Reforma urbana leva Liverpool a perder status de patrimônio da Unesco
Projetos modernos na orla do porto causaram uma "perda irreversível" do "valor universal excepcional" das docas vitorianas, tombadas pelo órgão em 2004

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) anunciou nesta quarta-feira, 21, a saída do porto de Liverpool da lista de Patrimônios Mundiais da Humanidade. Segundo o órgão vinculado à ONU, os modernos projetos desenvolvidos na região causaram uma “perda irreversível” do “valor universal excepcional” de suas docas vitorianas, que renderam à cidade inglesa o cobiçado status em 2004.
A decisão partiu de uma reunião do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, em que treze membros votaram a favor da saída do porto e outros cinco votaram contra. A ameaça da perda do status pairava sobre Liverpool desde 2012, quando a instituição alertou que o desenvolvimento do projeto Liverpool Waters, de 5,5 bilhões de libras esterlinas (quase 40 bilhões de reais), mudaria significativamente o horizonte da cidade e destruiria o valor histórico da orla.
“O projeto, desde então, foi levado adiante, junto a outros desenvolvidos dentro e fora do local”, disse a Unesco em comunicado enviado à imprensa. “O Comitê considera que essas construções são prejudiciais à autenticidade e integridade do porto.” Além do Liverpool Waters, o estádio Everton FC, construído nos arredores, também influenciou na resolução.
A saída da lista é um golpe duro para Liverpool, que, até então, tinha seu porto ao lado de monumentos como Taj Mahal e a Grande Muralha da China. Desde 2004, o lugar ganhou notoriedade por seu papel de grande potência comercial durante o império britânico e pela beleza arquitetônica da orla. Agora, é o terceiro sítio a perder o status de Patrimônio Mundial da Humanidade desde a criação da lista, em 1978. Os outros dois são o Santuário do Órix da Arábia, em Omã, retirado em 2007 por causa da prospecção e busca de petróleo, e o Vale do Rio Elba, na Alemanha, que saiu em 2009 em virtude da construção de uma ponte. “Qualquer exclusão da lista é uma perda para a comunidade internacional e para os valores e compromissos compartilhados internacionalmente sob a Convenção do Patrimônio Mundial”, disse o comitê.
A prefeita da cidade, Joanne Anderson, recebeu a notícia com consternação. Em comunicado em vídeo no Twitter, disse estar “extremamente desapontada e preocupada” e que “é muito difícil compreender como a Unesco prefere ter as docas vazias a um estádio como o Everton”. A prefeitura planeja recorrer da decisão.
https://twitter.com/lpoolcouncil/status/1417781207224442880