Uma atriz na ABL: Por que Fernanda Montenegro pode ser ‘imortal’?
Voltada para celebrar grandes escritores, a Academia Brasileira de Letras também abriga outras profissões representativas da cultura nacional

Aos 92 anos, a atriz Fernanda Montenegro se prepara para ser condecorada nesta quinta-feira, 4, como imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) – honraria concedida a quarenta integrantes efetivos e perpétuos da instituição, dela membros até a morte. No espaço deixado pelo escritor e diplomata Affonso Arinos de Mello Franco, falecido em março de 2020, Fernanda ocupará a 17ª cadeira, em votação, de certa forma, simbólica: a atriz é a única candidata à vaga. Ela deve assumir o posto em março de 2022, quando o órgão volta do recesso de fim de ano. A questão levantada por muitos é: o que faz uma atriz na Academia Brasileira de Letras?
Acontece que, a exemplo da Academia Francesa, o órgão tem como meta não só exaltar escritores, mas valorizar a cultura brasileira como um todo ao acolher os chamados “notáveis”, “expoentes em várias áreas do saber”, como explica o site oficial. Sendo assim, há membros historiadores, políticos, padres, médicos e cineastas, como Cacá Diegues, um dos fundadores do Cinema Novo, que ocupa a cadeira 7. O único requisito essencial é ter escrito um livro de grande importância – no caso de Fernanda, sua autobiografia Prólogo, Ato, Epílogo, se configura como tal.
Outro ponto importante, levado em consideração no momento da eleição, é o histórico de ocupantes da cadeira pela qual se disputa a vaga. Na 17ª, antes do diplomata Affonso Arinos de Mello Franco, estiveram: Antonio Houaiss, filósofo dicionarista e ex-ministro da Cultura de Itamar Franco; Álvaro Lins, advogado e crítico literário; Roquette-Pinto, pai da radiodifusão no Brasil; o poeta Osório Duque-Estrada; e o fundador Sílvio Romero, escritor e crítico. O patrono da cadeira é Hipólito da Costa (1774-1823). Com um leque tão amplo de áreas, faz sentido, então, que Fernanda Montenegro a ocupe também.
Além da 17ª cadeira, outros três espaços vagos na Academia estão em disputa. No próximo dia 11, deve ser decidido quem ocupará a 20ª, pleiteada pelo músico Gilberto Gil e pelo poeta Salgado Maranhão. Dizem os bastidores que Gil está praticamente eleito, mas Maranhão, nome cotado dentro da instituição há um bom tempo, pode surpreender. O espaço era antes ocupado pelo advogado, jornalista e escritor Murilo Melo Filho. Até o final do ano, outras eleições serão realizadas para escolher os novos ocupantes das cadeiras de Alfredo Bosi (12ª), Marco Maciel (39ª) e Tarcísio Padilha (2ª), mortos este ano.