaginação, haverá espanto. Nunca é tarde para exibi-lo, mesmo aos cinquenta anos.
Publicado em VEJA de 27 de outubro de 2021, edição nº 2761