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“Temos de pensar grande ao explorar o espaço”, diz Neil DeGrasse Tyson

O astrofísico falou a VEJA sobre a luta da ciência contra o obscurantismo, vida alienígena e viagens pelo cosmos

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h32 - Publicado em 6 nov 2020, 06h00

De onde vem seu dom de traduzir conceitos complexos da astrofísica para o grande público? A melhor ferramenta é a cultura pop. Passo meu dia rastreando assuntos de que as pessoas estão falando. O que Beyoncé fez no novo clipe dela? Qual a última declaração do papa? É muito mais eficaz explicar conceitos científicos a partir de coisas que mobilizem e sejam acessíveis às pessoas.

Se Carl Sagan falava para uma plateia ávida por ciência nos anos 80, o senhor hoje tem de lidar com negacionistas. Como chegamos a isso? Há muitas forças, especialmente as redes sociais, provocando divisões entre as pessoas. Involuímos rumo a um isolamento tribal, em que certos grupos não aceitam nada que contrarie suas visões — incluindo a ciência. Sagan atuou na Guerra Fria, quando o mundo era dividido em dois lados identificáveis. Hoje, temos desafios como o aquecimento global. Mas, em vez de pensar seriamente em combater a ameaça climática, perdemos tempo debatendo se o aquecimento existe ou não, ou até se a Terra é redonda ou plana.

Quais os riscos do ceticismo em relação à ciência? O grande risco é revivermos a sina dos dinossauros. Se não estamos nos entendendo nem sobre a emergência do clima, como nos preparar para a eventual colisão de um asteroide com a Terra? Não temos um plano para nos proteger de um evento como aquele que extinguiu os dinossauros há 65 milhões de anos. A diferença é que eles não tinham consciência do que poderia acontecer, nem como reagir — e nós temos o conhecimento científico para isso. Mas, se não revelamos bom senso nem para lidar com o clima, não será a tecnologia que vai proteger a civilização de um asteroide.

Por que o senhor ataca em seu livro a pressão religiosa para o criacionismo ser ensinado nas escolas? Se metade da população dos Estados Unidos quer acreditar que Adão e Eva foram reais e que a Terra surgiu há apenas 10 000 anos, não vejo problema — estamos em uma sociedade livre. Mas isso não é ciência. E, portanto, não deve ser ensinado nas aulas de ciências. Os cientistas não são inimigos da religião. Eles só trabalham num terreno em que as teorias têm de ser demonstradas de forma cabal para serem aceitas como verdades — o que não se aplica a sistemas de crenças.

A recente descoberta de uma substância orgânica na atmosfera de Vênus mostra que pode haver vida por lá? Fiquei surpreso, como a maioria de meus colegas, com o achado de moléculas de fosfina em um ambiente com temperaturas de 500 graus. O.k., a substância pode vir de uma forma pouco complexa de vida, ou simplesmente ser produto de algum fenômeno que nada tenha a ver com isso. Mas me empolga a possibilidade de vida em nossa vizinhança.

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Qual a probabilidade real disso? É enorme a chance de existir vida fora da Terra. Quanto mais estudamos, mais abrimos a mente para o fato de poderem ser formas de vida totalmente diferentes das que conhecemos, sob condições extremas. Mesmo na Terra, por sinal, a vida pode resistir às situações mais adversas, como as profundezas dos oceanos. A atmos­fera de um planeta como Marte, aliás, é amena se comparada à pressão colossal no fundo dos nossos oceanos.

O que a Nasa deve priorizar: a volta à Lua ou a exploração de Marte? É estreito considerar apenas uma destinação. Por que não explorar cada pedacinho do nosso quintal no sistema solar? Parto do pressuposto de que tudo isso só vai se viabilizar quando soubermos faturar com as viagens ao espaço. O gasto para enviar uma missão a um asteroide se pagaria, por exemplo, com a exploração de minérios lá. Fazer turismo na Lua custaria caro demais, mas que tal inventar uma loteria em que um ganhador a cada três meses teria direito a essa aventura? Temos de pensar grande.

Publicado em VEJA de 11 de novembro de 2020, edição nº 2712

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