Papa vai de favela no Rio a congresso americano em documentário
Assinado pelo diretor Wim Wenders, filme exibido no Festival de Cannes acompanha o pontífice e suas ideias pelo mundo
Três indicações ao Oscar, um Urso de Ouro em Berlim e uma Palma de Ouro no Festival de Cannes fazem do alemão Wim Wenders digno do título “cineasta renomado”. Em um passado distante, contudo, o diretor chegou a sonhar em ser padre. Ele mudou de ideia. Mas manteve, ou reacendeu, um respeito pelos ideais religiosos, como mostra o documentário Pope Francis – A Man of His Word (Papa Francisco – Um Homem da Palavra, em tradução livre).
Foram dois anos de filmagem, em que Wenders caminhou ao lado do papa Francisco. O resultado, exibido no Festival de Cannes, é um documentário social e político muito mais que religioso, culpa do próprio personagem principal, único entrevistado da produção.
Ao longo de 1h30, o pontífice conversa diretamente com a plateia e fala sobre o que ele interpreta como a verdadeira mensagem do evangelho: uma vida que não é comandada pelo capital, mas sim pela generosidade, pelo repartir e pelo acolhimento do próximo. Cenas de suas viagens pelo mundo são intercaladas por uma encenação do passado, em que a vida de São Francisco de Assis é usada como base de comparação para as atitudes de seu discípulo do século atual.
Um longo trecho da pregação de Francisco durante visita à favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, ganha destaque no documentário. Especialmente a parte em que ele garante que ninguém fica mais pobre repartindo. “Dá para colocar mais água no feijão”, garante, sorrindo, em português.
Ele passa por outras vizinhanças desfavorecidas pelo mundo, como um acampamento sem-terra na Colômbia, bairros pobres na Argentina e Itália, cidades devastadas por um furacão na Filipinas e alguns países africanos. Um campo de refugiados também está na agenda do sacerdote, que, entre os pobres, leva mensagens de esperança. Quando pisa em lugares mais abastados, como a sede da Organização das Nações Unidas (ONU) e o congresso dos Estados Unidos, seu discurso muda para um tom de pedido e alfinetada, lembrando que o mundo é um só, que todos somos responsáveis, e que aqueles líderes precisam pensar fora dos limites de seus territórios.
O discurso pelo meio ambiente também toma boa parte da produção, assim como questões polêmicas, como pedofilia, homossexualidade e o conflito entre palestinos e israelenses, ou entre cristãos e muçulmanos. Sobre o abuso sexual de menores, ele ressalta que a tolerância é zero, e que a igreja deve levar seus culpados a serem responsabilizados também na Justiça. Sobre homossexualidade, o líder católico pede para que não haja discriminação, mas sim acolhimento. Já as diferenças religiosas e políticas pelo mundo, são criticadas com luva de pelica por Francisco, que transita entre todos os cenários sem parecer um estrangeiro.