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Quem é o misterioso autor mascarado do Japão que virou best-seller mundial

Escritor conhecido como Uketsu já vendeu mais de 3 milhões de livros

Por Amanda Capuano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 4 Maio 2025, 08h00

Em meados de 2020, o youtuber japonês Uketsu postou em seu canal uma história de mistério de 21 minutos, em que um especialista em ocultismo e um arquiteto tentam descobrir os segredos escondidos em uma casa repleta de cômodos suspeitos. Pouco depois, a figura que aparece sempre com o rosto coberto por uma máscara branca de papel machê transformou a história em livro e virou um dos maiores fenômenos literários no Japão — em 2024, três dos dez títulos mais vendidos no país eram dele. Com 3 milhões de cópias comercializadas em todo o mundo e traduzido para mais de trinta países, Uketsu chega agora ao Brasil: seu primeiro livro, Casas Estranhas, acaba de ser publicado no país, despertando curiosidade sobre o autor inusitado.

AGATHA CHRISTIE - A dama inglesa da ficção criminal usou o codinome Mary Westmacott para explorar outros gêneros no anonimato
AGATHA CHRISTIE – A dama inglesa da ficção criminal usou o codinome Mary Westmacott para explorar outros gêneros no anonimato (Bettmann/Getty Images)

Todo esse interesse é impulsionado por uma incógnita que vai além das páginas: desde a publicação de vídeos quase surrealistas com alimentos que o alçaram ao sucesso no YouTube até ocupar as estantes de leitores vorazes em todo o mundo, o autor nunca revelou sua verdadeira identidade, fazendo de si uma charada por si só. Uketsu é um nome inventado: vem da junção das palavras “buraco” e “chuva” em japonês, duas coisas que ele diz adorar. “Sempre fui fascinado por personagens como o Super-Homem e o Homem-Aranha, que realizam feitos gloriosos escondendo suas identidades”, explicou ele por e-mail a VEJA (leia mais abaixo) sobre a escolha de manter-se no anonimato.

STEPHEN KING - Cinco livros foram lançados pelo mestre do terror como um certo Richard Bachman, mas o pseudônimo foi desmascarado
STEPHEN KING - Cinco livros foram lançados pelo mestre do terror como um certo Richard Bachman, mas o pseudônimo foi desmascarado (Alamy/Fotoarena/.)

Uketsu é o expoente mais recente de uma tradição literária antiga: a dos autores que recorrem a pseudônimos e disfarces para esconder suas identidades — por motivos diversos. Além dele, outra figura atual que se destaca nisso é Elena Ferrante: com mais de 16 milhões de livros vendidos, a autora (ou autor, não se sabe ao certo) italiana desperta teorias desde a publicação de seu primeiro livro, Um Amor Incômodo, em 1992 — a mais embasada delas veio de uma reportagem de 2016 que sustenta que o nome por trás de Ferrante seria o da tradutora italiana Anita Raja. Mas tudo é especulativo: a autora permanece há mais de três décadas tão anônima quanto bem-sucedida, sob o argumento de preservar seu “espaço criativo”.

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Crédito: Reprodução
ELENA FERRANTE – A identidade da autora continua a ser mistério. A maior aposta é que ela seja a tradutora italiana Anita Raja (foto) (//Reprodução)

Com números inquestionáveis, o sucesso de figuras como Uketsu e Ferrante atesta que se manter no anonimato pode ser uma ótima estratégia de marketing, permitindo lucros ostensivos sem o ônus de lidar com a fama. Guardar o segredo com eficácia, no entanto, é um desafio. Escritores hoje famosos já usaram pseudônimos ao longo da carreira, mas acabaram desmascarados. Rei do terror, Stephen King assinou cinco obras como Richard Bachman, entre 1977 e 1984. “Acho que fiz isso para baixar um pouco a pressão, para fazer algo como outra pessoa que não Stephen King”, declarou certa vez, após ser descoberto e “matar” sua identidade secreta. Já Agatha Christie, a dama da literatura criminal, virou Mary Westmacott para se livrar das expectativas carregadas pelo seu nome de batismo e explorar outros gêneros. O disfarce sobreviveu por quase duas décadas e deu origem a seis livros, entre eles Ausência na Primavera, descrito por ela como o único livro que a satisfez por completo em toda a carreira.

CASAS ESTRANHAS, de Uketsu (tradução de Jefferson Teixeira; Intrínseca; 176 páginas; R$ 49,90 e R$ 34,90 em e-book)
CASAS ESTRANHAS, de Uketsu (tradução de Jefferson Teixeira; Intrínseca; 176 páginas; R$ 49,90 e R$ 34,90 em e-book) (//Divulgação)
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No caso de Uketsu, sua identidade real é conhecida hoje por cerca de trinta pessoas. Fascinado por mistérios, ele constrói suas obras a partir de histórias que se conectam à medida que o leitor avança nas páginas. Em Casas Estranhas, um casal prestes a comprar uma residência entra em contato com um escritor fascinado pelo sobrenatural e um arquiteto para entender o que assombra o local. Com uma escrita fácil e enigmática, Uketsu transita por temas como crimes violentos e traumas de infância, geralmente com antagonistas femininas. Fora dos holofotes, ele leva uma vida comum. “Passo muito tempo em casa”, diz. O best-seller mascarado quer sucesso — mas também sossego.

“Algo atrai no desconhecido”

O escritor japonês Uketsu falou a VEJA sobre as vantagens e os desafios de se manter no anonimato.

Vários autores usam pseudônimos para se manter sob sigilo. Quais os benefícios e malefícios? O benefício é ter liberdade na vida cotidiana. O malefício (e isso vai depender da pessoa) decorre do fato de que, quanto mais ocupado você se torna trabalhando sob um pseudônimo, mais se sente culpado por deixar para trás seu verdadeiro eu.

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O mistério em torno de sua identidade ajuda na popularidade? Provavelmente. Um conhecido meu chamado Nashi é escritor de livros de terror. Ele também atua sem revelar sua identidade e ganhou muita popularidade. Talvez algo atraia as pessoas no desconhecido.

Pensa revelar quem realmente é em algum momento? Não penso muito nisso. As pessoas que dizem gostar de Uketsu possuem, cada qual, sua própria imagem ideal de Uketsu. Se eu tirar a máscara, estarei rejeitando muitas delas e talvez isso cause uma desilusão nas pessoas.

Você é muito popular no Japão e está ganhando notoriedade em outros países, como no Brasil. Como vê esse sucesso? Sinto uma enorme gratidão. Nunca fui ao Brasil, mas adoro Ayrton Senna. Gostaria de visitar seu túmulo algum dia.

Publicado em VEJA de 2 de maio de 2025, edição nº 2942

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