Série da Netflix traz futuro trágico de tecnologia e imortalidade
Com ar de ‘Blade Runner’ e estrelada por Joel Kinnaman (‘Robocop’), ‘Altered Carbon’ prevê agravamento de angústias e problemas atuais, como a desigualdade
Com anúncios luminosos, uma atmosfera sombria e um rosto já conhecido do universo da ficção científica à frente do elenco, o sueco Joel Kinnaman, do Robocop de José Padilha e também da série House of Cards, a Netflix pôs no ar, nesta sexta-feira, sua nova série original, Altered Carbon.
Baseada no livro Carbono Alterado, do britânico Richard Morgan, romance vencedor do prêmio Philip K. Dick — a premiação leva o nome do criador de Blade Runner, principal referência da nova série — em 2003, Altered Carbon conduz a um futuro distópico em que a tecnologia garante a imortalidade, mas ao preço de uma abissal desigualdade social. Só os milionários têm recursos para comprar corpos novos, para onde podem migrar sua consciência graças a uma nova tecnologia, o cartucho cortical, quando o atual se degenera.
Embalada por muitas cenas de ação, Altered Carbon sugere que a tecnologia, ao contrário da promessa primeira, pode agravar os problemas da sociedade atual no futuro. A premissa a levou a ser comparada com outra produção futurista da Netflix, a excelente Black Mirror.
Para promover essa discussão, a trama acompanha a história do mercenário Takeshi Kovacs (Kinnaman), que acorda em uma nova “capa” — como eles chamam os próprios corpos — após 250 anos. Takeshi, que antes de cair nesse “sono profundo”, ou no “gelo”, como se diz na história, luta contra a implantação da prática de se transferir a consciência por cartucho e garantir a imortalidade, se vê agora contratado por um dos homens mais ricos da nova sociedade, Laurens Bancroft (James Purefoy), para desvendar o assassinato do próprio aristocrata, cuja consciência sobreviveu graças a um becape de valor bastante salgado. Mas sobreviveu com falhas: há lacunas na memória de Laurens que Takeshi, como um detetive de Patrick Modiano, deve preencher, enquanto se esforça para se adaptar ao novo mundo com que se defronta.
A história ainda se expande ao ganhar nuances com a inserção de questões como o tráfico de mulheres, a desigualdade social e a falta de direitos básicos para uma grande parcela da população.
O preço elevado que se paga para ter um clone do próprio corpo, ou mesmo uma “capa” usada de alguém que já morreu, restringe a imortalidade a poucos cidadãos, que chegam a ser definidos como novos deuses por alguns grupos, e habitam os céus, enquanto os mortais permanecem na superfície, no rés do chão.
Além de Kinnaman, o seriado conta com a mexicana Martha Higareda, que representa uma policial frustrada com a carreira por conta dos grandes esquemas de corrupção da elite. A nepalesa Dichen Lachman e a americana Renee Elise Goldsberry também integram o elenco da série.
Os atores da produção vieram para o Brasil durante a Comic Com Experience 2017, em São Paulo. Confira a entrevista: