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Pablo Neruda: morte do poeta chileno completa 50 anos cercada de mistério

Vencedor do Nobel morreu apenas doze dias após o golpe militar de Pinochet e teve corpo exumado em 2013 — uma investigação complexa e ainda indefinida

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 22 set 2023, 08h00

O início dos anos 1970 parecia antecipar um período de bonanças para o poeta Pablo Neruda. A começar pela vitória de seu amigo Salvador Allende nas eleições para a presidência do Chile – Neruda, aliás, era presidenciável e retirou sua candidatura para apoiar Allende. No ano seguinte, em 1971, como embaixador na França, o autor foi laureado com o cobiçado Nobel de Literatura. A boa fase, porém, não duraria muito. Em 1972, Neruda foi diagnosticado com câncer de próstata, o que lhe afastou da vida pública. Seu pior pesadelo, porém, viria em 11 de setembro de 1973: a notícia de que Augusto Pinochet havia tomado o poder em um golpe militar – e de que Allende havia se suicidado. Doze dias depois, aos 69 anos, Neruda também estaria morto. 

O poeta morreu em 23 de setembro de 1973, data que completa 50 anos neste sábado e ainda causa discussões. A causa oficial da morte é o câncer de próstata. Porém, pessoas próximas de Neruda batiam na tecla de que ele fora envenenado pelo governo de Pinochet. A teoria de tom conspiratório não era sem razão. Além de poeta, Neruda era ativo na política. Foi senador e figura importante do partido comunista na década de 1940 e chegou a viver exilado na Argentina no início dos anos 1950, quando o comunismo foi banido do país. Ao lado de Allende, era o nome mais popular da esquerda chilena quando Pinochet tomou o poder. O caso recentemente voltou à tona e, em 2013, o corpo de Neruda foi exumado — uma investigação que já dura dez anos com resultados intrincados.  

Tudo começou quando um antigo motorista de Neruda revelou em depoimento que o escritor ligou para ele horas antes de morrer, afirmando ter recebido uma injeção suspeita no estômago enquanto dormia no hospital. O caso dividiu a própria família de Neruda. Um de seus parentes mais vocais contra a exumação, o sobrinho-neto Bernardo Reyes afirma que a teoria é absurda, já que naquela época “ainda não havia no país, durante a ditadura, um desenvolvimento de assassinatos com técnicas químicas”. Do outro lado, Rodolfo Reyes, também sobrinho do autor, este ano, chegou a divulgar antes dos encarregados das análises laboratoriais um resultado cravando o assassinato do tio. De fato, os cientistas encontraram na ossada de Neruda uma toxina produzida pela bactéria clostridium botulinum, que causa botulismo. “Encontramos a bala que matou Neruda, estava dentro de seu corpo. Quem a disparou? Em breve vamos descobrir”, disse Reyes. Responsáveis pela análise, porém, não cravaram que a morte tenha sido envenenamento. Um mistério que assombra a história do Chile e da literatura. 

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