‘Sexy por Acidente’: uma sessão da tarde que tenta ser feminista
Comédia com Amy Schumer faz rir, mas se perde em meio ao próprio mote

Com um olhar de cachorro triste e abandonado, Renee Bennett (interpretada por Amy Schumer) acredita que sua vida é muito difícil. A loira até tem um emprego, boas amigas, roupas descoladas e um apartamento em Nova York, mas se martiriza em uma constante crise de autoimagem. Todos os planos que não se concretizam são redirecionados para o que ela acredita ser o problema: a falta de beleza. O mundo parece corroborar essa ideia. Quando entra em uma loja para fazer compras, a vendedora sugere que a numeração da moça pode ser encontrada na internet. Quando entra em farmácias, bares ou mercados, é preterida pelos atendentes, que dão atenção às mulheres magras e, segundo ela, “indiscutivelmente” bonitas.
Em uma aula de spinning, tudo muda. Ou nem tanto. Renee cai da bicicleta, bate a cabeça e acorda acreditando que tem barriga tanquinho e rosto de modelo. Na realidade, ela continua a mesma de sempre, exceto pela autoestima potencializada. Confiante de si, ela convida um rapaz para sair e conquista a vaga de recepcionista em uma grife de luxo, por onde circulam apenas mulheres com a estrutura física da Gisele Bündchen.
A mensagem de Sexy por Acidente é clara, e a ideia assinada pelos roteiristas e diretores Abby Kohn e Marc Silverstein, de filmes como Nunca Fui Beijada, é interessante. Mas de boas intenções Hollywood está cheia — ou acha que está. O filme faz rir em muitos momentos, porém perde força quando pesa a mão nos excessos de insegurança da protagonista, ou justamente no momento contrário, quando o estereótipo do padrão de beleza ocidental, mesmo que visto só por ela, vira o botão mágico que tudo resolve.
É uma Sessão da Tarde de contornos feministas, que prega o empoderamento acima da aparência física. Apesar de óbvia, a moral da história demora a se firmar, e a atuação de Amy Schumer, conhecida por seu humor ácido na TV americana, fica aquém do esperado. Ganha destaque, quase sem querer, Michelle Williams, na pele da empresária Avery LeClaire. Rica e dentro de todos os estereótipos da beleza, ela mostra que nem só de um rosto bonito se faz a autoconfiança.