Conheça Judith Lauand, a brasileira que fez história na Arte Concreta
Masp exibe primeira grande mostra exclusiva da artista até abril de 2023

Em maio deste ano, a artista plástica Judith Lauand celebrou a chegada dos 100 anos de idade. A longevidade da brasileira, nome incontornável da arte concreta, lhe garantiu um presente raro: Judith pode testemunhar a abertura da maior mostra exclusiva de sua obra no icônico Museu de Arte de São Paulo (Masp). Batizada de Judith Lauand: Desvio Concreto, a exposição fica em cartaz até 2 de abril de 2023 e ocupa todo o primeiro andar do prédio histórico na Avenida Paulista.
Nascida em Pontal, interior de São Paulo, próximo a Ribeirão Preto, Judith começou a carreira na Escola de Belas Artes de Araraquara. Criativa e experimental, ela logo se envolveu com o abstracionismo que, somado ao seu gosto por geometria, a encaminhou para o início do movimento concretista no Brasil. “Pintei uma natureza-morta. Então eu me levantei e me distanciei da tela para ver o que havia feito. Vi um quadro abstrato”, disse ela sobre a descoberta no início da carreira. Na década de 1950, em São Paulo, ela se tornou a primeira mulher a integrar o Grupo Ruptura – movimento paulistano de arte concreta que mais tarde se fundiu com o Grupo Frente, do Rio, com nomes como Ivan Serpa, Lygia Clark e Hélio Oiticica.

Após 65 anos de sua participação na primeira exposição nacional de arte concreta, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1956, e, no ano seguinte, no Museu de Arte Moderna do Rio, Judith é redescoberta com o empurrão de retrospectivas recentes envolvendo o movimento. No ano passado, Lygia Clark foi tema de uma exposição comemorando seu centenário. Serpa ganhou uma ampla mostra no CCBB, enquanto Oiticica, já célebre no popular museu a céu aberto de Inhotim, protagonizou uma exposição no Masp que reabriu o museu na pandemia, em 2020.
A exposição sobre Judith conta com 124 obras, que trafegam de forma cronológica pelas várias fases da artista. Estão ali o figurativismo e muitas obras de geometria abstrata que formam conjuntos hipnotizantes. Inventiva, a partir dos anos 1960 ela passou a explorar outras técnicas, o que resultou em obras com colagens e a aplicação de materiais variados, caso de grampos e tachinhas. Na última sala da mostra, as técnicas se misturam em obras de influência pop, de colorido marcante em rostos femininos e a interferência de palavras soltas. Uma prova de que, como seus colegas concretistas, Judith não se contentava em ser uma artista só.
