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Preta Gil, sobre a finitude da vida: ‘Quero morrer bem velhinha’

Aos 49 anos, ela trata de um câncer colorretal com otimismo — e explica os percalços do processo, enquanto vislumbra seu futuro

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Amanda Capuano Atualizado em 4 jun 2024, 10h25 - Publicado em 6 out 2023, 06h00

Como tem sido lidar com a saúde mental durante seu tratamento contra o câncer? Apoio psicológico é muito importante, mas não é todo mundo que vai ter acesso a tratamentos adequados com terapias ou medicamentos. Eu demorei muito tempo para tomar algum calmante para ansiedade, mas o fiz com todo apoio de meus psicólogos, psiquiatras, oncologistas e clínico geral.

Foi muito difícil? A gente tem de lidar com a vida, né? Eu lidei, no meio de um tratamento oncológico, com uma separação, com uma traição, uma bomba dentro da bomba. Eu tive esse fator, outras pessoas vão ter outros fatores, como problemas profissionais, financeiros, familiares. Mas cuidar da nossa saúde emocional é fundamental para que o tratamento seja bem-sucedido.

Quando decidiu se separar, sabia da traição? Não sabia. Tem mulheres que não conseguem sair de relações abusivas e muitas são abandonadas no meio de um tratamento. Eu tive força e coragem de me separar para me priorizar, para olhar e falar: “Não vou manter um casamento ruim, não vou ter ao meu lado alguém que não está me tratando bem”.

Acredita que seu diagnóstico provocou o divórcio? A relação já estava ruim antes da doença. Descobri depois que eles — meu ex-marido e minha ex-funcionária — já vinham mantendo uma relação extraconjugal fazia tempo, o que justifica muita coisa que estava ruim no meu casamento. Você sente a pessoa distante, diferente, fria, acha que é uma crise. Depois, tudo faz sentido.

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Até que ponto esse baque afetou seu tratamento? Tive etapas difíceis, de químio, radioterapia, uma cirurgia complicada de histerectomia total. Essa dor toda afeta, é claro. Se eu não focasse em mim, não ia sobreviver a esse estresse todo. Apesar de tudo, sobrevivi.

O que mais lhe deu força durante o tratamento? Eu tenho uma neta de 7 anos que eu quero ver crescer, um filho lindo, o Francisco, uma família maravilhosa, amigos que cuidam de mim. Eu quero envelhecer, viver e produzir muita coisa ainda. Amo a vida, tenho vontade de morrer muito velhinha. Então me apeguei a isso para chegar à cura.

Como ficou sua autoestima ao passar pelo tratamento oncológico? Não é fácil ver a transformação que seu corpo passa nesse processo. E não tem autoestima alta que resista a um diagnóstico de câncer — principalmente, aos efeitos colaterais do tratamento. Eu perdi muito cabelo, mas não precisei raspar a cabeça porque tomei um medicamento menos agressivo, e coloquei aplique para cobrir as falhas. Tenho cicatrizes, mas agora elas são parte da minha história.

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O que projeta para sua vida após o tratamento do câncer? Foco total no Carnaval, em voltar aos palcos e com meu trio elétrico do Bloco da Preta. Acho que até fevereiro já vou estar muito mais fortalecida, porque o processo de cura também tem a ver com reabilitação. Depois de passar por tudo o que eu passei, quero celebrar meu “Carnaval da cura”.

Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2023, edição nº 2862

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