Quem é o domador de cavalos que encantou a rainha Elizabeth II
De passagem pelo país para lançar um livro e visitar a Festa do Peão de Barretos, Monty Roberts fala a VEJA
Em 1988, o treinador de cavalos Monty Roberts atendeu o telefone e ouviu de um colega: “Adivinha, rapaz! A rainha da Inglaterra quer conhecer você”. Meses depois, o californiano zarpou para uma estadia de uma semana no Castelo de Windsor, onde iniciaria sua duradoura amizade com Elizabeth II (1926-2022). Na ocasião, ela queria saber mais sobre o método “doma gentil”, elaborado por ele, no qual nenhuma tática violenta é empregada para subjugar o animal. Em troca, a rainha lhe ofereceu dois conselhos sábios: mostre seus ensinamentos ao mundo — e tenha um uniforme.
Monty levou as dicas a sério. Desde então, escreveu a biografia O Homem que Ouve Cavalos, relançada agora por aqui pela Bertrand Brasil, e visitou 41 países em 33 anos. Com exceção da Antártica, todos os continentes possuem treinadores certificados por seu centro de aprendizado. Até hoje, mantém o mesmo uniforme: camisa azul, lenço vermelho, jeans Wrangler e um chapéu bege, visual sugerido pela própria Elizabeth II. “Ela me tocou no ombro e disse: ‘Esta é sua farda’”, contou Roberts a VEJA.
Aos 88, ele se dedica a apresentações esparsas, e acredita que a monarca talvez o observe de “algum lugar lá em cima”. No momento, lembrar dela lhe parece inevitável — o sucesso de sua apresentação na Festa do Peão de Barretos (SP), na semana passada, prova que o esforço para divulgar sua causa pelo mundo vingou: “Dezenas de pessoas vieram a mim contar sobre como as afetei, e finalmente percebi que meus conceitos mudaram o mundo”.
Em seu método, Roberts mimetiza os sinais dos próprios cavalos, animais que observa desde os 4 anos. Assim ele descobriu como a égua pune e parabeniza seus potros, além de segredos do contato visual com os bichos. Sua proposta é se mesclar à manada, não controlá-la. Reflexo da aversão à violência que desenvolveu na infância: antes que completasse 12 anos, o pai abusivo quebrou muitos de seus ossos.
Roberts lembra do estigma que enfrentou no universo viril da montaria. Vinte anos atrás, diz ter sido ameaçado caso voltasse ao Brasil por romper tradições. De cabeça erguida, retornou mesmo assim, e foi celebrado em Barretos, um dos maiores rodeios do mundo. Sobre o futuro, espera ver mais mulheres no meio e mais líderes antiviolência. Mas dispensa a calmaria: “Estou correndo para repassar o que sei a quantas pessoas for possível”. Eis um fenômeno galopante.
Publicado em VEJA de 1º de setembro de 2023, edição nº 2857
*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.