Regiane Alves: “Toda história de amor vale a pena”
A atriz fala sobre o desafio de viver pela primeira vez uma relação lésbica na novela 'Vai na Fé' — e dos beijos cortados pela Globo

Sua personagem em Vai na Fé, Clara, vivia uma relação abusiva com Theo (Emilio Dantas). Como é dar vida a essa história? A história dela é como a de muitas mulheres de classe média alta que sofrem abusos em casa. A violência acontece em todos os níveis sociais, e muitas não têm coragem de sair desse relacionamento, por motivos financeiros ou dependência emocional. Acredito que a Clara possa ter encorajado muitas mulheres a dar o primeiro passo para a libertação.
Como enxerga essa jornada de superação? Posso dizer que, quanto mais fiéis aos nossos desejos e conscientes do nosso valor, mais teremos armas contra relacionamentos tóxicos. Ser atriz é olhar a vida de outro ponto de vista.
Clara tem causado repercussão ao se descobrir como bissexual na vida adulta, por meio da paixão pela personal trainer Helena (Priscila Sztejnman). Já experimentou algo parecido na vida real? Não, e no início até fiquei um pouco preocupada por não ter essa experiência na minha vida pessoal. Mas, conversando com a Priscila, descobri que ela também não havia tido — o que nos aliviou. Juntas, fomos descobrindo como fazer essa relação acontecer em cena.
O casal ganhou o carinho do público. Por que acha que esse romance conquistou até fã-clubes? O público sempre espera boas e verdadeiras histórias de amor. Acredito que tanto eu quanto a Priscila defendemos a história dessas duas mulheres, que se encontraram em um momento delicado e carente. Toda história de amor vale a pena. As pessoas querem ser representadas, e assim estão sendo.
A edição da novela cortou várias cenas de beijos entre Clara e Helena. A Globo só exibiu após pressão de espectadores nas redes sociais. O que pensa sobre essa postura da emissora? Uma decisão e uma resposta que talvez não me caibam. Talvez a TV Globo possa responder melhor. O que posso falar é: bom que houve um movimento e que de alguma forma aceitaram colocar no ar. Vejo como uma vitória. A cena foi leve, descontraída, pertinente e dentro de uma relação afetiva, feita com muito carinho e respeito.
Vendo o peso da representatividade de Clara, seu olhar sobre a comunidade LGBTQIA+ mudou? Percebi um público que quer ser visto como parte da sociedade, sem preconceitos, sendo aceito. Como atriz, defendendo esse papel, ofereço meu melhor. Meu olhar continua o mesmo: respeito, sempre.
Publicado em VEJA de 12 de julho de 2023, edição nº 2849