Sócio da ‘Playboy’ contesta acusações de assédio sexual
André Sanseverino alega que, em uma revista que vende sexo e nudez, perguntas 'pesadas' são parte da seleção de profissionais
Acusado de assédio sexual por nove modelos que trabalharam como coelhinhas em uma festa da Playboy, o fotógrafo André Sanseverino, um dos sócios da revista, diz viver o seu pior momento. Depois de três dias sem dormir, nesta quarta-feira tomou um comprimido para desligar do processo que o Fantástico, da Globo, tornou público no último domingo. Nele, figuram mensagens chulas que o empresário enviou às modelos pelo Whatsapp – “Você ficaria com alguém para se dar bem?” é uma das mais leves. Sanseverino não nega que tenha enviado textos “pesados”, como ele mesmo diz. Mas os justifica como uma espécie de entrevista de emprego, que serviriam para filtrar as mulheres mais indicadas para uma publicação que trabalha com nudez e sensualidade: modelos que fossem liberais, mas não garotas de programa. “A linha que separa sensualidade de vulgaridade é tênue”, afirma. E se defende atacando o advogado que o acusa. “Ele está suspenso, não pode exercer a atividade, isso é crime. Está me usando como vitrine e também usando mensagens de meninas que não estão me denunciando. É manipulação e extorsão.”
O empresário se refere a mensagens sobre incesto e sexo oral que, segundo ele, teriam sido enviadas a meninas que não estão entre as nove coelhinhas do processo. E também à situação de Marcello Roberto Lombardi junto à seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná. Lombardi, de acordo com a OAB-PR, está suspenso por deixar de prestar contas a um cliente. Não poderia, portanto, exercer a atividade de advogado. O processo que converte em réus Sanseverino e um de seus sócios na Playboy, o empresário do setor de RH Marcos Aurélio de Abreu, suspeito de conduta inadequada com as modelos, é assinado por sua irmã, Karina Lombardi. Para averiguar se Marcello, que vem dando entrevistas como o responsável pelo caso, tem realizado “atos privativos” de advogado embora suspenso, a OAB-PR instaurou um processo administrativo nesta semana. “Se provado o erro, ele pode receber sanção disciplinar, como uma advertência, e eventualmente isso pode configurar crime”, diz Eroulths Cortiano Jr., conselheiro-coordenador do setor de processos disciplinares da OAB-PR.
“É um caso de autopromoção”, diz Sanseverino. “Esse cara está fazendo um circo. Por mais que eu questione a índole dessas meninas, acho que estão sendo enganadas, usadas. Estão nas mãos de um calhorda.” A forma como Lombardi fala de seu alvo não é mais delicada. “O que esse homem fez é uma monstruosidade, tenho vergonha de viver no mesmo mundo que ele”, afirma o advogado. Segundo Lombardi, depois da reportagem do Fantástico, outras garotas o procuraram para denunciar o empresário. “Vieram várias ao meu escritório, chorando. Além das mensagens, Sanseverino disseminou a imagem de que essas garotas são prostitutas, e elas não conseguem mais trabalhar. Por isso, além da indenização por danos morais e lucros cessantes, queremos uma nota de desagravo na edição impressa da Playboy, que afirme que essas modelos não são garotas de programa.”
A indenização por danos morais pedida no processo é de 100 000 reais para cada uma das nove coelhinhas representadas por Marcello Lombardi. Outros 5 000 reais mensais, a serem pagos por um período que equivaleria ao da vida útil como modelo, são requeridos para cada uma como indenização por lucros cessantes. “Lucro cessante diz respeito ao que você deixa de ganhar por estar incapacitado de trabalhar. Se você é taxista e batem no seu carro, além do valor do conserto, você precisa receber o que deixou de ganhar trabalhando”, explica Lombardi.
Severino protesta contra o valor. “Se você fizer as contas, isso dá milhões de reais por uma conversa de Whatsapp, um aplicativo que as pessoas podem bloquear”, diz. “Eu sou classe média. Viajo de São Paulo para o Paraná a cada duas semanas de ônibus, para ficar com a minha namorada e a minha família, me hospedo na casa da minha mãe.”
O processo foi aberto em março. Segundo Marcello Lombardi, é possível que na próxima semana a defesa se pronuncie. A partir daí, o juiz pode marcar uma primeira audiência. Hoje trimestral, a Playboy tem uma tiragem entre 25 000 e 30 000 exemplares.
‘Mensagens pesadas e editadas’
Uma das estratégias da defesa, adianta Sanseverino, é a de mostrar que algumas das mensagens anexadas ao processo por Marcello Lombardi não foram enviadas a nenhuma das garotas que ele representa. Outra é pedir que as conversas sejam apresentadas na íntegra no processo. Isso, diz o empresário, daria sentido às “mensagens pesadas”. “As conversas estão editadas no processo, só aparecem trechos”, afirma. “Houve muita troca de mensagem até chegar a determinado ponto. Minha ideia é testar os limites das meninas. Saber se alguém transaria com a irmã de fato não vai dizer se ela é garota de programa, mas vai dizer que é alguém sem escrúpulo”, justifica-se.
Sanseverino afirma ser procurado por cerca de 50 garotas por semana, e submeter todas a um filtro. “Qualquer conversa que eu tenha com meninas interessadas em trabalhar para a Playboy não vai ser uma conversa familiar. Eu trabalho com nudez. Se eu me excedi, foi porque a conversa correu.”
Coelhinhas que retornaram
Outra questão a ser levantada pela defesa de André Sanseverino é o fato de duas das nove coelhinhas que o acusam de submetê-las a perguntas constrangedoras para conseguirem trabalho na Playboy terem voltado a atuar em uma festa da revista após o ocorrido. O caso de assédio teria acontecido em agosto, quando houve uma festa em Florianópolis com participação das garotas, que então entraram em contato com o empresário pelo Whatsapp. Em novembro, Lyenne Moraes Abdala de Almeida e Nadia Kelly Rocha do Nascimento participaram de outra festa, a Playboy Night Spirit no Wood’s Bar Curitiba, na capital paranaense.
A informação é confirmada pela PBB Editora S.A., empresa que adquiriu os direitos de publicação do título no Brasil, e que afastou André Sanseverino do negócio depois do escândalo – com 20% de participação, ele é sócio minoritário; Marcos de Abreu é o principal, com 60%. “A intermediação e a alocação das promotoras foram realizadas pela PBB Editora S.A., seguindo todos os procedimentos éticos que envolvem esse trabalho”, diz nota enviada pela companhia a VEJA.
Marcos Aurélio de Abreu
Também por meio de nota, o sócio majoritário da Playboy se defende da acusação de ter se comportado de maneira inadequada com as coelhinhas, na festa de agosto de 2016. “Não há nenhuma prova contra o executivo, que esteve no evento acompanhado de sua esposa, funcionários e de vários clientes”, diz o texto.
“Reforçamos ainda que o empresário não participa da escolha e contratação de modelos para participação em eventos, nem do casting para os ensaios fotográficos. A seleção é feita por uma equipe própria que segue os princípios de ética e governança que sempre pautaram a carreira do executivo.”