Piadas ruins e cenas asquerosas: onde ‘Baywatch’ conseguiu piorar
O filme, que entra em cartaz agora, tem roteiro bem discrepante da série dos anos 1990, estrelada por Pamela Anderson
Mais de quinze anos depois do fim de Baywatch (S.O.S. Malibu no Brasil), um programa com público fiel enquanto esteve no ar, na TV, um filme inspirado na série poderia ser visto como uma aposta arriscada. A produção teria ao mesmo tempo a missão de trazer frescor para a história e manter uma nostalgia que correspondesse às expectativas dos fãs. O risco se comprovou com Baywatch, o filme, em cartaz desde esta quinta-feira no Brasil. O longa concentra tanta canastrice na equipe de salva-vidas e erra tanto a mão nas piadas que eleva as aventuras vividas na praia a um nível mais trash do que nunca.
Longe de soar como homenagem, o filme parece rir de Baywatch, série que ficou conhecida por suas cenas com garotas em maiô vermelho correndo pela praia em câmera lenta, os seios a balançar, pelos corpos esculturais de Pamela Anderson e de David Hasselhoff, e pela atuação ruim de grande parte do elenco. Apesar de suas fraquezas, a série foi sucesso de público. Ficou no ar por onze temporadas, entre 1989 e 2001, e chegou a ter uma audiência semanal de 1,1 bilhão de pessoas em 148 países, em 44 línguas diferentes.
Por isso, é de se supor que os antigos espectadores devem chiar. As atualizações promovidas pelo filme, em vez de aprimorar, parecem ter deixado Baywatch ainda pior. Confira abaixo cinco mudanças trazidas pelo longa que podem inquietar os fãs nostálgicos.
1. Piadas rasteiras
O filme traz um humor mais adulto para a história. Mas não tome adulto por maduro: as piadas estão mais chulas e obscenas — caso da cena de alguns minutos em que o salva-vidas Roonie fica com a genital presa em uma cadeira de praia. Poucas brincadeirinhas se salvam no meio de tanta bobagem. Um dos poucos pontos altos do filme são os apelidos do personagem Matt Brody (Zac Efron). Por sua postura arrogante e pela pouca idade, Mitch Buchannon (Dwayne Johnson) dá a Matt diversos nomes adolescentes, como “One Direction”, “High School Musical” e “Bieber”, um exemplo de atualização no enredo.
2. Equipe mais enxuta — pero no mucho
Se a série narrava os dramas de diversos personagens, que cuidavam das mais de vinte torres de vigilância da praia de Malibu, e agora, por questão de tempo e espaço, apenas seis ganham espaço na tela. Porém, o que poderia ser uma boa solução para deixar a trama menos superficial tem efeito oposto: o espectador fica sem saber da vida dos salva-vidas e o filme se desenrola lentamente, com pouca história. A equipe está mais enxuta, pero no mucho: em tempos politicamente corretos, a turma dos salva-vidas agora tem um gordinho, Roonie (Jon Bass), que chega lá por pura meritocracia. Roonie prova que tem força de vontade e dedicação para merecer estar entre as antigas estrelas do seriado, os belos David Hasselhoff e Pamela Anderson, escalados para satisfazer os fãs dos anos 1990.
3. As mulheres além do maiô
Os tempos são politicamente corretos e, uma derivação disso, pela igualdade de gênero. Por isso, as mulheres ganham terreno: elas agora protagonizam mais que longas corridas em câmera lenta. A grande marca dessa mudança é a vilã interpretada por Priyanka Chopra, que é dona de um clube próximo à praia. A personagem chega a questionar Brody (Zac Efron) quando ele a chama de “louca”: “Se eu fosse um homem, você me chamaria de obstinado”.
4. Enjoo a bordo
Para completar o clima de “comédia pastelão”, o novo filme investe sem pudor em cenas asquerosas. O personagem de Zac Efron, por exemplo, era um grande nadador que teria vomitado na piscina (eca) durante as Olimpíadas do Rio. Há diversas cenas desnecessárias envolvendo cadáveres em um necrotério e partes de corpos decepadas.
5. Novos ares
A série misturava os drama dos personagens a cenas cômicas e de ação. O filme tenta mesclar os gêneros, mas vira um samba do crioulo doido: a trama começa como uma comédia trash à la American Pie e engata cenas de ação, envolvendo o tráfico de drogas ao estilo de Miami Vice, mas acaba por não desenvolver nenhum dos dois gêneros de a contento. Por isso, a produção corre o risco de não agradar à crítica pelo roteiro perdido, e também os antigos fãs, que não reconhecerão muito do seriado na história.