Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Sylvia Plath: livro em prosa ilumina talento da poeta sofredora

Obra inédita no Brasil reúne textos da autora que ganhou fama após a morte trágica — e que hoje é um símbolo do feminismo e da melancolia pop

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h55 - Publicado em 16 out 2020, 06h00

Em Lady Lazarus, poema emblemático da americana Sylvia Plath (1932-1963), a jovem aspirante a escritora, infeliz com o relacionamento conturbado com o ex-marido, o poeta inglês Ted Hughes (1930-1998), discorre sobre suas perturbações enquanto flerta com o fim. “E eu uma mulher sempre sorrindo / Tenho apenas 30 anos / E como o gato, nove vidas para morrer.” Em um dos episódios mais trágicos da literatura americana, Sylvia desistiu da vida poucos meses após tecer o poema. No bilhete de despedida, apenas o nome e o número de seu psiquiatra. O adeus viria de fato na publicação póstuma de dezenas de textos inéditos, produzidos por ela incansavelmente nas madrugadas perto de sua morte, aos 30 anos.

johnny_panic_e_a_bíblia_de_sonhos_CAPA.indd
JOHNNY PANIC E A BÍBLIA DE SONHOS, de Sylvia Plath (tradução de Ana Guadalupe; Biblioteca Azul; 464 páginas; 59,90 reais e 39,90 reais em e-book) – (//Divulgação)

+ Compre o livro Johnny Panic e a bíblia de sonhos, de Sylvia Plath

Até então, Sylvia havia publicado apenas um livro de poesias, além de contos em periódicos literários. No material deixado por ela, estavam os poemas que a alçariam ao posto de autora incontornável, junto de crônicas, contos e divagações pessoais. Parte desse espólio em prosa deu origem a um livro publicado em 1977, quinze anos depois da morte da autora, em 11 de fevereiro de 1963, de uma autoinfligida intoxicação por monóxido de carbono. Outra versão tida como definitiva, que inclui contos considerados perdidos, trechos do que sobreviveu de seu diário (Hughes destruiu uma parte) e fragmentos jornalísticos, acaba de ganhar a primeira edição no Brasil. Johnny Panic e a Bíblia de Sonhos abarca catorze anos de produção, percorrendo desde seu texto mais antigo, feito quando tinha 17 anos, até o último, Blitz de Neve, criado nos derradeiros últimos dias de vida. Na crônica, ela descreve o árduo cotidiano em um apartamento gélido em Londres, para onde se mudou com os dois filhos após a separação, durante um tenebroso inverno — contexto ambiental apontado como agravante da sua condição depressiva.

+ Compre o livro Diários de Sylvia Plath: 1950-1962

Aclamada por seus poemas confessionais, construídos com métrica elegante e equilibrada, Sylvia transita das sutis variações da melancolia à falta de chão de quem almeja fugir da realidade. Na prosa, sobretudo, ela demonstra a qualidade que a mantém em alta até os dias de hoje: um olhar aguçado sobre dilemas profundos da alma. Há no livro desde sentimentos dos mais frugais até investigações complexas da condição humana. Do temor de uma criança acusada de algo que não fez, passando pela adolescente que almeja pertencer a uma irmandade no colégio, a casais em crise buscando uma reconexão. Entre os personagens, salta aos olhos a secretária de um hospital psiquiátrico obcecada por uma entidade causadora de suas paranoias — o Johnny Panic do título. É um possível alter ego de Sylvia, que foi recepcionista da clínica onde ela própria foi diagnosticada com transtorno mental e tratada com eletrochoques. Especialistas dos dias de hoje alegam que ela sofria de transtorno bipolar.

Continua após a publicidade

+ Compre o livro A redoma de vidro, de Sylvia Plath

De poeta oprimida, vinda de uma família desestruturada para cair em um casamento abusivo, Sylvia ganhou os holofotes com um empurrão da segunda onda feminista, nos anos 70. A autora foi transformada pelo movimento em musa sofredora de uma sociedade que não lhe dava ouvidos. Biografias mostram que sua tristeza crônica teria se agravado com as traições e o trato violento do marido famoso, além da rotina de dona de casa, que a impedia de escrever com a frequência desejada. Sylvia ganhou nova relevância recentemente, quase sessenta anos após sua morte, como uma espécie de símbolo pop da melancolia atual. Versos de sua autoria estampam de camisetas a publicações nas redes sociais. Assim como o Lázaro bíblico inspirou Lady Lazarus, seu poema célebre, Sylvia atesta a previsão de seus versos finais: “Saída das cinzas / Eu me levanto com meu cabelo ruivo / E devoro homens como ar”. A seu modo, ela renasceu para a eternidade.

Publicado em VEJA de 21 de outubro de 2020, edição nº 2709

VEJA RECOMENDA | Conheça a lista dos livros mais vendidos da revista e nossas indicações especiais para você.

Continua após a publicidade

CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

Sylvia Plath: livro em prosa ilumina talento da poeta sofredoraSylvia Plath: livro em prosa ilumina talento da poeta sofredora
Continua após a publicidade

Johnny Panic e a bíblia de sonhos, de Sylvia Plath

Sylvia Plath: livro em prosa ilumina talento da poeta sofredoraSylvia Plath: livro em prosa ilumina talento da poeta sofredora
Diários de Sylvia Plath: 1950-1962
Sylvia Plath: livro em prosa ilumina talento da poeta sofredoraSylvia Plath: livro em prosa ilumina talento da poeta sofredora
Continua após a publicidade

A redoma de vidro, de Sylvia Plath

logo-veja-amazon-loja

*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.