Técnicas para alongar e dar volume aos cílios estão em alta
Sorte das clínicas, que apostam neles para aumentar a clientela
Os olhos revelam emoções. Os cílios são suas molduras. Símbolo de feminilidade há milênios — a rainha egípcia Cleópatra (69 a.C.-30 a.C.) usava óleo de amêndoas para fazê-los crescer —, tê-los longos, volumosos e curvados tornou-se hoje uma ambição difícil de ser contida. Como só o que tem aparecido da face são os olhos e a testa por causa do uso da máscara de proteção contra a Covid-19, o conjunto composto por olhos, cílios e sobrancelhas virou o centro de atenção do embelezamento. As pestanas, especialmente. Além disso, a profusão de reuniões on-line e de selfies na quarentena deu às mulheres a certeza de que um belo olhar deve ter como adorno celhas impecáveis. “É o único pelo do corpo que não se deseja tirar”, diz Kenia Luciana, proprietária da rede de salões de beleza Camarot, de São Paulo. “Ao contrário, espera-se que aumentem.” Durante a pandemia, Luciana viu o número de clientes crescer cerca de 60% somente em razão da procura por procedimentos de extensão ou alongamento dos pelinhos. Na rede MyLash, também na capital paulista, foram aproximadamente 70% a mais em 2021, em comparação com os dois últimos anos anteriores.
O fascínio pelos cílios é antigo. No Egito e na Índia, homens e mulheres aplicavam um pigmento negro à base de minerais de carvão para escurecê-los e proteger os olhos dos raios solares. Para os egípcios, a maquiagem significava ter a proteção de Horus, o deus do céu, do sol nascente e mediador dos mundos. No caso das mulheres, o alongamento dos fios aumentava o poder de sedução. Os olhos marcados caíram em desuso na Idade Média, retornando somente séculos depois, na era vitoriana, quando o perfumista da rainha Vitória (1819-1901), da Inglaterra, Eugène Rimmel, desenvolveu a primeira máscara de cílios. Era uma massa preta concentrada que levou o nome de seu criador — rímel. Publicações do fim do século XIX também ensinavam como alongar as pestanas, com dicas que iam de cortar as pontas dos fios para estimular seu crescimento a lavagem dos pelos com uma mistura de folhas de nogueira e água. Em 1882, notícias em Paris anunciavam os primeiros cílios postiços. Não era lá um método sofisticado: consistia em costurar fios de cabelos nas pálpebras. Vinte anos depois, em 1902, o estilista Karl Nessler patenteou, no Reino Unido, um método menos primitivo, a colagem de celhas artificiais. Por vezes não dava muito certo.
Os métodos foram refinados, facilitando a popularização de personagens com feições únicas, como as de Betty Boop, criada na década de 30 pelo polonês Max Fleischer — em 2012, a francesa Lancôme a homenageou com uma linha de máscaras. O cinema fez sua parte também. A atriz Rita Hayworth deu a Gilda, sua inesquecível personagem, longos e curvados cílios negros. O boom, porém, aconteceu nos anos 1960, pelas mãos — ou melhor, pelos olhos de boneca — da modelo Twiggy. Por causa dela, à época foram vendidos nos Estados Unidos cerca de 20 milhões de pares de cílios. Mais recentemente, as Kardashian (a família-celebridade mais conhecida do mundo) e as cantoras Beyoncé e Lady Gaga consolidaram a popularidade do uso das celhas grandes e volumosas. No Brasil, a tendência é seguida com entusiasmo. As atrizes Juliana Paes, Deborah Secco, Giovanna Antonelli e Giovanna Ewbank estão entre as fãs de cílios em evidência. A maravilha é que os métodos usados atualmente garantem resultados sem que seja necessário recorrer às tintas de carvão. As técnicas de extensão podem usar fios de cabelo, seda sintética e poliéster, muitas vezes os três simultaneamente. “Eles são implantados sobre os cílios originais e não entrelaçados com eles”, explica a empresária Kenia Luciana. “Assim, não há interferência na fisiologia dos cílios naturais.” No MyLash, a técnica é chamada de volume russo e se caracteriza pela colocação de dois a seis pelos para cada fio original. “São cílios mais finos e leves, por isso não pesam nem causam danos aos cílios naturais”, conta Carina Arruda, CEO da rede. Se os olhos são a janela da alma, e são mesmo, os cílios são hoje a turbina da beleza.
Publicado em VEJA de 15 de dezembro de 2021, edição nº 2768