Otaviano Costa sobre cirurgia no coração: ‘Tive raiva de mim’
O apresentador de 51 anos foi tomado por um turbilhão de sentimentos ao descobrir que teria de fazer uma operação de alto risco
Em julho, você passou por uma operação que durou oito horas depois de ser diagnosticado com um aneurisma. Como desconfiou de que havia algo errado?
Em 2007, em um exame de ecocardiograma, descobri que eu tinha uma válvula bicúspide no coração no lugar de uma tricúspide. E o risco era gerar um aneurisma no futuro e, por isso, precisava sempre estar me cuidando e fazendo acompanhamento. Mas, com o passar dos anos, comecei a relaxar. Passei muito tempo sem fazer um check-up. Em junho, estava em Buenos Aires viajando com a família e comecei a sentir uma dorzinha embaixo da costela. Daí tive de fazer outro eletro e descobri que meu caso desta vez era cirúrgico.
Qual foi sua reação?
Fiquei muito impactado. Quando entrei no carro, depois de sair do médico, gritei de raiva. Tive raiva de mim por ter negligenciado a minha saúde. Tinha colocado minha vida em risco, mas também a felicidade da minha família.
E como foi contar para a Flávia Alessandra e suas filhas?
Fingi que estava tudo bem porque o aniversário da Flávia era no dia seguinte. Não queria que ela cancelasse a festa. Na minha cabeça, já estava pensando que poderia ser o último aniversário que passaríamos juntos, o que mais queria era celebrar a vida. Só fui dar a notícia depois e ela ficou muito abalada. Minhas filhas e meus pais só foram saber mais tarde, quando a cirurgia já estava confirmada.
Levou cerca de um mês entre o diagnóstico e a operação. Ficou reflexivo nesse período?
Parecia coisa de filme. Era um risco real, mas fui conduzindo a vida com o máximo de positividade e leveza. Tinham noites em que não dormia, ficava pensando no que seria da minha família sem a minha presença. Chorei muito em alguns dias e em outros fiquei feliz. Transbordei emoções. Na semana anterior à cirurgia, me revesti de coragem.
Pensou que fosse morrer?
Parecia que o mundo estava se despedindo de mim. Fazia as coisas como se fosse a última vez. Ficava olhando as meninas deitadas no meu quarto, vendo filme e comendo pipoca… Tudo parecia que não se repetiria. Mas, mais do que pensar sobre a morte, pensei sobre a vida.
Como foram os momentos antes da cirurgia?
Disse ‘eu te amo’ para todo mundo. Abracei minhas filhas e chorei, foi como uma catarse. Cheguei à sala de cirurgia ainda sem anestesia, então vi aquelas luzes, aqueles equipamentos tecnológicos, parecia que eu estava em um laboratório da Nasa. Depois que adormeci, a sensação é de que havia passado 30 segundos, mas foram oito horas de peito aberto na maca. Tiveram de parar meu coração para mexer na aorta. Acordei só no dia seguinte, na UTI, e estava entubado e com os pés e mãos amarrados. Os médicos fazem isso para evitar reações explosivas do paciente, que pode tentar arrancar o tubo. Só conseguia pensar: ‘Eu estou vivo’.
E agora, algo mudou na sua perspectiva sobre a vida?
Quero potencializar tudo o que já existia de mais lindo e entender o que realmente me faz feliz. Ainda estou passando pela reabilitação e quero voltar à vida normal bem devagar. Estou fazendo tudo em um ritmo muito mais sereno agora.