Rafael Portugal: “O subúrbio é superação”
Nascido em Realengo, o humorista de 37 anos conta como se equilibra entre comédia, religião e política em seus shows — e fala de sua nova série documental
![HUMOR SEM POLÍTICA - Rafael Portugal: ele evita piadas que possam incomodar seu público -](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2022/10/PROMO-DIA-2-110.jpg.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
Sua nova produção, Coração Suburbano, disponível no Paramount+, traz uma visão otimista das periferias do Brasil, distante da crônica da violência que costuma ser associada a essas áreas. Como surgiu a ideia de fazer um programa mais social e menos humorístico? Eu cresci no subúrbio, em um conjunto de bairros periféricos ali no Rio de Janeiro. Passei minha infância e adolescência em Realengo, onde minha essência artística foi construída: fiz teatro, aprendi a tocar violão, a compor músicas. Então, quis colocar o subúrbio em destaque.
Esse projeto seria uma tentativa de ser levado mais a sério, agora como apresentador? Eu vi que a responsabilidade de apresentar era diferente, pelo desafio de encontrar pessoas e contar suas histórias. E quando você escuta sobre a vida na periferia, é sempre muito difícil, por causa de todos os problemas sociais. Mas o pessoal do subúrbio é pura superação, tem muitas pessoas inteligentes, vida, arte, alegria. O programa não é mais sério, vejo como algo engraçado e emocionante, mas que prova quanto é necessário ter esse olhar mais carinhoso para essa realidade. As pessoas deviam passear e conhecer os lados afastados do centro das capitais.
Jão são doze temporadas do humorístico A Culpa É do Cabral, em que você divide a cena com quatro colegas de outros estados. A que atribui a longevidade? A gente não interpreta: somos nós de verdade ali. São cinco regiões do Brasil bem representadas — e por caras que falam o que pensam sem filtro.
Vídeos seus na internet falam sobre crenças religiosas — considera-se evangélico, certo? Eu não sou mais autodeclarado evangélico, porque o termo é, às vezes, associado à maluquice, infelizmente. Muitos evangélicos têm algumas atitudes que não condizem com aquilo em que eu creio, então prefiro falar que eu acredito em Jesus, naquilo que tem a ver com o Evangelho de Cristo, de fato. Que é o amor ao próximo, doação, respeito mútuo. Não dá para você falar que é evangélico e depredar centro de Candomblé, discriminar alguém por causa de sua orientação sexual. E não tem a ver com porte de arma, definitivamente.
Sente necessidade de se posicionar politicamente? Meu show e tudo o que eu faço na vida são relacionados ao amor. Evito falar de política, pois o show é um momento em que busco dar às pessoas, de direita ou de esquerda, uma chance de esquecer um pouco a loucura que virou o Brasil, com as pessoas se digladiando, brigando e morrendo por causa de política. Sinto prazer em protagonizar um espetáculo em que o público pode esquecer até da pandemia de Covid-19, que tirou tanta gente boa de nós, como o Paulo Gustavo.
Publicado em VEJA de 12 de outubro de 2022, edição nº 2810