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Quino: Lições de humanidade

Pai da personagem Mafalda, o desenhista argentino morreu em Mendoza, sua cidade natal, de causas não reveladas pela família

Por Fábio Altman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 2 out 2020, 06h00

Certa vez, perguntaram ao escritor Julio Cortázar o que ele achava da Mafalda. A resposta: “O que me importa é o que ela acha de mim”. A menina malcriada e muitíssimo esperta, a mais conhecida personagem do desenhista argentino Joaquín Salvador Lavado, o Quino, pôs a humanidade no colo e a levou para um dos mais queridos passeios da cultura popular. E levante a mão quem nunca riu ou chorou — não o riso largo e tampouco o pranto desmedido — com a própria Mafaldita, seu irmãozinho, o Guille, Felipe, Manolito, Susanita, Miguelito e Libertad. E que criança ou adolescente, o jovem adulto ou o idoso, não pensou na menina descabelada quando ouviu uma canção dos Beatles, afastou o prato de sopa (arghh!!) e desafiou os pais com perguntas sem respostas sobre os destinos do mundo?

Mafalda, como nenhum outro personagem dos quadrinhos, nem mesmo o Charlie Brown de Charles Schulz, foi a mais perfeita tradução dos humores e das dores dos anos 1960 e 1970, na luta contra o conservadorismo e o autoritarismo. O segredo de Quino, que escrevia e rabiscava com igual excelência: parecer estar tratando das banalidades de uma família de classe média portenha para abraçar os dilemas da civilização. A primeira tirinha saiu em setembro de 1964 (a menina tenta fazer um desenho, quebra a ponta do lápis e espantada, esbraveja: “Essas coisas só acontecem neste país”). A última é de junho de 1973 (Mafalda diz que está autorizada pelo diretor a dar descanso aos leitores, ao que Manolito pergunta: “E se nos oferecerem suborno?”). Foram 1 928 tiras e um par de livros com coletâneas, lançados em mais de trinta países. “Quando penso que abrirei um jornal e já não encontrarei mais meus desenhos, fico angustiado e sigo trabalhando”, disse Quino há alguns anos. “É como o chefe da estação de trem que se aposenta mas volta todos os dias para ver se os comboios estão passando no horário.” A permanência de Mafalda pode ser facilmente confirmada — basta olhar pela janela, folhear as páginas desta revista. Todos os temas contra os quais se insurgia a garota, há mais de cinquenta anos, continuam aí. Quino tinha 88 anos. Morreu em Mendoza, sua cidade natal, de causas não reveladas pela família.

Publicado em VEJA de 7 de outubro de 2020, edição nº 2707


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