Samba na terra da vaneira: o mundo da dança em Porto Alegre
Amadores e profissionais deixam as tradições de lado para se dedicar à dança de salão e encontram uma nova maneira de curtir a cidade
Em vez de bota, sapato. No lugar do vestido de prenda, o vestido longo. Quem acha que gaúcho só dança chamamé e vaneirão está bem enganado. Na capital em que a dança gauchesca é referência, cada vez mais pessoas se entregam aos encantos das danças de salão. O #hellocidades, projeto de Motorola que convida a novas vivências em nossas cidades, lustrou o sapato e foi conversar com quem se entregou ao prazer das danças de salão e descobriu em Porto Alegre um circuito próprio de diversão.
Escolas e projetos especiais com o objetivo de popularizar ritmos como o samba, forró e tango se tornam cada vez mais comuns em Porto Alegre, bem como eventos isolados que reúnem praticantes de estilos diferentes do tradicional. “A gente sai de casa com uma mentalidade diferente do que se fosse a uma festa. A gente sai para dançar mesmo, então a sandália e a roupa são pensadas em termos de maximizar o conforto, para que a gente tenha mais diversão”, conta a biomédica Melissa Oliveira. Mesmo com pouco tempo livre por causa dos estudos, ela faz questão de dançar pelo menos três vezes por semana.
A atividade começou como diversão na época em que Melissa cursava o ensino médio, aos 15 anos. Depois, virou programa em família, quando procurou uma escola de dança junto com os pais. Eles acabaram desistindo da prática, mas Melissa seguiu adiante. Entre seus ritmos favoritos, o samba aparece em primeiro lugar, seguido pelo forró, o tango e o novo west coast swing, um estilo que nasceu nos Estados Unidos por volta das décadas de 1940 e 1950, com grande plasticidade e espaço para a improvisação.
Com o tempo, ela sentiu a própria autoestima aumentar. “Hoje, sinto que a dança é algo que faço bem e que me faz bem. É algo que desperta uma confiança de maneira geral na vida e ainda me diverte”, revela. Esse é apenas um dos estímulos que vêm com a prática regular da dança. “É muito legal, porque te abre para uma nova turma de amigos que passa a estar junto não apenas para dançar. É um ambiente de novas amizades, e passamos a frequentar outros lugares em Porto Alegre”, conta Melissa.
O professor de dança de salão Rafael Pabst concorda. Frequentemente, ele presencia o surgimento de novos círculos de amizade que extrapolam as salas de aula. “Cada aula, cada dança, cada treino, cada movimento feito com o par — e algumas vezes par desconhecido — é uma trava que é aberta, é um ‘desarmar’ da alma. Os bailes se transformam em grandes comemorações e oportunidades de colocar em prática tudo que se aprende”, diz.
Há uma grande integração entre as escolas, que promovem bailes para que os alunos pratiquem e também se divirtam. “Alguns bares da cidade, como o Insano e o Opinião, promovem festas de ritmos de salão. Sempre convido os alunos para irem junto comigo, na própria escola ou em outras”, diz Rafael.
O professor, que é apaixonado por samba de gafieira, bolero e forró, descobriu a aptidão para o salão em um evento para profissionais e estudantes de educação física. “Tive um primeiro contato [com a dança de salão] num congresso com o professor Fernando Campani [renomado profissional da área]. Em 2005, uma colega me chamou para ser par dela em um curso de dança de salão. Lá, o próprio Fernando Campani me convidou para ir até seu estúdio em Porto Alegre para participar de uma audição para fazer parte de sua equipe. Nunca mais larguei”, conta.
No caso de Rafael, dedicar-se à dança de salão foi um desafio a mais. Ele fazia parte do grupo de danças folclóricas do Centro Universitário Metodista – Instituto Porto Alegre, e seu corpo já estava acostumado a outros ritmos e movimentos. Mas a paixão pela novidade falou mais alto. Agora, sua meta é conseguir despertar essa mesma paixão nos outros. “Fazer os alunos vencerem desafios, descobrir o prazer dançando e ao mesmo tempo proporcionar o prazer ao par. Quando consigo isso, a sensação é de dever cumprido”, conta. Por mais que, tecnicamente, o estilo de dança gaúcha e o das danças de salão sejam bem diferentes, há semelhanças que podem atrair os praticantes. “A interação com o par e a música é o objeto de ligação e o mais gostoso da prática”, defende Rafael. Já Melissa destaca o respeito ao local onde se dança como ponto em comum. “Já vi muita gente que começa com as danças tradicionais e se aproxima da dança de salão. Há uma postura de respeito com o lugar e os outros colegas que é semelhante”, diz.
Mesmo que certos estilos de dança de salão tenham movimentos mais sensuais, que fogem do padrão tradicional gaúcho, não há muitos obstáculos culturais. Segundo Rafael, o povo sulista não tem preconceito com os ritmos brasileiros ou caribenhos. De bota ou sapato, o importante é sair para dançar. E, já sabem, quando pisarem no salão, compartilhem as fotos nas redes sociais com as hashtags #hellocidades e #hellopoa. E para conhecer outras experiências possíveis em Porto Alegre e em outras cidades brasileiras, acesse hellomoto.com.br.