Releitura de Monet assinada por Banksy é leiloada por R$ 55 milhões
Versão subversiva das nenúfares do pintor francês impressionista foi vendida pelo dobro do lance previsto em leilão na Inglaterra
A obra Show Me The Monet do artista de rua inglês Banksy, que faz uma releitura das famosas nenúfares impressionistas de Claude Monet, foi vendida por 7,6 milhões de libras esterlinas em leilão na Inglaterra. O valor, que equivale a 55 milhões de reais (na cotação atual), estava antes estimado entre 3,5 e 5 milhões de libras e foi negociado em uma guerra de lances de cerca de nove minutos de duração, segundo a galeria inglesa Sotheby’s.
A releitura é a segunda obra mais cara do misterioso artista — a satírica Devolved Parliament, que representa os membros do parlamento britânico como chimpanzés, foi vendida por quase 9,9 milhões de libras em outubro do ano passado – algo em torno de 72 milhões de reais.
Show Me The Monet remonta o cenário da ponte japonesa sobre um lago com lírios d’água, capturada por Monet em jardins de Giverny, mas o polui com carrinhos de compras e um cone de trânsito. A obra integra uma série de quadros nomeada de Crude Oils, na qual Bansky subverte obras de arte canônicas ao seu próprio estilo crítico, como fez com os girassóis de Van Gogh e os solitários de Edward Hopper.
“Sempre presciente como uma voz de protesto e dissidência social, aqui Banksy destaca o desrespeito da sociedade pelo meio ambiente em favor dos excessos perdulários do consumismo”, diz o diretor de arte contemporânea da galeria britânica, Alex Branczik, na ocasião do anúncio do leilão.
Na quarentena, o artista contemporâneo se reinventou, usando das muitas tensões de 2020 como material para suas produções. Além de compartilhar nas redes sociais uma obra feita no banheiro de casa, homenageou os profissionais de saúde com um desenho doado ao Hospital da Universidade de Southampton, no qual mostra um menino brincando com uma enfermeira vestida de super-heroína, enquanto bonecos de ação do Batman e do Homem-Aranha aguardam no cesto ao lado.
Em meio aos protestos contra o racismo que tomaram os Estados Unidos mais cedo neste ano, postou uma bandeira americana pegando fogo, vista por um rosto negro. Escreveu: “Primeiro pensei que deveria ficar calado e apenas ouvir as pessoas negras sobre esse assunto. Mas por que fazer isso? Não é problema deles. É meu.”
Em setembro, o artista que preza pelo anonimato perdeu, justamente por este motivo, os direitos de sua famosa obra em grafite The Flower Thrower, em que um homem com o rosto parcialmente coberto lança um buquê de flores como se fosse um coquetel molotov. A Justiça afirmou que, se não se sabe a verdadeira identidade do artista, logo, não podia garantir seus direitos autorais.